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Sadia eleva oferta por Perdigão

<p>A Sadia elevou ontem em 4% sua oferta para adquirir a Perdigão.</p>

Redação (21/07/06) –  A empresa comunicou que está disposta a pagar R$ 29,00 por ação da concorrente. O valor anterior, anunciado na segunda-feira, era de R$ 27,88 por ação. O novo preço representa um prêmio de 40,4% sobre a cotação média das ações da Perdigão nos 30 dias anteriores ao início da oferta. O novo preço eleva em R$ 165 milhões o valor oferecido pela Sadia por 100% das ações da Perdigão, para R$ 3,88 bilhões.

O Valor apurou que os fundos de pensão, que juntos têm 49,5% do capital da Perdigão, devem rejeitar a nova proposta mais uma vez. ” Não é nossa intenção fazer leilão. Além do preço, não gostamos da forma como a oferta foi feita ” , informou fonte de uma das fundações. Já na noite de ontem, a Previ, após reunir seu conselho, enviou à Perdigão comunicado informando que rejeita a nova oferta.

As fundações têm estimulado bancos de investimento a trazer novas propostas de aquisição de suas ações na Perdigão. Grupos estrangeiros, entre eles a Tyson Foods, Smithfield e a Cargill já foram procurados.

Na terça-feira, os fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Fapes (BNDES), Valia (Vale do Rio Doce), Sistel (Telebrás), Real Grandeza (Furnas) Previ-Banerj (sistema Banerj), PSPP (da Perdigão) e a WEG Participações haviam rejeitado a primeira oferta por considerar o valor muito baixo.

Como os acionistas que rejeitaram a proposta detêm juntos 55,38% do capital da Perdigão – o que inviabilizaria a intenção de a Sadia adquirir 50% mais uma ação -, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) havia dado 24 horas para a Sadia informar se retiraria ou não a oferta. A Sadia decidiu mantê-la e elevar o valor. Na terça-feira, o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, havia admitido que os acionistas poderiam mudar de idéia ” especialmente se o preço fosse maior ” .

Em comunicado à CVM esta semana, a Perdigão informou não apenas a recusa dos acionistas ao preço de R$ 27,88, mas também argumentou que a oferta não é válida porque não havia sido cumprido o artigo 37 do estatuto da companhia, que prevê que o investidor que adquirir 20% ou mais de participação tem, obrigatoriamente, de fazer em no máximo 30 dias uma oferta de aquisição de ações de todos os outros acionistas. Para a Perdigão, ao fazer referência ao estatuto em sua proposta, a Sadia teria de cumprir a etapa de adquirir uma participação minoritária primeiro, para depois fazer uma oferta por 50% mais uma ação.

Com a decisão da Sadia de elevar a oferta, a CVM terá agora de se pronunciar sobre a validade da oferta hostil, a primeira do mercado brasileiro. Ancorada em dois pareceres – do ex-presidente da CVM Luís Leonardo Cantidiano e do ex-diretor da CVM Nelson Eizirik – a Sadia argumenta que a oferta a 100% dos acionistas já inclui a etapa anterior, de aquisição dos 20%.

Se a CVM considerar válida a oferta, a Perdigão terá de contratar um banco de investimentos para fazer um laudo de avaliação da companhia em 45 dias, a menos que acionistas com participação superior a 50% continuem a recusar a oferta, forçando a Sadia a retirá-la. ” Esperamos que esse novo valor seja aceito e que a Perdigão providencie seu laudo de avaliação ” , diz Mauro Guizeline, sócio do escritório Tozzini, Freire, Teixeira e Silva Advogados, que assessora a Sadia na operação. ” E esperamos que os fundos de pensão, desta vez, deixem a operação fluir. ”

Para o executivo de um banco de investimentos, é pouco provável que as fundações aceitem prontamente o valor de R$ 29, já que relatórios recentes de analistas indicam cotação superior a R$ 30. ” Se há análises com valores entre R$ 34 e R$ 37, essa nova oferta não altera o quadro ” , diz uma fonte ligada à Perdigão.

Além disso, segundo o Valor apurou, a Previ (que tem 15,72% do capital da Perdigão) considera que a venda à Sadia seria um retrocesso em sua estratégia de ampliar a governança corporativa das empresas de sua carteira. No início do ano, o fundo de pensão, que também tem uma participação de 9% na Sadia, tentou eleger um membro para o conselho de administração da empresa, mas teve sua proposta rechaçada.

Especialistas do mercado financeiro ressaltam que o limite para a Sadia elevar novamente a oferta é seu endividamento e que as agências de classificação de risco já colocaram a empresa em observação. O banco Real ABN Amro, que estruturou a proposta da Sadia, colocou à disposição da companhia um empréstimo-ponte de R$ 4 bilhões, com vencimento em dois anos.

Para convencer os acionistas, a Sadia e o ABN começaram a fazer um corpo-a-corpo com grandes investidores financeiros e com os fundos de pensão. O Valor apurou que ambos acreditam que é possível provocar um racha nos fundos de pensão, já que, em negociações anteriores de fusão entre as duas empresas, as fundações apresentaram interesses divergentes.

Ontem, a Perdigão lançou campanha publicitária de R$ 30 milhões. Um dos anúncios ressalta a qualidade dos produtos Perdigão e diz que ” o que ninguém sabia é que até a Sadia percebeu isso ” .