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Bem-estar animal em foco

<p>Demanda internacional, o atendimento às necessidades e direitos dos animais durante o processo de produção, foi tema de Painel na Conferência Apinco 2005.</p>

Redação AI 06/05/2005 – Embora não seja novo, o bem-estar animal é um assunto de crescente importância no cenário avícola mundial. Não por acaso. É cada vez maior a pressão dos consumidores, sobretudo dos europeus, para a elevação dos níveis e métodos de produção das empresas avícolas. Tudo para assegurar o respeito ao bem estar-animal das aves durante o processo de produção.

O bem-estar animal, a rastreabilidade e a segurança alimentar formam hoje um conjunto indissociável que constitui as necessidades básicas que as empresas do setor devem atender para garantir a segurança e qualidade de seus produtos e a manutenção de sua participação no mercado internacional.

O assunto foi o tema principal do Painel “Pontos Críticos no Manejo que
afetam o Bem-estar Animal” realizado na tarde de ontem (05/05), durante o segundo dia da Conferência Apinco, que está acontecendo em Santos (SP). Na primeira palestra, Irenilza de Alencar Naas, professora da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, falou sobre a realidade brasileira e dos desafios impostos por essa nova demanda internacional.

Segundo ela, o aumento da competitividade entre as empresas avícolas mundiais, verificada nos últimos anos, tornou a questão do bem-estar uma demanda real no mercado internacional de carne de frango. “O bem-estar animal é uma barreira fácil de ser criada e seu não atendimento pode representar a perda de espaço no mercado internacional”, afirma. “Diante de tal realidade é fundamental que as empresas avícolas brasileiras se adeqüem rapidamente a essa exigência”, completa Naas.

A pesquisadora procurou enfocar em sua apresentação os aspectos técnicos do assunto, analisando se a estrutura atual das granjas brasileiras (instalações, equipamentos, manejo) atende as exigências de bem-estar animal.

Segundo Irenilza, são vários os agentes causadores dos problemas de bem-estar das aves. Dentre eles estão: os físicos (temperatura, umidade, ruídos, exposição à poeira), os químicos (gases tóxicos e odores, qualidade da água de bebida) e os de manejo (debicagem).

De acordo a pesquisadora, a avicultura brasileira atende de forma
satisfatória as exigências de bem-estar animal preconizadas pelos países desenvolvidos. No entanto, encontrar medidas efetivas para se garantir o bem-estar das aves, além de medidas de produtividade continua a ser um grande desafio. “No Brasil, o fato da grande maioria dos frangos produzidos serem alojados em galpões predominantemente abertos resulta em grande vantagem nas questões de qualidade de ar, embora haja algumas restrições quanto ás temperaturas ideais”, avalia.

De maneira geral, argumenta Ns, o alojamento de frangos de corte no Brasil são melhores do que aqueles utilizados em países de clima temperado e frio, sob o ponto de vista do bem-estar animal, considerando principalmente as nuances de ambiência aérea, tanto no condizente a presença de poeira, como nos valores de amônia. “Resta encontrar uma forma eficiente de registrar e padronizar essas informações em favor da avicultura brasileira”, concluiu.

O que as empresas estão fazendo

Na segunda palestra do Painel, Jéferson Alberto Prestes, Coordenador do Programa de Bem-Estar animal e HACCP da Perdigão S.A., falou sobre a importância da adoção de um programa de bem-estar animal para as empresas do setor.

De acordo com Prestes, proporcionar uma ambiência, nutrição e manejo adequados sempre foram requisitos adotados pelas empresas do setor para garantir a viabilidade econômica da avicultura. Além da performance, no entanto, as empresas avícolas têm dedicado atenção especial à questão do bem-estar animal e introduzido em suas rotinas de trabalho conceitos baseados em princípios culturais de países para os quais sua produção é destinada. “Programas de bem-estar animal têm sido implementados com o objetivo de identificar, corrigir e implementar os principais pontos a serem atendidos, além de conscientizar os envolvidos na atividade sobre a importância e os benefícios deste tema”, diz.

Para um grande exportador como o Brasil, argumenta, não basta apenas atender as necessidades e direitos das aves, a avicultura brasileira tem também que estar apta a cumprir regras que atendam aspectos culturais e éticos dos próprios consumidores.

Segundo ele, as empresas brasileiras que exportam para a Europa têm sido instigadas a elaborar programas de bem-estar animal que contemplem exigências de auditorias de clientes. “Esses programas devem estar inseridos nas rotinas dos sistemas de produção e atender os requisitos legais da Comunidade Européia ou códigos de prática de clientes, que muitas vezes são mais rigorosos que a própria legislação”, explica.

Adotando um programa

A implementação de um programa de bem-estar animal, explica o especialista, é uma tarefa minuciosa e que precisa da adesão de todos os envolvidos. Prestes enfatizou a importância da realização de um trabalho de conscientização a respeito dos itens que englobam o programa durante seu processo de implementação. “Isso é fundamental para o sucesso de trabalho. O ponto de partida deve ser a valorização de programa como uma ferramenta técnica de geração de resultados”, diz.

Segundo ele, no início do trabalho é importante “clarear” os objetivos do programa a todos os componentes da empresa, evitando que surjam comentários pejorativos vinculados a pouca familiaridade das pessoas com o conceito de bem-estar animal. “Outro ponto fundamental é o apoio da administração da empresa. Esse apoio deve ser explícito e reforçar o caráter de importância do programa na conquista de mercados consumidores”.

A nomeação de um coordenador geral para o programa, avalia, é outra medida que facilita a estruturação das ações que devem ser implementadas. “O tempo costuma ser uma das dificuldades a serem enfrentadas. Para que um programa se estruture é necessário que haja um período de maturação e adaptação interna de conceitos”, afirma.

De acordo com Prestes, a questão do bem-estar animal é uma demanda dos consumidores e uma exigência irreversível. “Precisamos entender o consumidor.

Eles querem cada vez mais saber como o alimento foi produzido”, diz. “A questão do bem-estar animal pode parecer moda, mas é uma tendência de mercado totalmente consolidada na Europa”. Portanto, avalia o especialista, há a necessidade das empresas adaptarem seus sistemas de produção às novas tendências que surgem sobre o tema, e que muitas vezes são baseados em aspectos culturais dos consumidores para onde a produção de cada empresa é destinada.