Redação AI/Guararapes (SP) 25/05/01 09:05 – Cercada por munícipios como Bastos (SP), cujas granjas de postura vêm padecendo com a alta mortalidade proporcionada pela Doença de Gumboro, Guararapes (SP) ainda não detectou esse vírus mortal às aves em nenhuma de suas granjas.
A cidade de Mogi das Cruzes (SP) não pode apresentar o mesmo histórico. Foi lá, em 1999, que se comunicou um dos primeiros surtos de Gumboro clínica em uma granja de postura no Estado de São Paulo.
“Eu fui o sorteado”, diz o médico veterinário e produtor de ovos Alfredo Hiroshi Onoe, proprietário da Granjas Tok Ltda., com 600 mil poedeiras. Ele diz que até hoje não sabe como o problema apareceu em sua granja, embora tenha gastado um bom tempo tentando descobrir a origem. “Mas o importante é que não guardei o segredo só pra mim. Fiz questão de espalhar aos quatro ventos o que estava acontecendo para conscientizar o setor sobre o problema e agilizar a procura por uma solução”.
Onoe foi convidado pela organização do 2o. EncontroTécnico Apoesp (Associação dos Produtores de Ovos do Estado de São Paulo) para contar sua experiência pessoal no combate ao problema. Experiência nada agradável. Em 1999, em cinco lotes de aves comerciais vermelhas e brancas, o produtor teve de administrar os prejuízos acarretados por altos índices de mortalidade, variando entre 12% e 30%.
A situação perdurou até que Onoe resolveu experimentar uma vacina inativada experimental. Ele explica como se chegou a essa solução: “Nós retiramos a bursa das franguinhas mortas, fizemos um macerado dela, matamos o vírus com formol, filtramos o produto e inoculamos nos pintinhos”, resume. “Nós chamamos esse processo de auto-vacinação”, completa. Bastante caro e complexo, todo esse trabalho foi desenvolvido a partir de uma parceria com o Laboratório Livet, de Campinas (SP).
Com a solução descrita acima, Onoe diz que foi resolvido o problema da alta mortalidade verificada em suas granjas. “Zeramos o índice de mortalidade em 2000”, afirma. Onoe conta que o tratamento feito na sua granja foi experimental, não podendo ser adotado em larga escala pelos produtores que estão enfrentando o mesmo problema. “Não há autorização do Ministério da Agricultura para que a vacina inavada que usamos seja comercializada”, resume.
No entanto, depois de 13 lotes com mortalidade de 0% em 2000, o problema voltou este ano. “O lote de aves brancas de março apresentou mortalidade de 4%, por exemplo”. Segundo ele o vírus que ocasionou esta segunda leva de mortalidade era uma variante do primeiro, segundo o laboratório de análises Simbios. A constatação vai de encontro, segundo Onoe, a trabalhos apresentados por pesquisadores americanos durante o XXI Congresso Mundial de Avicultura, realizado ano passado no Canadá. Estas pesquisas tiveram o mérito de mostrar que a cepa G11 da Gumboro sofre mutação constante, comenta Onoe. “A partir dessa constatação nós isolamos a nova variente e a incorporamos à primeira vacina inativada, chegando assim a uma vacina `bivalente`”. Os dados experimentais referentes aos lotes vacinados com essa segunda vacina ainda não estão disponíveis.
O depoimento de Onoe causou grande polêmica entre os participantes do evento, principalmente entre os representantes dos laboratórios de saúde animal presentes. “Acredito que isso aconteceu porque normalmente as palestras sobre enfermidades não são apresentadas por granjeiros. Mas eu tenho todo direito de expor uma experiência pessoal que aconteceu em minhas granjas, ainda mais amparado por trabalhos já publicados”, diz Onoe.
Para entender o problema da Doença de Gumboro
A Doença de Gumboro ou Doença Infecciosa da Bolsa de Fabrício (DIB) é uma infecção viral aguda. A enfermidade vem acarretando prejuízos tanto para os avicultores de corte como de postura. Altamente contagiosa, a DIB afeta aves jovens, tendo como alvo primário o tecido linfóide, principalmente a Bolsa de Fabrício.
Segundo informações levaantados pela reportagem da revista Avicultura Industrial, a importância econômica da Doença de Gumboro se traduz pela alta mortalidade que ela provoca. No caso de algumas cepas virais, as perdas chegam a cifras entre 20-40% de mortalidade.
Nos lotes contaminados verifica-se o decréscimo dos resultados zootécnicos, devido à imunossupressão, prejudicando e alterando o desempenho das aves (conversões alimentares ruins, baixo ganho de peso, desuniformidade). “Além disso o plantel fica suscetível a outras infecções, com reações vacinais respiratórias exacerbadas ou resposta vacinal prejudicada.”