Redação (29/09/2008)- A semana começa tensa no mercado brasileiro, por conta dos problemas divulgados por Sadia e Aracruz na última sexta-feira. Ambas informaram ter perdas em seu caixa que ultrapassam a casa dos milhões de reais por conta de operações de hedge (proteção) focadas no mercado futuro de câmbio. A Sadia informou ter um rombo de R$ 760 milhões, situação que levou à demissão de seu diretor financeiro, Adriano Lima. E a Aracruz contratou uma consultoria para mensurar o impacto negativo que a gestão causou em seus negócios. A única informação foi a de que as operações voltadas a administrar os riscos de câmbio e de juros haviam ultrapassado o teto de US$ 50 milhões estipulados, valor que equivale a cerca de 10% de seu caixa. Como resultado, o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Isac Zagury, apresentou pedido de licença .
Na opinião de Marcelo Faro, economista da Intra Corretora, haverá dias de expectativa por parte dos investidores. "As empresas terão de se manifestar sobre suas posições cambiais. O mercado se assustou, mas acredito que isso não signifique um início de crise. Foram situações pontuais", afirmou. "Obviamente que ninguém vê esses anúncios com bons olhos. Mas foi uma situação causada por problemas na gestão dos recursos", avaliou a analista-chefe da Ativa, Luciana Leocádio, referindo-se à Sadia.
A política de hedge da empresa é de seis meses de exposição, o que representa cerca de US$ 1,8 bilhão. Esse limite foi excedido para cerca de US$ 3,6 bilhões, ou 12 meses. Por conta da queda do mercado, o gestor teve de liquidar algumas operações antecipadamente, levando à perda anunciada. "O fato limitou-se à operação financeira da companhia e não afetou em nada suas atividades industriais e comerciais, as quais continuam em expansão", rebateu a companhia em nota.
O prejuízo que a notícia trouxe para a Sadia foi tanto que, além de sua ação preferencial fechar sexta-feira com queda livre de 35%, para R$ 6, foi alvo de expectativas ainda mais pessimistas. A Standard & Poor’’s colocou seus ratings de crédito corporativo de longo prazo ’’BB+’’ em análise. A classificação ’’BB+’’ atribuída às notas no valor de US$ 250 milhões emitidas pela Sadia Overseas Ltd., uma subsidiária integral da companhia, passaram pela mesma situação. "Esperamos que a Sadia continue registrando fortes margens operacionais, favorecendo-se do aumento de sua escala e da eficiência de suas operações", ponderou a S&P. A situação da empresa será definida "assim que atualizarmos nossas projeções e chegarmos a uma conclusão sobre a permanência do impacto negativo". Além disso, a corretora Socopa, por exemplo, alterou o preço teórico da ação preferencial da Sadia de R$ 13,90 para R$ 9, o que representa um decréscimo de 35,25%.
As más notícias envolvendo a empresa alimentícia surtiram efeito também nas ações ordinárias da Perdigão, que caíram 5,74% no dia, para R$ 36,29. "Como são empresas do mesmo setor, é normal que os investidores fiquem receosos", explicou João Pedro Brugger Martins, analista da Leme Investimentos. Situação similar ocorreu com papel e celulose. As ações preferenciais da Aracruz encerraram o dia com queda de 16,76%, para R$ 7, enquanto os papéis ordinários caíram 12,11%, para R$ 7,40. No caso da VCP, as ações preferenciais caíram 10,65%, para R$ 31,18. Em meio ao movimento de baixa, a companhia – como diversas outras – divulgou comunicado ao mercado informando que "adota uma política de hedge conservadora e controles rígidos de gestão de riscos". A Ágora aconselha os investidores a manterem o papel da Aracruz em sua carteira. Mesmo com os problemas, a corretora informou que o preço-alvo da PN da empresa é de R$ 14,80, o que resulta na expectativa de valorização superior a 100%.
"Agora é a hora das empresas mostrarem transparência. Os investidores estão com receio e a situação deve melhorar após divulgação dos resultados das companhias", afirmou a presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento de Mercado de Capitais, Lucy Souza.
Na opinião de Faro, da Intra, é importante que o investidor preste atenção aos fundamentos da companhia. "O que se espera de uma empresa como a Sadia é que ela tenha lucro com sua atividade principal, que é venda de alimentos. Está claro que a companhia quis alavancar os ganhos apostando no mercado financeiro". Em 2002, a companhia também teve prejuízos por conta do dólar.