Uma maior integração e cooperação entre os países latino-americanos são os desafios mais urgentes para o desenvolvimento do agronegócio na região nos próximos 40 anos, afirmaram os principais especialistas do setor durante a regional da América Latina do World Agricultural Forum (WAF), o Fórum Mundial de Agricultura.
O encontro reuniu os principais líderes do agronegócio para debater o papel da América Latina no abastecimento mundial de alimentos, bicombustíveis e fibras até 2050. “A região tem condições de fornecer mais e melhores alimentos, de acordo com as exigências mundiais”, afirmou o ex-secretário de agricultura da Argentina, Miguel Campos.
O crescimento, em número e renda, da população mundial, principalmente nos países em desenvolvimento, tem levado a mudanças na alimentação, que está cada vez mais sofisticada, ressaltou o chefe de finanças corporativas do Rabobank no Brasil, Gustavo Oubinha. “O crescimento das economias emergentes leva a transformações na dieta das pessoas e acarreta um aumento da demanda”.
O diretor de assuntos corporativos da Monsanto, Rodrigo Almeida, defendeu avanços tecnológicos para atender a crescente demanda por mais alimentos, com melhor qualidade, menor impacto ambiental e economicamente viável. Ele acredita que o desenvolvimento do setor exige novas tecnologias. “Não dá para alimentar 9 bilhões de pessoas sem tecnologia porque o planeta não aguenta mais. E as novas tecnologias vão influenciar diretamente em questões como segurança alimentar e dietas da população”.
O diretor para a América do Sul da Novus, Luis Azevedo destacou que este evento é um importante marco para a região. “A América Latina é e vai continuar sendo um grande produtor de alimentos para o mundo. Porém nossa região tem vários desafios como financiamento, infraestrutura, disponibilidade de mão-de-obra e acesso a tecnologia. Esta discussão ampla sobre as oportunidades e desafios é fundamental”.
Gargalos
Apesar de o agronegócio na América Latina ser considerado um bom setor para investimentos, o acesso a linhas de financiamentos e crédito para produtores rurais foram apontados como um dos grandes gargalos na região. Durante uma mesa-redonda que discutiu investimentos e financiamentos, os participantes apontaram a expansão de crédito como fator decisivo no desenvolvimento do setor.
“Temos que trabalhar para que os produtores tenham mais acesso a financiamentos de bancos. Em países da América Latina, muitos produtores recorrem a empréstimos com agiotas, que cobram até 200% de juros”, disparou a diretora executiva da Aliança de Financiamento para o Comércio Sustentável, Noemí Perez.
Os gargalos nos portos, a ausência de parcerias entre os produtores e a falta de acesso a titulação de terras, principalmente no Brasil, também foram apontados entre os entraves para o desenvolvimento do agronegócio.
Oportunidades
Os especialistas observaram um aumento dos investimentos na região, mesmo diante das dificuldades de financiamento. O ex-secretário-adjunto da agricultura da Argentina, Jorge Cazenave, defendeu os benefícios de projetos como o a hidrovia Paraguai e as melhorias na infraestrutura de frigoríficos no Brasil.
O gerente de operações da International Finance Corporation (IFC) no Brasil, uma afiliada do Banco Mundial, Andrew Gunther, a região latino-americana recebe a maior parte dos investimentos da instituição. “Nossos investimentos no agronegócio tem crescido bastante. Só em 2009, alcançamos a marca de US$ 3,9 bilhões em financiamentos. O Brasil e a Argentina são os países mais relevantes nesta área e têm grandes potencias”.
Bicombustíveis
O representante regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), para América Latina e Caribe, José Graziano, defendeu avanços no marco regulatório para o desenvolvimento dos bicombustíveis. “A região está em uma fase de transição dos biocombustíveis e essas mudanças dependem fundamentalmente de regras. Plantar energia é importante, mas é preciso trabalhar muito na parte internacional e não avançamos quase nada no marco regulatório”, concluiu.
O presidente do World Agricutural Forum (WAF), James Bolger, salientou a importância de políticas publicas coordenadas para o avanço do agronegócio nos países latino-americanos. “É preciso pensar positivo e desenvolver políticas coordenadas para atingir nossos objetivos”, concluiu.
WAF
O World Agricultural Forum (WAF), o Fórum Mundial de Agricultura, evento tradicional nos Estados Unidos, aconteceu pela primeira vez na América Latina. O formato de mesa-redonda com líderes políticos e da iniciativa privada, como ex-ministros, ex-deputados e representantes das principais empresas do agronegócio mundial, foi inédito no país. O objetivo era trabalhar uma maior união entre os países latino-americanos, avançar no desenvolvimento de marco regulatório e políticas públicas.
Este encontro foi promovido pelo World Agricultural Forum (WAF) e patrocinado pela Novus Internacional, além de empresas como Rabobank, Nestle, JBS, Sadia, Pioneer, Elanco, Agrotain, Trapiche e entidades como IAE Business School, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Movimento Produtivo Argentino (MPA), Uniao Argentina dos Trabalhadores Rurais e Estivadores (UATRE) e União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única).