Redação (24/09/07) – "Sempre que visito um cliente, pego sua colheitadeira e passeio pelas lavoura", confidencia Charles Holliday Junior – mais conhecido como Chad – , presidente e principal executivo (CEO) da DuPont, multinacional com sede em Wilmington (EUA).
Nascido em Nashville, Estado americano do Tennessee, Holliday começou a trabalhar aos 12 anos, ajudando o pai a vender empilhadeiras. Passava as férias em fazendas e sítios de familiares no Meio-Oeste dos EUA. "Gostava de trabalhar nas lavouras. Já plantei e colhi muito milho e soja", lembra.
Ele foi para a DuPont em 1970, aos 22 anos, como engenheiro industrial na unidade da empresa no Tennessee. Passou por dezenas de cargos até assumir, em 1997, a presidência global. E, para quem o conhece e acompanha os passos da multinacional, sua ligação com o campo foi crucial para acelerar e sedimentar a política de redirecionamento de negócios adotada pela DuPont nos últimos dez anos.
Política esta que foi alvo de críticas de investidores americanos por muitos anos. Entre 1997 e 2004, a companhia desfez-se de vários negócios petroquímicos, casos das vendas de Conoco e Consol, e não aproveitou, dessa forma, a explosão de preços e lucros no segmento no início dessa década. Em contrapartida, realizou aquisições nas áreas agrícola – Pioneer e Solae, entre outras -, eletroeletrônica e de materiais de alta performance.
Entre compras e vendas, a DuPont movimentou o equivalente a US$ 60 bilhões em sete anos, mas o lucro permaneceu estacionado em torno de US$ 4 bilhões por ano. Mas, segundo Holliday, agora a desconfiança dos investidores começou a cair por terra, dada a elevada rentabilidade obtida por uma série de produtos lançados a partir de 2000 na novas frente prioritária de negócios. "Hoje nosso crescimento em determinados mercados é muito maior do que antes". O executivo informa que o retorno dos investimentos (a múlti injeta US$ 1,4 bilhão em pesquisa e desenvolvimento por ano) tem alcançado 13% ao ano, taxa que considera suficiente para aplacar a ansiedade dos investidores.
Holliday destaca que, em 2006, as vendas de produtos lançados nos últimos cinco anos pela DuPont cresceram, em média, 34%, sendo que entre produtos da divisão de agricultura e nutrição o aumento foi ainda maior, da ordem de 44%. No ano passado, a empresa viu sua receita global subir 2,9%, para US$ 27,421 bilhões, e seu lucro líquido saltar 53,11%, para US$ 3,148 bilhões. Para 2007, a companhia projeta um retorno sobre os investimentos de cerca de 12%.
Nesse cenário, o segmento agrícola, que já representa 12% das vendas mundiais da múlti – foram US$ 6 bilhões em 2006 – tornou-se ainda mais estratégico. Até 2010, a DuPont deve lançar no mercado defensivos para soja e milho, além de variedades transgênicas de milho resistentes a doenças e tolerantes à seca. Tudo para dobrar o faturamento da divisão nos próximos dez anos.
Na sexta-feira, a múlti lançou mundialmente uma soja melhorada geneticamente que, segundo os pesquisadores que a desenvolveram, tem produtividade 12% superior a de outras variedades disponíveis no mercado. No Brasil, frente vital para a divisão agrícola do grupo, a meta é obter logo a aprovação para a comercialização de uma variedade de milho transgênico mais resistente à seca, segundo Daniel Glat, diretor regional da Pioneer para América Latina, África e Ásia. Para países asiáticos, a meta é elevar as vendas de produtos para as lavouras de arroz.
"Existe uma oportunidade de negócios de US$ 4 bilhões por ano para os produtos que vamos lançar até 2010", diz Erik Fyrwald, vice-presidente da divisão de agricultura e nutrição da DuPont. Ellen Kullman, vice-presidente executiva da companhia, nota que, em 2006, as vendas gerais da empresa cresceram 29% na Europa, 13% na América Latina, 11% na Ásia, 6% na China e 41% os EUA. O objetivo, agora, é acelerar o avanço nos mercados emergentes e manter o ritmo de crescimento nos Estados Unidos.
Para isso, diz a executiva, há pela frente um duro trabalho que passa por uma ofensiva em agroenergia, que já tem motivado o aquecimento da demanda por produtos para milho e soja, por exemplo. A empresa já mantém parceria com a britânica BP nessa frente e deve colocar no mercado do Reino Unido, ainda este ano, um novo biobutanol produzido a partir do milho.
Pesquisas nos EUA com o etanol de milho também caminham a passos largos. Também na sexta a empresa anunciou uma parceria de US$ 1 bilhão com a New Century Farm, da Universidade do Estado de Iowa, para a instalação de uma primeira planta-piloto de etanol celulósico produzido a partir da palha do milho. A unidade deve entrar em operação em 2008.
Satisfeito com o retorno das novas apostas, Chad Holliday sorri diante das perspectivas. "A agricultura é um negócio arriscado, que pode trazer perdas e ganhos. Mas tenho um grande carinho pela área. É empolgante".