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Preparando-se para exportar

<p>De olho no mercado externo, a suinocultura paulista vem trabalhando forte para concretizar seu projeto de internacionalização. Tema foi discutido ontem (06/06) no Ciclo de Eventos da APCS.</p><p></p><p></p>

Redação SI 07/06/2005 – O suinocultor paulista está de olho vivo nas oportunidades do mercado internacional. Altamente tecnificada, com altos índices de produtividade e ostentando um bom status sanitário – pré-condições indispensáveis para o ingresso nesse competitivo mercado – a suinocultura paulista quer agora estabelecer uma participação ativa no exigente mercado internacional de carne suína.

A iniciativa é vista pelos suinocultores do estado como um importante mecanismo de proteção da produção suinícola paulista contra as cíclicas variações econômicas do setor. “O mercado interno sempre foi e sempre será nossa prioridade”, explica Valdomiro Ferreira Júnior, presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS). “Entretanto, o suinocultor paulista vê no mercado internacional uma excelente opção para escoar sua produção em tempos de crise. Se o mercado interno vai mal poderemos ofertar nossos produtos lá fora e, consequentemente, enxugar o excesso de oferta”, argumenta.
O assunto pautou as discussões da última edição do Ciclo de Eventos, promovida ontem (06/06) pela APCS, no auditório da Cati, em Campinas (SP).

O encontro, que teve como tema “Mecanismos para exportar”, reuniu cerca de 70 pessoas e foi uma mostra concreta de que o setor suinícola paulista vem centrando esforços para concretizar o seu projeto de internacionalização.

Para as apresentações foram convidados representantes estratégicos. Estiveram presentes no evento o Secretário Estadual da Agricultura e Abastecimento, Duarte Nogueira, o Delegado Federal do Ministério da Agricultura e Pecuária de São Paulo, Francisco Sérgio Ferreira Jardim, o Diretor Executivo da Abipecs, Pedro Camargo Neto e o Deputado Federal e proprietário do Frigorífico Estrela, Vadão Gomes.

Projeto antigo – Embora o mercado doméstico seja o principal foco da suinocultura paulista, já faz algum tempo que os suinocultores do estado vêm trabalhando forte para viabilizar seu ingresso no mercado internacional. Um passo decisivo nesse sentido foi a criação do Selo Suíno Paulista.

Resultado de dois anos negociações entre a APCS e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, o Selo Suíno Paulista foi criado para determinar a origem da carne produzida no Estado. As normas técnicas estabelecem regras para uma produção suinícola em total conformidade com o meio-ambiente, bem-estar animal, alimentação animal, rastreabilidade, entre outros requisitos. “Essa chancela dá aos consumidores brasileiros garantias totais da produção da carne suína produzida em São Paulo e também vai de encontro às principais exigências dos países importadores”, explica Ferreira. Vale ressaltar que as empresas participantes do Selo são auditadas e certificadas pela Fundação Vanzolini.

O objetivo final dos suinocultores paulistas é a formação de um pool de empresas, todas participantes do Selo Suíno Paulista, para então, via um órgão agenciador, viabilizar sua participação no mercado internacional de carne suína.

O presidente da APCS entende, no entanto, que é preciso uma maior organização do setor e uma parceria mais efetiva com o governo federal e estadual para concretizar as exportações suinícolas do Estado. Segundo Ferreira, ainda faltam ajustes importantes. Um deles é no aspecto sanitário. “Para que consigamos exportar precisamos contar com um programa de defesa sanitária compatível com as exigências do mercado internacional”, explica Ferreira.

Um dos palestrantes do evento, Duarte Nogueira, secretário Estadual de Agricultura, deu total apoio ao projeto de internacionalização dos suinocultores paulistas. “A exportação é uma importante ferramenta para a criação de empregos. Portanto, qualquer esforço nesse sentido é sempre bem vindo”, afirmou. De acordo com ele, a questão sanitária é uma das prioridades da Secretaria Estadual de Agricultura. “Estamos assinado vários convênios que permitirão que a defesa sanitária seja intensificada em nosso estado”, informou.

Outro requisito citado pelo presidente da APCS para viabilizar as exportações suinícolas do Estado é a criação de um Fundo Sanitário (através de uma parceria entre os setores público e privado) que permita a implementação de políticas sanitárias. “A criação desse Fundo nos daria condições de implantar políticas sanitárias, sobretudo preventivas e emergenciais, para que o setor possa efetivamente mostrar aos países importadores que o Estado tem uma estrutura sanitária sólida e eficiente”, argumenta Ferreira.

Nesse aspecto, mais uma vez o encontro se mostrou bastante produtivo. Ferreira Jardim, delegado do Mapa de São Paulo, se prontificou em agendar uma reunião com os demais segmentos produtivos de proteína animal do Estado, avicultura e bovinocultura, para que juntos os três setores possam discutir a formação do Fundo Sanitário.

