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Influenza em foco

<p>Uma das maiores especialistas mundiais em Influenza Aviária, Ruth Manvell, virologista do Veterinary Laboratories Agency falou sobre a enfermidade para técnicos brasileiros.</p>

Redação AI 21/11/2005 – A informação e o conhecimento são duas armas imprescindíveis para que a avicultura brasileira consiga manter-se livre da Influenza Aviária (I.A.). Foi partindo desse pressuposto, que o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro-SP), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), convidou a virologista inglesa Ruth Manvell para relatar a técnicos brasileiros sua experiência no controle da Influenza Aviária.

Uma das maiores especialistas mundiais em I.A., Manvell é uma das pesquisadoras do Veterinary Laboratories Agency (VLA/ Inglaterra), laboratório de referência para a Organização Mundial de Epizootias (OIE), FAO (órgão das Nações Unidas para Alimentação) e União Européia no diagnóstico de I.A. e Doença de Newcastle.

Nos últimos anos, Manvell tem trabalhado diretamente na monitoria e controle dos surtos de I.A. em vários países atingidos pela doença. “O objetivo do encontro foi justamente socializar a experiência e os conhecimentos que essa renomada pesquisadora tem na prevenção e controle da I.A”, explica Abrahão Buchatsky, diretor geral do Lanagro-SP.

Realizado na manhã de hoje (21/11), na sede do Lanagro-SP, em Campinas, o evento reuniu cerca de 150 pessoas, entre técnicos do Mapa, da Secretária de Agricultura, de agroindústrias e representantes do setor acadêmico e de entidades como Sindan e Fundação Parque Ecológico do Estado de São Paulo. Promovido pelo Lanagro-SP, o evento contou com o apoio das empresas Al Tech e Ceva Sante Animale.

Em sua apresentação, Manvell abordou a atual situação da enfermidade no mundo, falou sobre os procedimentos epidemiológicos usados para monitoria e controle dos surtos da I.A e sobre a incidência da doença em humanos.

Diagnóstico – Manvell iniciou sua palestra falando sobre os procedimentos e cuidados necessários na etapa de coleta e envio de material para análise laboratorial no caso de suspeita de I.A. Segundo ela, é fundamental que as amostras sejam coletadas de maneira adequada e na situação correta. “As amostras têm que estar em perfeitas condições para o envio ao laboratório”, advertiu. Para a realização do isolamento viral, explicou a especialista, as amostras de swabs têm que estar frescas. Já no caso do diagnóstico molecular (PCR), os swabs têm que ser enviados secos. “Caso as amostras não possam ser enviadas nos dois primeiros dias após a coleta é fundamental que essas amostras sejam congeladas”, explicou. De acordo com Manvell, é importante coletar a amostra correta para o tipo de exame que será realizado.

A especialista enfatizou também a importância da utilização de reagentes confiáveis e de boa qualidade para a realização dos diagnósticos. De acordo com Manvell, é fundamental usar testes reconhecidos globalmente e por vários laboratórios mundiais. O treinamento dos profissionais que trabalham com diagnóstico, ressaltou a especialista, é igualmente importante para o êxito da análise. “Durante o diagnóstico não se pode focar apenas nos sintomas. É importante que o laboratório tenha capacidade de diagnóstico para outras enfermidades. Em muitos casos, é possível que vários tipos de vírus co-existam, fato que por si só complica o diagnóstico”, acrescentou.

Vacinação – Ponto polêmico dentro dos procedimentos adotados para o controle de surtos de I.A., a vacinação das aves também foi abordada durante a apresentação da especialista. “A grande discussão que essa questão suscita é: nas condições atuais é melhor vacinar ou abater as aves para erradicar a doença?”, explica Manvell.

A utilização de vacinas contra a I.A. é uma questão que ainda divide a comunidade científica. Segundo a especialista, alguns países têm banido o uso de vacinas ao mesmo tempo em que outros têm apostado nesse tipo de tecnologia para o controle da enfermidade.

A especialista citou o exemplo da Holanda, que optou em abater 31 milhões de aves para erradicar a doença em 2003 e o da Itália, que atualmente utiliza um sistema de diferenciação entre aves vacinadas e infectadas. Na União Européia, explicou Manvell, os países precisam obter permissão para vacinar as aves contra I.A.

Biosseguridade – Durante sua apresentação, Manvell fez questão de enfatizar que a prevenção ainda é o melhor método para combater a I.A. Nesse sentido, ressaltou a especialista, o recrudescimento das medidas de biosseguridade nas propriedades avícolas é fundamental. “As medidas de biosseguridade são de extrema importância. A higiene das granjas tem que ser excelente”.

A especialista chamou a atenção para a necessidade de constante desinfecção das instalações e dos equipamentos utilizados nas granjas. Também ressaltou a importância do fornecimento de ração e água “confiáveis e saudáveis” para as aves. “A ração e a água das aves têm que ser necessariamente de fontes confiáveis”.

De acordo com a virologista é preciso também minimizar o contato das aves industriais com as aves silvestres e pequenos mamíferos. “Todas as práticas de manejo das granjas devem ser voltadas a evitar o contato das aves industriais com as aves silvestres e pequenos mamíferos, pois todos podem ser vetores da doença”, advertiu.

Para Manvell, é importante também que o produtor (e os técnicos que o assessoram) conheça de perto as características da I.A. “É fundamental conhecer a doença, seus sintomas, para prestar atenção no comportamento das aves, sobretudo na aparência das fezes”.

Segundo ela, embora a avicultura brasileira tenha condições diferenciadas em relação aos demais países produtores (como por exemplo, galpões fechados e sol o ano inteiro) os produtores não devem descuidar dos programas de biosseguridade em suas propriedades.

Cuidados fundamentais – A virologista do VLA também falou sobre a necessidade de se delinear alguns procedimentos básicos para o caso de um eventual surto de I.A. Segundo ela, é importante que o método de abate das aves esteja previamente estabelecido para evitar problemas maiores, como a rápida difusão da doença, por exemplo.

A eliminação das carcaças é outro aspecto que deve ser analisado e definido previamente, explicou a especialista. “Atualmente as aves infectadas são enterradas, incineradas ou vão para a compostagem”, explicou.

A especialista citou ainda a necessidade de estabelecimento prévio de um programa eficaz de desinfecção das granjas e de um processo de repovoamento das propriedades avícolas. A escolha dos procedimentos mais adequados, explicou a especialista, depende das características da atividade avícola de cada País.

Finalizando sua apresentação a pesquisadora falou sobre a incidência da I.A em humanos e procurou minimizar os riscos da ocorrência de uma pandemia mundial de gripe aviária. De acordo com Manvell, o perigo que o vírus da I.A. representa para a saúde humana atualmente tem causado grande apreensão na população mundial. Segundo a pesquisadora, no entanto, os riscos da ocorrência de uma pandemia de I.A são bastante remotos. “A possibilidade de recombinação do vírus existe, mas é pequena”, concluiu.