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Frango Sertanejo pede concordata

De acordo com a direção da empresa, esta foi a única solução encontrada para proteger funcionários, credores e o patrimônio da companhia.

Redação AI 14/03/2003 – O frigorífico Frango Sertanejo, com sede em Guapiaçu (SP), e que atua há 27 anos no mercado de avicultura, entrou com pedido de concordata, esta semana, no fórum de Rio Preto. A empresa é responsável pela cria, recria, engorda e abate de frango de corte; abastece desde o pequeno varejista até grandes redes de supermercados em todo o País e emprega, direta e indiretamente, 12 mil funcionários. “Essa foi a única solução encontrada para proteger funcionários, credores e o patrimônio da empresa”, disse ontem Takashi Okada, diretor industrial e comercial da indústria. O patrimônio do Sertanejo está avaliado em R$ 115 milhões. O juiz Zurich Oliva Costa Netto, da 4a. Vara Cível, estuda o processo e decidirá, juntamente com o Ministério Público, se concederá ou não a concordata. A empresa deve R$ 40 milhões aos credores e quer dois anos para pagar.

Mesmo ocupando a 10a. posição no ranking dos abatedouros de aves no Brasil, a empresa não suportou a instabilidade econômica e a crise cambial, além da alta nos preços da matéria prima usada na ração de engorda dos frangos. “O milho teve um aumento de 200% e o farelo de soja 100%. Esses produtos, que têm o preço vinculado ao dólar, representam entre 60% e 80% do custo de produção. Não conseguimos repassar a alta dos preços e entramos com a concordata para garantir o pagamento aos credores”, esclarece Okada. Com unidades de distribuição em Guapiaçu, São Paulo (capital), Presidente Prudente e Goiânia (GO), o Frango Sertanejo exporta para a Ásia e Oriente Médio, de onde espera um faturamento, para este ano, na ordem de US$ 14 milhões, 75% maior que em 2002.

A concordata chega em um momento que deveria ser comemorado pela empresa. Okada revela o recorde de faturamento, que não impediu a crise. “Fechamos 2002 com R$ 240 milhões, mas nem assim conseguimos cobrir o déficit. Esta é a pior fase que atravessamos e, se o preço da matéria-prima não recuar, tememos que outras indústrias de alimentação possam vir atrás de nós”, diz. Só na região de Rio Preto, segundo o Sindicato da Alimentação, são 2 mil funcionários nas cidades de Guapiaçu e Onda Verde.

Surpresa – A notícia foi recebida com surpresa pela prefeita de Guapiaçu, Maria Ivanete Vetorasso. As conseqüências de uma possível falência do grupo, segundo ela, seriam trágicas. “Temos outras empresas, mas o Frango Sertanejo emprega mais de 2 mil pessoas, que perderiam seu trabalho, e isso afetaria o comércio, serviços, e outros setores” , afirma. Depois da avaliação do juiz, o processo de concordata segue para o Ministério Público que vai fiscalizar o processo para garantir o cumprimento do acordo e evitar prejuízos a funcionários e credores.

Barracões – Em janeiro deste ano, o Frango Sertanejo renovou convênio de R$ 8 milhões com o Banco do Brasil para a modernização e expansão de 100 galpões integrados de produção de aves. O recurso do Convênio de Integração Rural (Convir) foi usado para alavancar em 10% o faturamento de R$ 240 milhões apurados em 2002. Os recursos obtidos com a renovação do convênio seriam empregados na modernização e ampliação de 25 galpões já integrados e na implantação de outros 63. “Esses setores não serão afetados e o que foi combinado será cumprido”, garante o diretor industrial. Como parte da reestruração logística, outros 12 galpões seriam construídos em novas propriedades em substituição a unidades existentes, mas que estão localizadas em áreas distantes (cerca de 200 quilômetros do frigorífico), o que dificulta o transporte das aves. A construção de um galpão consome R$ 120 mil, dos quais R$ 80 mil são financiados pelo crédito rural com juros de 8,75% ao ano e, para a aquisição de equipamentos, são financiados R$ 20 mil com juros de 11,95%.

O integrado tem prazo de cinco anos para o pagamento do financiamento. “O Frango Sertanejo avaliza e garante o projeto durante o período do financiamento”, afirmou na época o gerente financeiro da Frango Sertanejo, José Roberto Carsava. O frigorífico se comprometeu também a fornecer pintos de um dia e insumos aos produtores. O projeto está sendo desenvolvido desde o ano passado. Num raio de 120 quilômetros de distância, foram relacionados mais de 200 interessados nos galpões de criação, dos quais 150 foram selecionados para integrar o projeto. Foram avaliadas desde a localização da propriedade a condições de sanidade para que o galpão produza com eficiência e garanta maior produtividade. “Procuramos produtores que possuem outras atividades na sua propriedade para que o galpão seja mais uma fonte de renda”, afirma Carsava.

O que é concordata
A concordata é um recurso judicial que as empresas podem dispor quando acumulam dívidas (ou passivo – o que a empresa deve) maiores ou próximas ao capital ativo (o que a empresa tem a receber). “O pedido de concordata é usado para o parcelamento dessas dívidas em prazos mais dilatados junto aos credores, evitando assim que ela feche as portas”, explica a advogada Simone Manella. A Justiça avalia, então, o quadro real da empresa, requerente por meio de documentos que comprovem sua situação fiscal e tributária e existência de estoque, entre outros itens. No sentido jurídico, a concordata objetiva regularizar a situação econômica do devedor, evitando a falência.

Raio X
Guapiaçu
População – 15 mil habitantes
Renda per capta – R$ 839,59
número de empresas (grande e médio porte) – oito
Arrecadação de ICMS em 99 – R$ 129 milhões
principal atividade econômica – Avicultura
Frango Sertanejo
Empregos gerados 2.200 diretos – 9.800 indiretos
Unidades de abate – 2 (Guapiaçu e Onda Verde)
Número de granjas – 6
Produção – 200 mil aves abatidas por dia
Prestadores de serviços – 300 (setores de transporte e vendas)
Faturamento anual – R$ 240 milhões
Patrimônio – R$ 114 milhões
Dívida – 40 milhões