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Palestra discute novos conceitos de ambiente e bem-estar das aves e trabalhadores

Os sistemas de ambiência hoje têm a obrigação de garantir o bem-estar das aves e dos trabalhadores.

Redação AI 08/05/2003 (Campinas/SP) – A preocupação em garantir que os galpões avícolas forneçam um ambiente saudável tanto para aves quanto para trabalhadores é uma demanda atual e que agrega valor aos produtos avícolas. Essa foi uma das afirmações de Irenilza de Alencar Naas, professora da Unicamp, em sua palestra no Simpósio sobre Bem-Estar de Aves que está sendo realizado hoje (08/05) na Conferência Apinco 2003. A apresentação chamou a atenção dos participantes que lotaram o auditório onde o simpósio está sendo realizado.

Segundo Irenilza, o crescimento e a importância da avicultura brasileira no cenário avícola mundial (o Brasil é hoje o segundo maior produtor e exportador de carne de frango) obriga o País a adotar novos parâmetros de bem estar animal. “Hoje na Europa a criação de frangos de corte é tida como uma das atividades mais poluentes”, afirma a professora da Unicamp. “Portanto as pressões legislativas tendem a se agravar nos próximos anos”, diz.

A professora explicou em sua apresentação que a maioria das propriedades avícolas brasileiras utiliza o sistema de túnel para garantir o conforto térmico necessário às aves. Tecnologia importada de países de clima temperado, o sistema de túnel, muitas vezes gera um acúmulo de gazes como amônia, CO2 e monóxido de carbono, prejudicando a saúde de aves e trabalhadores. Segundo ela , os desafios nessa área não são pequenos pois não existem soluções simples e nem muito menos concretas para equacionar o problema. O ambiente térmico continua sendo uma exigência para a produção de aves economicamente viáveis. Porém, existe uma alta correlação entre a insalubridade do trabalhador e a produtividade das aves. Ou seja, em propriedades avícolas que garantem aos trabalhadores boas condições de trabalho as aves apresentam uma produtividade maior. “E essa correlação é comprovada cientificamente”, diz a professora.

Um dos caminhos, segundo Irenilza, seria aprimorar as técnicas de todo o ciclo de vida em torno da produção de frangos de corte buscando níveis adequados que garantam a harmonia entre a resolução do conforto térmico e a salubridade de aves e trabalhadores.

Legislação omissa – Em sua apresentação, Irenilza falou também sobre a emissão de amônia em camas de frango, e, sobretudo sobre os níveis de exposição diária de bactérias, poeira, fungos e etc. a que são submetidos os trabalhadores avícolas. Segundo a professora, nos últimos anos tem havido um crescimento do pedido de insalubridade por parte os trabalhadores avícolas. De acordo com ela, existe uma relação entre o tempo de trabalho e a incidência de doenças respiratórias em trabalhadores “Esse é um problema que precisa ser estudado pois é preciso definir um ambiente ideal para aves e trabalhadores”, diz. Segundo a professora, até hoje toda a questão da salubridade esteve voltada ao trabalhador urbano. “A literatura sobre esse assunto no aspecto rural é inexistente e a legislação omissa”, adverte. Foram os países escandinavos os primeiros a estudar o assunto e a delinear normas para o setor avícola. Tanto que atualmente a maioria das empresas importadoras já incluem em seu check list a exigência da garantia da saúde do trabalhador avícola. “Essa é uma demanda do mercado internacional, ou seja, quem não garantir essas condições, eu digo hoje e sobretudo futuramente, não conseguirá exportar seus produtos”, diz Irenilza.

Segundo ela, estudos e uma investigação maior sobre a questão da ambiência precisa ser feita, uma vez que a atividade avícola é muito importante para o País e envolve muita gente. “Me preocupa muito essa questão dos trabalhadores porque a avicultura é uma atividade que emprega muita gente” diz. “Muitas dessas pessoas trabalham em situação insalubres e nós precisamos verificar e repensar isso”, completa Irenilza.

Irenilza falou ainda sobre a importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “Façam com que seus trabalhadores usem esses equipamentos protetores porque eles podem evitar problemas sérios de saúde”. E no final de sua apresentação concluiu: “Ambiência não é mais só calor e umidade. Ambiência hoje é um assunto muito mais complexo e que precisa ser estudado”.