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Por que a Perdigão quer a Batávia

<p>Apenas um muro as separa em Carambeí (PR).</p>

Redação (04/05/06) – A eventual aquisição do controle acionário da Batávia pela Perdigão dará ao frigorífico – segundo maior exportador de carnes de frango e suína do país – muito mais do que a possibilidade de sinergia operacional, já que ambas atuam com produtos refrigerados e, literalmente, apenas um muro as separa em Carambeí (PR).

Especialistas do setor e fontes próximas às negociações acreditam que ao investir no setor de lácteos, a Perdigão diluiria os riscos do negócio carnes e consolidaria a marca Batavo, a qual já usa sob licenciamento nessa área.

Além disso, adquirir a Batávia seria “a oportunidade única”, nas palavras de uma fonte próxima às negociações, de a Perdigão entrar no setor de lácteos “com um bom caminho andado”. A Batávia, que atua em leite longa vida, iogurtes, queijo, manteiga e sobremesas, tem hoje 14% do mercado nacional de refrigerados. No Sul, é líder e ganhou força no Sudeste nos últimos anos.

Com a aquisição, a Perdigão que faturou R$ 5,8 bilhões em 2005, também avançaria num segmento em que sua principal concorrente, a Sadia, ainda não atua, observa uma fonte do setor. Seria ainda um importante passo para se firmar como uma indústria de alimentos e não apenas um frigorífico de carnes. “Os lácteos podem ser uma porta para o crescimento”, comentou a fonte.

A compra do controle da Batávia pela Perdigão é parte da proposta feita por um consórcio formado pelo fundo de investimentos Latin American Equity Partners (Laep) e pelo frigorífico para aquisição da Parmalat, que detém 51% das ações da Batávia.

A proposta do consórcio prevê a quitação da dívida da multinacional italiana com bancos. Debêntures no valor de R$ 380 milhões serão substituídas por pagamento antecipado entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões. A Perdigão deve pagar entre R$ 100 milhões e R$ 120 milhões pelo controle acionário da Batávia. O Laep assumirá os outros ativos da Parmalat e suas dívidas e fará aporte de R$ 20 milhões.

Conforme Rafael Weber, analista da Geração Futuro, ao entrar no negócio lácteos, a Perdigão diluiria “um pouco” os riscos nas operações de carnes, que vêm sendo prejudicadas por questões de sanidade recentemente.

O avanço da gripe aviária na Europa, por exemplo, afetou as exportações de carne de frango das empresas brasileiras. Além disso, o ressurgimento da aftosa no Brasil levou mais de 50 países a embargarem total ou parcialmente a carne bovina brasileira – a Perdigão acabou de entrar nesse segmento. Atuando apenas no setor de carnes, “a empresa está sempre à mercê de fatores como sanidade”, afirma Weber. Ele diz, ainda, que outro fator positivo é que a Batávia ganhou espaço em lácteos nos últimos anos, exatamente por conta da crise da Parmalat.

Um especialista lembrou que como a Perdigão já detém a marca Batavo para carnes, a compra da indústria de lácteos seria uma oportunidade de consolidar essa marca. A Perdigão comprou 51% da área de carnes da Batávia em 2000 e no ano seguinte adquiriu o controle do capital da empresa.

A unidade de carnes que era da Batávia – e desde 2001 pertence à Perdigão – fica na cidade paranaense de Carambeí, na mesma área em que está o laticínio. Assim, numa eventual aquisição pela Perdigão, a estrutura de distribuição seria compartilhada pelas duas empresas. “Ambas atuam com refrigerados, o que facilita a distribuição, e os clientes são os mesmos”, afirma fonte ligada ao frigorífico.

Além disso, as empresas já “compartilham” fornecedores. A Perdigão tem entre seus integrados produtores que entregam leite para as cooperativas – Cooperativa Central de Laticínios do Paraná e Agromilk – que são sócias da Parmalat na Batávia. As cooperativas detêm 49% das ações, mas conseguiram excluir a Parmalat do controle da empresa depois de entrarem na Justiça alegando que a crise da multinacional italiana – que começou no fim de 2003 – poderia comprometer os negócios da Batávia.