Da Redação 03/11/2004 – Diz a mitologia que Ceres, a deusa romana da agricultura e da fertilidade, renunciou temporariamente à sua condição divina para ter de volta sua filha com Zeus, Persephone, exilada no Inferno de Hades. A Terra ficou estéril com a renúncia, mas voltou a tornar-se fértil depois que Zeus interveio e Persephone foi libertada.
Às vésperas de completar 60 anos, a Agroceres, batizada em homenagem à deusa, vive de alguns anos para cá a sua própria retomada, depois da venda de sua divisão de sementes – que respondia por 60% dos negócios – para a americana Monsanto, em 1997. E sem alarde, mas com caixa e espaço para a diversificação das atividades, a empresa brasileira quer reconquistar o destaque obtido a partir dos anos 80, quando era presidida por Ney Bittencourt de Araújo. Inclusive com a volta às sementes.
Se em 1997 a Agroceres faturou R$ 70 milhões, em 2003 a receita chegou a R$ 200 milhões e a projeção para 2004 aponta para R$ 240 milhões. Em 2005, afirma Luiz Antonio Sallada, diretor administrativo e financeiro da companhia, é esperado novo salto de 15%. Tal crescimento, acredita, virá da evolução dos negócios da Biomatrix, criada em maio de 2003 e que já responde por 4% das vendas do grupo, e da Inaceres, produtora de palmito criada em maio deste ano.
Fundada em 1945 por Antônio Secundino de São José e Gladstone Drummond, então pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Agroceres associou-se ao grupo Rockfeller em 1950. Trinta anos depois, os americanos venderam seus 54% às famílias Araújo e Drummond, que desde então controlam a Agroceres por meio da Montebel. Hoje, o grupo reúne seis empresas – Inaceres, Biomatrix, Agroceres PIC, Agroceres Ross, Agroceres Nutrição Animal e Atta-Kill.
Segundo Sallada, a venda da divisão de sementes foi determinante para a nova fase dos negócios, atualmente concentrados ração e melhoramento genético. De lá para cá a Agroceres investiu R$ 90 milhões e opera hoje com dívida de longo prazo de R$ 25 milhões.
Nesta nova fase, a Agroceres Nutrição Animal ganhou importância e quintuplicou seu faturamento. Em 2004, a divisão responderá por 40% da receita do grupo. Criada há 25 anos e controlada integralmente pela Agroceres, a divisão receberá no ano que vem investimento próprio de R$ 3 milhões para ampliar a capacidade de produção nas três unidades, em Rio Claro (SP), Patos de Minas (MG) e Aparecida de Goiânia (GO).
Sallada diz que nunca houve intenção de entrar no mercado de rações. “A Agroceres produzia para abastecer as granjas de aves e suínos, e os clientes começaram a demandar ração para alimentar seus animais”. A investida mais recente é na área de rações para animais de estimação, com produção concentrada em Minas. Sallada diz que a participação no segmento ainda é irrisória, mas tende a aumentar.
Outra aposta “fora da porteira” foi a Inaceres. A joint venture foi criada com 50% de participação da equatoriana Inaexpo, líder mundial na exportação de palmito. Conforme Sallada, o Brasil é o maior produtor mundial de palmito e que os equatorianos buscava um sócio no país há tempos.
Com foco na produção de palmito da pupunha (palmeira cultivada) a Inaceres já recebeu investimento de R$ 23 milhões. Em 2004, deverá responder por 4% da receita da Agroceres, participação que deverá dobrar em 2005. Em abril deste ano, a joint venture comprou, por R$ 8 milhões, o negócio de palmito da Unacau, uma das maiores empresas do setor no país. A aquisição incluiu a fábrica de Uruçuca (BA) – que processa 40 mil frascos por dia -, a área plantada de 450 hectares e a marca Golden Palm.
Para 2005, os investimentos totais da Agroceres estão previstos em cerca de R$ 10 milhões, ante os R$ 15 milhões deste ano. A maior parte dos recursos deverá ser destinada às divisões de melhoramento genéticos de suínos e aves.
A Agroceres PIC – associação com a inglesa Pig Improvement Company (PIC), que tem 49% de participação – investirá R$ 3 milhões na criação de uma granja em Presidente Olegário (MG). Há três anos, a empresa investiu R$ 15,8 milhões em outras duas granjas de suínos no mesmo município, com capacidade para 4,2 mil matrizes.
A divisão, que iniciou suas atividades em 1977, responde por 23% da receita do grupo Agroceres e tem “market share” de 40% no mercado de matrizes de suínos.
Em 2002, a Agroceres PIC comprou a PIC que operava na Argentina e passou a contar com uma subsidiária. O país vizinho recebe as bisavós e avós do Brasil e produz matrizes para o mercado local. Sallada afirmou que o negócio é incipiente no país, mas que também nesse caso há perspectivas de aumento das vendas com a recuperação da economia argentina.
Para a Agroceres Ross, parceria com a escocesa Aviagen (que tem 49% de participação), 2005 será de consolidação de investimentos recentes. Neste ano, a empresa inaugurou duas granjas de aves, em São Luiz do Paratininga (SP) e Redenção da Serra (SP). As unidades receberam R$ 5 milhões em recursos e fazem parte de um projeto, iniciado em 2002, para dobrar a capacidade de produção até 2005.
O investimento total (financiado pelo BNDES via Banco Alfa) é de R$ 22,5 milhões e inclui um incubatório e ampliação da unidade de rações. Criada há 16 anos, a divisão responde por 24% da receita do grupo Agroceres e tem 40% de participação no mercado de matrizes de aves. A divisão também exporta para Paraguai, Uruguai e Bolívia.
O único negócio que não recebeu investimentos recentes é a Atta-Kill, joint venture com a Fertibrás para produção de formicidas. De acordo com Sallada, a produção da empresa, em uma unidade em Araraquara (SP), fica a cargo da Fertibrás, e à Agroceres cabe a administração das vendas. A Atta-Kill responde por 5% da receita do grupo e lidera o mercado de formicidas, com 40% de participação.