Da Redação 19/08/2004 – Em fase final de comercialização de uma conturbada safra 2003/04 de soja, a Cargill acelera seu planejamento para recuperar, nesta temporada 2004/05, a rentabilidade que transformou os negócios com o produto em um dos pontos mais fortes da economia brasileira nos últimos anos.
Simbolizou a partida da multinacional americana ao novo ciclo a inauguração, na segunda-feira, de sua sexta unidade de processamento do grão no Brasil. Localizada em Rio Verde (GO), a fábrica absorveu R$ 65 milhões e marcou o fortalecimento da operação do grupo no Centro-Oeste, principal região produtora de soja do país.
E Rio Verde já é alvo de novos investimentos, um sinal de que aquelas paragens do cerrado são prioritárias para o avanço da Cargill, que em 2003, de acordo com o Valor 1000, registrou receita líquida total de R$ 8,6 bilhões no Brasil.
Segundo José Luiz Glaser, diretor do Complexo Soja da empresa, a unidade goiana foi projetada para alcançar, com pequeno investimento adicional, o dobro de sua capacidade inaugural de processamento, de 1,5 mil toneladas por dia. Essa ampliação, de acordo com ele, será realizada assim que houver demanda para tal.
Com a inauguração de segunda-feira, a capacidade total de processamento da Cargill saltou para 12,5 mil toneladas por dia. As cinco unidades que já existiam estão situadas em Uberlândia (MG), Ponta Grossa (PR), Mairinque (SP), Barreiras (BA) e Três Lagoas (MS).
Outros R$ 45 milhões serão aplicados em Rio Verde na construção de uma refinaria para a produção de óleo Lisa, que deverá estar pronta em fevereiro de 2005. A planta deve partir com capacidade diária para 300 toneladas de óleo, para depois chegar a 500 toneladas.
Na lista de prioridades da Cargill também está a área de armazenagem, que recebe investimento total de R$ 50 milhões em cinco instalações. Mais uma vez, com destaque para o Centro-Oeste.
Em Sapezal (MT), a capacidade estática está sendo ampliada de 60 mil para 120 mil toneladas; em Caravaggio (MT), será erguida uma nova unidade para 60 mil toneladas; em Canarana (MT), há outro projeto para 60 mil toneladas; em Campos Lindos (TO), está prevista uma expansão de 30 mil para 60 mil toneladas; e em Alto Araguaia (MT) um novo silo está em curso.
Apesar dos investimentos, Glaser diz que a expansão da capacidade de armazenagem da Cargill está sendo limitada pelos gargalos logísticos que insistem em dificultar o avanço dos agronegócios brasileiros, conforme recorrentemente destaca o próprio ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
“Costumávamos construir de dez a 12 novos armazéns por safra, mas, com o gargalo logístico, é impossível manter o mesmo ritmo. Pelo menos a ””ficha caiu”” e há projetos em curso no país, tocados por governo e iniciativa privada. Mas é preciso acelerar, principalmente na infra-estrutura viária. Em consequência desses gargalos, temos um projeto de construção de uma fábrica no Mato Grosso que continua engavetado”, ressalta Glaser. A Cargill conta atualmente no país com cerca de 130 armazéns.
O executivo informa, ainda, que a Cargill está negociando a compra de 80 vagões para transporte ferroviário via Ferronorte, além de estar recuperando outros 150 vagões. E Glaser destaca a recente inauguração de um terminal de granéis líquidos no Guarujá (SP), em parceria com a Crystalsev, que também movimenta óleo vegetal. “E temos outros projetos para portos, previstos para 2006”, adianta.
Nesta área, entretanto, ainda há uma disputa judicial envolvendo o terminal da empresa em Santarém (PA). Já foram movimentadas cerca de 600 mil toneladas pelo porto em 2003/04 – 450 mil toneladas de soja e 150 mil de milho -, mas a “briga” em torno de licenciamento ambiental, conforme o diretor, segura novos investimentos nesta saída considerada estratégica.
Todos os planos da Cargill têm por meta recuperar a rentabilidade, que em 2003/04 atingiu o menor índice das últimas três safras.
Em função da quebra da produção de soja – das até 60 milhões de toneladas previstas para 50 milhões -, em virtude das chuvas no Centro-Oeste e da estiagem no Sul , e dos problemas provocados pela doença conhecida como ferrugem asiática, a captação de soja da múlti no país deve, no máximo, repetir as 8,5 milhões de toneladas de 2002/03. E seu faturamento na área de soja deve permanecer em torno dos R$ 2,5 bilhões.
Para 2004/05, os rumos dependerão da safra brasileira do grão – que deverá superar 60 milhões de toneladas -, das cotações internacionais do produto, – hoje sob pressão – e dos avanços logísticos. Mas, com os investimentos que estão sendo realizados, Glaser espera uma temporada melhor.