João Paulo Muniz |
Redação SI (12/04/07) – Localizada no município de Caconde, interior de São Paulo, a Fazenda Pork Terra vem ganhando notoriedade nacional pela criatividade – e boa dose de coragem e ousadia – com que seu proprietário, o suinocultor João Paulo Muniz, vem transformado problemas rotineiros de uma granja de suínos em soluções práticas e rentáveis para seu negócio.
Sua experiência foi relatada na manhã desta quinta-feira, no último dia do Seminário de Suínos que acontece na AveSui Regiões. O silêncio incomum que tomou conta do auditório no decorrer de sua apresentação deu mostras do interesse do público por sua experiência à frente da Pork Terra. Simples, falante e com tiradas espirituosas, o suinocultor arrancou gargalhadas dos participantes em vários momentos de sua palestra, fazendo de sua apresentação um dos grandes destaques do seminário.
A história de Muniz é semelhante à da maioria dos suinocultores brasileiros. Dono de uma pequena propriedade, que hoje conta com 200 matrizes em produção, Muniz por muitos anos sofreu com os altos e baixos da atividade suinícola.
Diversificação – Cansado da instabilidade econômica da suinocultura, Muniz foi aos poucos diversificando as atividades de sua propriedade. Além da produção de suínos e das áreas de cultivo de milho e café, praticadas desde a criação da Pork Terra, Muniz investiu na criação de um pequeno frigorífico. Depois de muito estudo, no entanto, Muniz teve uma idéia que lhe pareceu o “caminho definitivo” para a sustentabilidade econômica da Pork Terra: o reaproveitamento dos resíduos de sua propriedade.
Com um investimento de R$ 100 mil para a aquisição de biodigestores e para a construção de uma usina artesanal Muniz passou a aproveitar os dejetos suínos para produzir biogás e biofertilizante e a gordura animal, antes descartada no frigorífico, para produzir biocombustível.
Os resultados do investimento, conta o suinocultor, foram imediatos e surpreendentes. "Os problemas do passado viraram soluções no presente", comemora Muniz. "Com essa opção consegui reduzir significativamente os custos de minha propriedade", completa.
Biogás e "Pork Fuel" – Hoje o biogás obtido a partir do tratamento dos dejetos é utilizado de várias formas na Pork Terra. É usado, por exemplo, para produzir energia elétrica. A produção atual atende a 50% da demanda por energia da propriedade. Muniz também substituiu 100% do gás GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) usado no refeitório e no frigorífico.
O biogás é usado ainda para o aquecimento dos leitões na fase de creche e para a secagem do café. Isso sem contar o biofertilizante, outro subproduto originado do tratamento dos dejetos, que é utilizado como adubo nas lavouras de café e milho. "Isso representa uma economia de 40%, já que hoje misturo o biofertilizante a outros produtos para adubar a lavoura", diz o suinocultor.
A gordura dos suínos, por sua vez, antes um resíduo da industrialização dos animais no abatedouro, é usada para produzir biocombustível, apelidado por Muniz de "pork fuel". Já seu subproduto, a glicerina, transforma-se em sabão e detergente.
Todo o processo de transformação da gordura animal é realizado numa mini-usina montada dentro da propriedade. "Trata-se de uma usina artesanal, bastante simples, composta por três equipamentos; um tacho para a fritura da banha, um transesterificador e uma panela de inox para acabar de apurar o biocombustível", explica Muniz. De acordo com o suinocultor, 1 quilo de gordura, corresponde a 1 litro de biocombustível, meio litro de glicerina e meio litro de sabão ou detergente.
Para atestar a qualidade do biocombustível produzido na Pork Terra e obter autorização para usá-lo em sua frota de veículos, Muniz precisou encomendar um levantamento técnico junto à Agência Nacional de Petróleo (ANP). "O laudo comprovou a qualidade do biocombustível produzido na fazenda, atestando que ele cumpre todas as determinações da ANP", explica Muniz.
Na ponta do lápis – Atualmente a Pork Terra produz, por semana, 400 litros de biocombustível, 40 quilos de glicerina e 100 litros de sabão (líquido ou pastoso). Toda a frota de veículos da propriedade (composta por carros, caminhonetes, tratores e caminhões) é abastecida com o "pork fuel" produzido na própria fazenda. "Não gastamos nem mais um centavo com combustível", comenta Muniz. O sabão e o detergente são usados para a limpeza e desinfecção tanto da granja quanto do abatedouro.
De acordo com o suinocultor, o aproveitamento de todos esses subprodutos, que são usados exclusivamente na propriedade, tem representado à Pork Terra uma economia mensal de R$ 8 mil. "Além de toda essa economia, hoje a Pork Terra é uma propriedade auto-suficiente dentro de um modelo ambientalmente correto e sustentável", afirma.
Muniz faz questão de enfatizar que a experiência da Pork Terra pode servir de exemplo para qualquer suinocultor, independente do tamanho de sua propriedade. "Tenho plena convicção de que essas tecnologias são acessíveis a qualquer produtor", afirma. "Basta que cada projeto seja elaborado de acordo com a realidade e as características de cada propriedade", conclui Muniz.