O Ciclo de eventos ainda foi palco para a assinatura de seis novas adesões ao Programa Selo Suíno Paulista. Com a adesão dos seis novos suinocultores o Estado de São Paulo conta agora com 13 mil matrizes com o selo de qualidade de Suíno Paulista. A Meta da APCS é elevar essa marca para 20 mil matrizes até o final do ano. “É uma vitória para a suinocultura paulista e de toda a cadeia produtiva, pois a partir de agora podemos dizer que 10% de nosso plantel têm uma certificação de origem”, afirmou Ferreira.

Background – A fim de mostrar aos suinocultores paulistas o “modus operandi” do mercado internacional de carne suína e implicações desse tipo de operação, a APCS convidou para o evento dois especialistas bastante familiarizados com o assunto.

Em sua apresentação, o Ferreira Jardim falou sobre os desafios do Brasil no mercado internacional de carne suína. Segundo ele, o principal desafio do sistema produtivo suinícola é a defesa sanitária e citou a Febre Aftosa como um obstáculo para o aumento das exportações brasileiras. “É preciso que todos os elos da cadeia suinícola, em parceria com o governo, se engajem na erradicação da Febre Aftosa”.  Jardim citou a ocorrência dos dois focos de Aftosa no ano passado (um no Pará e outro na Amazônia) mostrando o quanto a enfermidade pode prejudicar as exportações do setor. “Os focos de aftosa fizeram com que até as exportações de carne de frango fossem suspensas imagine as do próprio setor”.  Segundo ele, a distinção entre países livres e não livres de Aftosa define o comércio mundial de carne suína fresca, resfriada e congelada.

Jardim também chamou a atenção dos suinocultores para a importância do controle e erradicação de outras enfermidades suinícolas como a Febre Suína Africana, Peste Suína Clássica e Aujeszki. “Barreiras sanitárias são muito fáceis de serem criadas. Essa é uma realidade do comércio internacional”, alertou.

De acordo com Jardim, o Governo brasileiro vem trabalhando pesado para a abertura de novos mercados para a carne suína brasileira. As empresas interessadas em participar do mercado internacional, no entanto, argumenta, precisam fazer a lição de casa e estar preparadas para atender as exigências dos países importadores. “Os países importadores são muito exigentes. Para exportar as empresas têm que atender a uma série de requisitos e isso demanda uma boa estrutura”, adverte.

Vetor de modernização – Na outra apresentação, Pedro Camargo Neto, diretor executivo da Abipecs, falou sobre como o Brasil vem trabalhando para ampliar sua participação no mercado internacional de carne suína e sobre as exigências dos países importadores.

Segundo ele, a exportação funciona como um importante vetor de modernização de qualquer setor produtivo. “Embora o consumidor interno seja nosso maior patrimônio é a exportação que faz o setor suinícola crescer a grandes índices”, afirma. Camargo comparou o mercado internacional a uma corrida de obstáculos. “E o primeiro e mais difícil obstáculo é a questão sanitária”. Segundo o diretor executivo da Abipecs, um dos maiores desafios atuais do setor suinícola é a erradicação da Febre Aftosa. “O Brasil precisa de avanços mais rápidos nessa batalha”, afirma.

De acordo com Camargo, embora esteja trabalhando para ampliar sua participação no mercado internacional o Brasil ainda não está preparado para receber novas missões de países bastante exigentes como os da União Européia e Japão. “Esses países são muito exigentes e se o Brasil quer vender para eles tem que estar preparado para recebê-los, mostrar o que temos de bom e, principalmente, trabalhar para corrigir nossas deficiências”, afirma.

Segundo ele, a o Brasil precisa promover o aprimoramento de sua estrutura sanitária antes de pleitear o mercado desses países. O Brasil tem que demonstrar, argumenta, que está efetivamente preparado para reagir imediatamente no caso da ocorrência de algum evento sanitário. “Isso exige que o País tenha escritórios de defesa animal em todos os estados produtores, veterinários treinados em cada escritório, rebanhos cadastrados, um controle efetivo do todo o trânsito dos animais etc.”, explica. “O Brasil tem tudo isso, mas ainda com algumas deficiências. É preciso corrigir essas deficiências para que possamos receber essas missões”, avalia o diretor executivo da Abipecs.

Bomba relógio – Camargo traçou também algumas perspectivas para o setor suinícola para este e o próximo ano. Segundo ele, o setor vem aumentando sua produção, fato que pode causar um desequilíbrio entre oferta e demanda no ano em 2006. “Temos uma bomba relógio armada. Se não abrirmos novos mercados o setor terá problemas em 2006, pois será obrigado a fazer o ajuste do prejuízo”. Segundo Camargo, o Brasil deve fechar 2005 com um aumento de 10% em suas exportações. “Deveremos exportar este ano cerca de 550 mil toneladas, o que garantirá um bom ano para a suinocultura brasileira”, diz.

De acordo com Camargo, o quadro serve de alerta, mas não deve ser interpretado com pessimismo pelos suinocultores. “O aumento da produção é resultado de uma melhor produtividade, de tecnologia, de um bom ano que se passou no qual o produtor se capitalizou e estes são fatores positivos”, diz. “Mas significa que em 2006 teremos uma produção maior e precisaremos exportar mais, já que não é fácil fazer crescer a demanda interna rapidamente”, explica.