Redação SI (27/04/2007) – Sem profissionalizar sua relação com o mercado e ajustar seus produtos aos padrões de exigência do consumidor atual dificilmente o setor suinícola conseguirá ampliar sua participação no mercado interno brasileiro.
Essa foi uma das conclusões a que puderam chegar os participantes do 12º SNDS, após a apresentação de Alberto Serrentino, consultor e internacional e sócio sênior da Gouvêa de Souza & MD.
Serrentino foi o palestrante do painel “Exigências dos consumidores brasileiros: como se comporta esse nossos desconhecido”, realizado na manhã de ontem (26/03) durante o evento promovido pela ABCS e Acrismat.
Em sua apresentação, o especialista falou sobre as mudanças no comportamento dos consumidores, sobre a nova dinâmica do varejo e como esse movimento tem influenciado o relacionamentos das pessoas com produtos, marcas e lojas de distribuição.
O painel contou com intensa participação do público e foi especialmente oportuno para os suinocultores presentes. Afinal, o setor produtivo suinícola sempre manteve-se alheio às questões de comercialização. Preocupado em produzir bem, os suinocultores acabaram relegando a segundo plano sua relação com o mercado.
O poder do consumidor – De acordo com Serrentino, nunca, em tempo algum, o consumidor teve tanto poder de decisão na hora da compra como nos dias de hoje. A globalização da economia, o acirramento da competição, a evolução da tecnologia da informação e da internet, a segmentação de mercado e o aumento do número de opções levou-nos a viver hoje o que se convencionou chamar de “a era do consumidor”.
“O poder migrou de vez para as mãos do consumidor”, afirma Serrentino. “Hoje, mais do que nunca é preciso saber interpretar os desejos e necessidades do consumidor”. Segundo ele, qualidade, respeito e conveniência são algumas das exigências desse consumidor cada vez mais educado e seletivo.
De olho vivo na rápida mudança de hábitos e estilos de vida, a indústria e o varejo têm trabalhado para atender a essas novas demandas. Segundo Serrentino, nos dias de hoje o jogo do varejo não é mais vender e comprar produtos. “A questão fundamental é a capacidade de migrar da venda de produtos para a venda de soluções”, argumenta.
Segundo ele, a crescente urbanização, o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, o ritmo de vida mais intenso, têm provocado mudanças no forma como indústria e o varejo disponibilizam produtos alimentícios. “Esse movimento tem exigido o desenvolvimento de alimentos mais convenientes, de fácil e rápido preparo e em porções fracionadas” diz o especialista. “O varejo, por sua vez tem investido em serviços de conveniência. A prestação de serviços é cada vez mais constante”, completa.
Supermercado do futuro – Serrentino falou sobre o crescimento do conceito do realy cool food (alimentos preparáveis em 20 minutos) nas redes varejistas. Segundo ele várias lojas na Europa e EUA já oferecem esse tipo de serviço.
Serrentino explica que é cada vez mais forte a tendência das redes varejistas migrarem da venda de produtos para a prestação de serviços. O especialista cita como exemplo a expansão das áreas destinadas ao consumo de alimentos nas lojas. “Hoje em determinadas lojas é possível encontrar serviços de delivery, catering, lanchonetes, mercearia, restaurantes etc.”, explica. “O próprio lay-out das lojas vêm mudando para atender essa demanda do consumidor – destinando áreas para café da manhã, compras diárias e almoço e jantar”.
Outro conceito que vem sendo largamente adotado pela indústria e varejo, segundo Serrentino, é o de branding, segundo o qual a loja vira marca e a marca vira loja. “Esse é um movimento crescente no varejo. Várias redes têm investido em marca própria”, explica. “O movimento inverso também vem acontecendo. A indústria tem criado canais de distribuição para dialogar com o consumidor”.
Segundo ele, essas são medidas para aumentar o contato com o consumidor. “As marcas estão valorizando o canal de distribuição próprio”, afirma.
Tendência irreversível – Serrentino afirmou ainda que a valorização de conceitos de rastreabilidade, bem-estar animal, certificação de qualidade, sustentabilidade ambiental, são tendências irreversíveis no mercado de alimentos.
O especialista explica é cada vez maior a preocupação dos consumidores com sua qualidade de vida. “E a alimentação exerce papel importante nesse sentido”, diz.
Segundo Serrentino, o conceito de alimentação saudável já atinge até as redes de fast food. “Há três anos atrás não se sabia o que era gordura trans. Hoje ela já está sendo banida do mercado por conta dessa preocupação do consumidor”, afirma.
Debate – Para Fernando Pereira, diretor superintendente da Agroceres PIC e coordenador do debate, as informações apresentadas por Serrentino são de extrema valia para o setor produtivo. Segundo ele, as mudanças no varejo e as demandas do consumidor são assuntos desconhecidos dos suinocultores.
Já para Fernando Barros, diretor de marketing da ABCS, a apresentação de Serrentino evidenciou a necessidade do setor produtivo profissionalizar sua relação com o mercado. “Os produtos suinícolas estão fora dos padrões de conveniência do consumidor”, afirma.
Segundo ele, a indústria está cada vez mais dentro do varejo. “Na maioria dos casos são elas que promovem seus produtos nas lojas. O setor precisa agir nesse sentido. O dono do produto cada vez mais tem se empenhado em divulgar e promover seu produto no varejo”, pondera.
Barros também ressaltou a necessidade do setor produtivo trabalhar o segmento de food service. “É preciso ir além do varejo. Se as pessoas estão cada vez mais se alimentando fora de casa precisamos trabalhar para atender bares e restaurantes. É importante entender o funcionamento das cozinhas industriais.”, afirma. Segundo o diretor de marketing da ABCS são servidas no Brasil 6,5 milhões de refeições diárias.
“Precisamos discutir estratégias para melhorar o posicionamento do nosso setor no mercado. Trabalhar para entender o que o cliente precisa para que consigamos chamar a sua atenção e ocupar mais espaço”, conclui Barros.