Da Redação 05/12/2005 – A Bunge Fertilizantes, divisão que responde por um terço do faturamento da Bunge Brasil, concluirá nos próximos dias o fechamento de sete de suas 35 unidades misturadoras de adubos espalhadas pelo país. A medida, que segundo a empresa foi determinada pela conjuntura adversa para o agronegócio no país em 2005 e pelas perspectivas ainda sombrias para 2006, faz parte de um pacote de redução de custos que inclui o corte de cerca de 400 colaboradores – ou 10% do quadro de pessoal da divisão -, já iniciado na semana passada.
“Adiamos o quanto pudemos a decisão, mas não tivemos escolha. Este ano foi muito difícil e não há sinais de mudança no horizonte”, afirmou Mário A. Barbosa Neto, diretor presidente da Bunge Fertilizantes. Segundo ele, em princípio as unidades que serão fechadas não serão vendidas ou arrendadas e poderão até ser reativadas no futuro, dependendo das condições do mercado. “Mas certamente isso não acontecerá em 2006”, lamentou. Barbosa reiterou que, apesar das condições macroeconômicas adversas para grande parte das áreas dos agronegócios, a empresa continua acreditando no Brasil.
A divisão da Bunge (multinacional com sede nos Estados Unidos) é a maior misturadora de adubos do país, com participação nas vendas finais da ordem de 30%, conforme Barbosa. Além disso tem produção própria de matérias-primas e é a principal acionista da holding Fertifos, que controla a Fosfertil – esta a maior fabricante de matérias-primas para a produção de fertilizantes do Brasil. Ou seja, trata-se da companhia com maior poder de fogo do mercado, com faturamento anual de US$ 2,5 bilhões.
“Só a queda do dólar em relação ao real já reduzirá nossa receita em moeda brasileira em 25% neste ano”. Além disso, afirmou, a queda do volume de vendas da companhia está acompanhando a retração do mercado em 2005, que será superior a 15% na comparação com o ano passado. Segundo Barbosa, que preside a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as entregas das misturadoras às revendas deverá somar 19,5 milhões de toneladas neste ano, ante quase 23 milhões em 2004.
Tal diminuição, por sua vez, reflete sobretudo a crise de liquidez dos grãos, desenhada desde o ano passado pela combinação entre aumento de custos – inclusive de fertilizantes, que têm preços fixados no mercado internacional e dependem de derivados de petróleo-, quebra de safra, queda de preços e câmbio desfavorável. O coquetel levará à redução da área plantada e dos investimentos em tecnologia nesta safra 2005/06, como já comprovam as primeiras estimativas oficiais e privadas.
De quebra, a conjuntura adversa ressaltou vantagens comparativas argentinas como câmbio, logística e impostos e afastou do Brasil investimentos em processamento de grãos de agroindústrias como a própria Bunge, Cargill e outras. Muitas optaram por fechar temporariamente esmagadoras em alguns Estados ao longo do ano. “O governo federal não está fazendo a sua parte. Para os produtores, não há crédito agrícola e o seguro rural é incipiente. Na crise, é preciso uma intervenção maior e melhor”, disse.
Além do fechamento das sete unidades e das demissões, a Bunge Fertilizantes está implantando um programa que prevê a redução de R$ 50 milhões em seus gastos fixos e de R$ 40 milhões em gastos variáveis. No financiamento ao produtor por meio do adiantamento da entrega de insumos, a empresa também será mais rigorosa e cautelosa. De acordo com Barbosa, a múlti costuma reservar cerca de 15% de sua produção para “financiar” produtores. Apesar do maior rigor, o percentual tende a ser mantido. Outra ferramenta comumente usada pelas companhias para tentar garantir vendas em anos ruins é o prazo de pagamento.
Os investimentos da ordem de US$ 250 milhões em curso na ampliação da produção de matéria-primas em Araxá (MG) e Cajati (SP) serão mantidos, conforme Mário Barbosa. Nesta seara, o presidente da Fosfertil, Francisco Gros, reiterou na semana passada que um plano de expansão de US$ 600 milhões da fabricante de matérias-primas está sendo adiado justamente pelas medidas macroeconômicas em vigor, principalmente a manutenção do real apreciado em relação ao dólar.
A Bunge Fertilizantes cresceu e se fortaleceu no Brasil por meio da aquisição de empresas donas de marcas tradicionais como Fertisul, IAP, Ouro Verde e Manah.