Redação (07/08/2008) – Em meio às restrições de crédito que assombram a safra de soja 2008/09, a multinacional americana Cargill garante que vai ofertar 10% mais recursos este ano aos produtores que no ciclo passado. José Luiz Glaser, diretor do complexo soja para o Brasil, reconhece que o incremento não acompanha a necessidade de financiamento, que aumentou pelo menos, 30%, com a alta dos custos de produção. Mas, avalia que o agricultor terá condições de plantar. "É preciso que o produtor coloque capital próprio e faça um mix com recursos do governo, das indústrias de defensivos e de adubos e das tradings".
Ele explica que a captação de recursos externos está mais difícil com a crise dos subprime nos Estados Unidos e, por isso, a empresa avaliou que estava disposta a correr riscos para aumentar apenas 10% dos recursos, no caso do Brasil. Mas, isso não significa, segundo Glaser, que haverá uma queda de market share, uma vez que a soja está mais valorizada e os custos, mais altos. No ano passado, a Cargill movimentou no País 9 milhões de toneladas de soja (15% da safra) e 1 milhão de toneladas de milho (1,9% da colheita).
"O produtor está mais capitalizado. Tem todas as condições para plantar, apesar de sabermos que existem alguns que têm condição diferente por terem vendido a valor baixo a safra passada", pondera. Segundo ele, todos os que já operavam com a Cargill estão sendo atendidos – a empresa não está buscando novos fornecedores. "Não estamos buscando produtores que vendiam para o concorrente ou que estão sem alternativa por causa do problema ocorrido com algumas tradings, como a Sementes Selecta e a Agrenco. Nossa prioridade são os que já estavam na nossa carteira".
Até agora, a Cargill financiou menos da metade do que havia emprestado em agosto do ano passado. O que ocorreu, segundo Glaser, foi falta de interesse dos produtores. "Quando a soja estava cotada em Chicago entre US$ 15 e US$ 16 o bushel, o sojicultor não queria fixar porque achava que ia subir ainda mais. Para nós tradings era interessante, pois naquele patamar de preço era menor a chance de mais valorização e envio de recursos para cobrir margens em bolsa.
A combinação de alta volatilidade da soja com subida dos custos de produção vai trazer apenas um pequeno aumento no plantio deste ano, na avaliação do executivo. "Acredito em crescimento entre 1,5% e 3%". Segundo ele, os fortes recuos da soja nas últimas semanas indica o início daquele momento já conhecido do ciclo de commodities, quando os preços muito altos retraem o consumo. "O que o pessoal não pensa muito é que quando os preços estão muito altos, há recuo na demanda. Veja o que aconteceu com o petróleo. Já há relatórios nos Estados Unidos que mostram que a demanda está 30% menor", cita. A tendência do mercado, agora, segundo ele, é fazer o movimento inverso, com recuo de oferta para retomar o consumo anterior. Ninguém arrisca dizer se e quanto mais o preço da soja vai cair, o que dependerá da condição da oferta do grão daqui em diante, ou seja, do andamento da safra americana e da produção da América do Sul, sobretudo do Brasil e da Argentina. "Se as colheitas nos Estados Unidos e sul-americana forem boas, o preço vai cair". Somando-se todas as áreas de atuação (com exceção da de nutrição animal), a Cargill teve em 2007 faturamento líquido no Brasil de R$ 12,6 milhões.