Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Oferta hostil aguça interesse estrangeiro pela Perdigão

<p>A recusa da Perdigão à proposta de compra lançada pela Sadia causou intensa movimentação entre bancos de investimentos nos últimos dias para estruturar ofertas concorrentes.</p>

Redação (20/07/06) – O movimento estaria, inclusive, sendo estimulado pelos fundos de pensão que são acionistas da Perdigão.

Três nomes de companhias americanas aparecem como prováveis interessados, com maior destaque para a Tyson Foods, a maior empresa de carnes do mundo, com faturamento anual de US$ 26 bilhões. Além dela, Smithfield e Cargill, que já controla a Seara, também estariam em conversas com bancos, segundo apurou o Valor.

A Tyson já negocia no Brasil uma joint venture com a paranaense Globoaves e o seu interesse da Tyson no Brasil é evidente. A empresa, que esteve perto de comprar a Seara, acaba de nomear como diretor de sua área internacional o executivo Rick Greubel, que já morou cinco anos no Brasil e foi presidente da subsidiária brasileira da Monsanto. “A empresa estava buscando alguém que conhecesse como funcionam os negócios no Brasil e na América Latina”, disse um executivo do setor de aves. Greubel também já atuou na Argentina.

Como estratégia de defesa contra a aquisição pela Sadia, a Perdigão estuda acelerar planos de compra de empresas de produtos de consumo. A avaliação é que ao atingir uma participação de mercado relevante nesses segmentos uma união com a Sadia dificilmente seria aprovada pelos órgãos de defesa da concorrência.

Paralelamente, a Sadia começou a enxergar ontem condições para insistir por mais tempo na estratégia de adquirir a concorrente Perdigão via mercado de ações. Na véspera, chegou a decidir pelo cancelamento da operação, mas ontem o cenário era diferente. Embora dê como certo que os fundos de pensão reiterarão a rejeição à proposta, conforme solicitou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia estuda a possibilidade de reapresentar a oferta com um preço maior. A decisão ainda não está tomada, mas uma nova proposta está em elaboração.

Um dos fatores que teriam levado a Sadia a repensar sua posição seriam manifestações de fundos estrangeiros que são acionistas minoritários da Perdigão e ficaram insatisfeitos com a pronta negativa dada pelos fundos de pensão. Com uma visão de investimento de mais curto prazo, tais fundos estariam enxergando na oferta uma oportunidade de ganho rápido e gostariam de, ao menos, ter a oportunidade de escolher.

Fundos acionistas da Perdigão estimulam bancos a trazer propostas concorrentes pela empresa

A rápida e enfática reação da Perdigão surpreendeu a Sadia, que estava preparada para a tradicional disputa em torno de preço que costuma acompanhar tentativas de oferta hostil. “O que eles estão fazendo é fechar a porta para a venda, mas não conseguimos entender a razão”, disse uma fonte ligada à Sadia.

Desde que os fundos de pensão que controlavam a Perdigão decidiram reestruturar a companhia no início do ano, transformando todas as ações em ordinárias e acabando com o bloco de controle definido, esperava-se que alguns sócios viessem a mercado para vender seus papéis. Os planos teriam sido adiados porque a bolsa passou por turbulências e também porque o setor sofreu com os efeitos da gripe aviária.

A CVM comunicou ao mercado ontem ter considerado insuficiente a documentação apresentada pela Perdigão ao órgão para informar que acionistas que detêm 55,38% de seu capital social recusaram a oferta de compra feita pela Sadia na última segunda-feira. Em função disso, esses acionistas e a própria Perdigão foram notificados para que “confirmem, de maneira inequívoca, que rejeitaram a oferta.”

A Sadia terá prazo de 24 horas após a divulgação pela Perdigão de documentos que comprovem a recusa da oferta por acionistas titulares de mais de 50% das ações para informar se vai alterar os termos da oferta. Do contrário, segundo a CVM, a oferta perderá sua validade.

Para comprovar a recusa da oferta por parte de seus acionistas, a Perdigão havia enviado à CVM uma ata da reunião de acionistas realizada na segunda-feira, antes de reunião do conselho de administração em que se discutiu a contratação de um laudo de avaliação da empresa. Subscrevem a ata os fundos Previ, Sistel, Fapes, Real Grandeza, Previ-Banerj, Petros e Valia, que detêm 49,82% do capital da Perdigão.

A ata é finalizada com a frase: “Ainda, o preço ofertado de R$ 27,88 não atende às expectativas dos acionistas”. O valor foi o que a Sadia ofertou por cada ação da Perdigão na oferta pública apresentada no começo da semana, de R$ 3,723 bilhões por 100% do capital da Perdigão.

O presidente da CVM, Marcelo Trindade, espera que até sexta-feira os fundos de pensão, grandes acionistas da Perdigão, enviem à autarquia uma manifestação formal de recusa da oferta de compra de suas ações pela Sadia. Ontem, depois do comunicado da CVM, dois acionistas da Perdigão, a Weg e a Perdigão Sociedade de Previdência Privada, que detêm juntas 5,56% das ações, enviaram documentos com a recusa.

Para Trindade, a oferta da Sadia continuar por enquanto. “Só com a manifestação formal de recusa de todos os acionistas que perfazem os mais de 50% mencionados pela Perdigão como contrários à oferta é que a proposta da Sadia perde seu objeto, deixa de ser válida”, afirmou.

Para Trindade, uma coisa é vir a público dizer que o preço da ação está baixo, outra é protocolar no órgão regulador uma recusa formal. Trindade não quis entrar no mérito da polêmica do artigo 37 do estatuto da Perdigão, que serviu de argumento para a empresa se colocar contra a proposta da Sadia. “Nossa análise está parada na necessidade da manifestação formal dos acionistas quanto à recusa.”