Da Redação 31/05/2005 – A multinacional americana Cargill suspenderá por um mês, a partir de amanhã, as operações de sua fábrica processadora de soja localizada em Mairinque, no interior paulista. A suspensão das atividades da unidade, que tem capacidade para 2,2 mil toneladas do grão por dia, reduzirá temporariamente a capacidade total de esmagamento da empresa no Brasil para cerca de 10 mil toneladas diárias, em cinco outras unidades – Rio Verde (GO), Três Lagoas (MS), Uberlândia (MG), Ponta Grossa (PR) e Barreiras (BA).
Conforme José Luiz Glaser, diretor do Complexo Soja da companhia, a paralisação de Mairinque decorre da combinação entre a quebra da safra de grãos na região Sul, devido à prolongada estiagem, do ritmo mais lento de comercialização, em virtude da menor oferta e dos preços internacionais menos atraentes que no ano passado, e da apreciação do real em relação ao dólar americano. Caso o cenário continue adverso, a suspensão de Mairinque poderá ser estendida, mas essa decisão só será tomada depois dos 30 dias iniciais. Não há planos de parar outras fábricas.
No fim da temporada passada (2003/04), a Cargill também decidiu paralisar as operações da unidade paulista. Mas, tendo em vista a truncada comercialização na fase final da safra, na ocasião foram igualmente suspensas as atividades das unidades de Ponta Grossa e Barreiras. “O esmagamento está grande para a demanda atual, e os custos das fábricas subiram. Foi o caso da energia elétrica, por exemplo”, afirmou Glaser ao Valor.
Especialistas observaram que muitos produtores se financiaram em moeda brasileira nesta safra – como nas anteriores -, mas que o câmbio desta feita não colaborou para o êxito da estratégia. Enquanto isso, na Argentina, o câmbio mais favorável estimula as vendas inclusive de farelo e de óleo de soja, o que fortalece a posição do vizinho como balizador dos preços desses derivados no momento. “A margem de esmagamento no Brasil, atualmente, está próxima a zero, o que justifica a paralisação de Mairinque”, afirmou Glaser.
Na Argentina, a Cargill já tem três unidades de processamento, com capacidade total de cerca de 18 mil toneladas por dia, e está construindo uma quarta fábrica, esta para 12 mil toneladas – mesmo patamar da capacidade total que a empresa mantém no Brasil. Vale ressaltar, entretanto, que o avanço acelerado da multinacional americana em processamento de soja na Argentina não acontece em razão da conjunção adversa atual, mas, principalmente, das vantagens tributárias para o esmagamento no vizinho em relação ao sistema brasileiro, e mesmo das qualidades logísticas naquele país. “No Brasil, todo o modelo privilegia o grão”, constatou o executivo. Números da indústria comprovam que o crescimento da produção brasileira de soja em grão tem sido mais acelerado do que o aumento da oferta de farelo e óleo.
Apesar das dificuldades mercadológicas, nesta safra 2004/05, de acordo com José Luiz Glaser, a Cargill deverá exportar cerca de 5 milhões de toneladas de soja brasileira. Na temporada 2003/04, foram 4,2 milhões de toneladas.