Redação (28/06/06)- O holandês Jankees van der Wild, de 43 anos, assume a partir de 1 de julho um dos cargos mais cobiçados e problemáticos do agronegócio brasileiro: a vice-presidência de agribusiness da Bunge Alimentos. Sua missão será a de promover uma reviravolta na debilitada operação de soja, que vem sendo apontada como uma das responsáveis pelo anúncio, feito ontem, de que os lucros da matriz Bunge Ltd. neste ano serão 14% menores que o inicialmente projetado. O Brasil, que representa quase 50% do lucro operacional da empresa no mundo, está no centro do furacão. “Fomos lentos para nos ajustar à valorização do real”, admitiu o brasileiro Alberto Weisser, CEO da Bunge Ltd. “Tínhamos estoques elevados de fertilizantes e hedge inadequado durante um certo período do ano, e não reduzimos a capacidade de esmagamento de soja rápido o suficiente”, afirmou ele num comunicado distribuído ao mercado.
Os papéis da empresa, cotados na Bolsa de Nova York, caíram 6,6% ontem, o maior percentual de queda desde 2003. As credenciais de Van der Wild indicam que ele é talhado para o cargo. Até o final do ano passado, ele era o responsável pela área de soja da rival Archer Daniels Midland (ADM) no mundo. Sem falar português, ele já está freqüentando informalmente algumas reuniões no Brasil. “A chegada de van der Wild é produto é uma reestruturação aprovada no final do ano passado pela Bunge e que criou o cargo de vice-presidente até então inexistente. Estamos confiantes de que ele nos ajudará a superar o período difícil que vive o agronegócio”, afirmou Adalgiso Telles, diretor de comunicação corporativa da Bunge no País.
Telles ressalta que a reestruturação, que resultou na criação de duas vice-presidências na Bunge Alimentos no final do ano passado, é uma forma de “tornar a empresa mais ágil e eficiente” em razão dos resultados do ano passado, que já foram considerados fracos. “Reduzimos e consolidamos áreas a fim de rentabilizar a operação”, afirmou. Na soja, o desafio é o de driblar a valorização do real frente ao dólar, que está espremendo as margens de lucro no esmagamento.
Segundo fontes do setor, outro obstáculo a ser vencido é o da chamada originação, ou seja, a compra de soja, que no passado sofreu com o calote de agricultores. No mundo, o lucro da empresa deve ficar entre US$ 425 milhões e US$ 445 milhões neste ano, desempenho 14% inferior à estimativa inicial de US$ 495 milhões a US$ 515 milhões. Em 2005, a empresa lucrou US$ 530 milhões. A reestruturação que a empresa promoveu nos últimos meses em busca de melhores resultados tem números assustadores. Somente no Brasil, foram cortados 3 mil funcionários diretos e indiretos e fechadas 4 esmagadoras de soja, uma esmagadora de caroço de algodão e 7 fábricas de fertilizantes.
Embora Telles mantenha o otimismo e a esperança no agronegócio brasileiro no longo prazo, no curto prazo o cenário é nebuloso. Os agricultores ameaçam reduzir em 10% a área com grãos. A área deve ser menor e o uso de tecnologia também, o que afeta duplamente o horizonte de vendas de fertilizantes.