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Saúde animal ganha força e anima Fort Dodge

<p>Os produtos da empresa destinam-se aos segmentos de bovinos, aves, suínos, animais de companhia (cães, felinos e eqüinos) e ovinos. </p><p></p>

Redação (22/09/2008)- O segmento de saúde animal vive um período próspero no Brasil. Este ano o crescimento deve ser de 9%, principalmente em função da conscientização dos produtores em relação às boas práticas e ao manejo no campo, como também pelo aumento das exigências por parte do governo federal, mais especificamente do Ministério da Agricultura. Além disso, o aumento do poder aquisitivo da população faz com que os cuidados com os pequenos animais, como cães e gatos, aumentem, fazendo com que o mercado fique mais aquecido. Essa é a visão de Diptendu Mohan Sen, presidente da Fort Dodge Animal Health no Brasil.

A companhia é uma empresa multinacional de origem norte-americana, fabricante de produtos farmacêuticos para a saúde animal. Os produtos da Fort Dodge destinam-se aos segmentos de bovinos, aves, suínos, animais de companhia (cães, felinos e eqüinos) e ovinos.

Para falar sobre o mercado e também sobre as pesquisas feitas no País, no setor, Mohan Sen concedeu entrevista ao programa "Panorama do Brasil", apresentado por Roberto Müller e que irá ao ar hoje pela TVB. Participam também da entrevista a editora de Agronegócios do jornal DCI, Ana Paula Quintela, e Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM.

Roberto Müller: Como está o mercado de saúde animal? Vocês produzem para todos os tipos de animais? São remédios, vacinas?

Diptendu Mohan Sen: Nós produzimos para toda a gama de animais. Nosso maior negócio é para grandes animais, bovinos, caprinos, ovinos e eqüinos. Também produzimos vacinas e medicamentos para pequenos animais, gatos, cachorros, para aves e para suínos também. Temos os quatro negócios, como chamamos, todos dentro da nossa companhia. Falando do mercado em si, este ano vai muito bem, felizmente. Estamos em uma boa onda, como se diz.

Roberto Müller: Isso em grandes animais, em função do crescimento da pecuária? Por que está indo tão bem assim?

Diptendu Mohan Sen: Os bovinos têm um ciclo de sete anos. Há um ano, nós entramos em um ciclo bom. O preço do leite está bom e o da carne melhorou bastante. Finalmente, o fazendeiro tem condições para trabalhar melhor. Estamos bastante bem.

Roberto Müller: Tem condições e consciência da necessidade disso?

Diptendu Mohan Sen: Sem dúvida. Com as exportações, o Brasil vai ser o celeiro do mundo. Todos sabem que este país é privilegiado e agora nós vamos aproveitar isso para ter liderança nesses segmentos de carne bovina, aves, até mesmo suínos. Realmente o Brasil vai ser um dos mais importantes players do mundo.

Ana Paula Quintela: Diante desse crescimento que o mercado está mostrando, como um todo, quanto a Fort Dodge espera crescer este ano, em termos de faturamento e de produção?

Diptendu Mohan Sen: Este ano esperamos ter vendas de R$ 145 milhões, contando apenas o mercado doméstico, sem as exportações. O crescimento será de mais de 10% em relação ao do ano passado. O mercado crescerá cerca de 1% a menos do que nós.

Roberto Müller: Entre produção no mercado interno e exportação?

Diptendu Mohan Sen: Eu não conto exportação porque nosso objetivo no Brasil não são os embarques, outros mercados tomam conta dessa parte. Mas nossa fábrica, este ano, vai exportar o equivalente a aproximadamente US$ 20 milhões. Quando chegamos aqui, nossas exportações eram de US$ 2 milhões. Realmente crescemos bastante.

Roberto Müller: Mesmo com o real valorizado?

Diptendu Mohan Sen: Estamos começando a perder alguma coisa. Todos reclamam do aumento do custo. Nós temos de mudar fora do conceito de produto mais barato. Aí o Brasil vai vender. Vamos vender produtos que têm mais tecnologia, que têm um atrativo maior do que preço. Na minha opinião, se você vende em função de preço, você está jogando o jogo do outro, porque também pode baixar preço. Mas, quando você tem uma diferenciação, isso é que atrai o comprador.

Ana Paula Quintela: Vocês fazem estudos e pesquisas aqui no Brasil ou vem de fora toda essa tecnologia?

Diptendu Mohan Sen: Gostaríamos de fazer muito mais. De três anos para cá nós construímos um laboratório aqui. Gastamos cerca de US$ 300 mil na construção do laboratório de pesquisas. Estamos pesquisando aqui, mas a maioria delas está fora do Brasil. Esta é uma condição que estamos tentando mudar porque a pesquisa aqui é bastante produtiva. Estamos tentando mostrar a nossa matriz que aqui podemos fazer algo muito mais eficaz e eficiente.

Milton Paes: Esses medicamentos são produzidos totalmente no exterior ou alguma coisa já é produzida aqui no Brasil?

Diptendu Mohan Sen: Se você olhar por porcentagem, 50% são produzidos na nossa fábrica aqui; 15% são feitos por terceiros, pois qualificamos dois ou três parceiros também produzindo no Brasil; e o restante, ou seja, 35%, nós importamos. Por exemplo, vacina para pequenos animais é feita em apenas um lugar e levada para os outros. Também o produto que estamos lançando contra a circovirose em suínos, é importado por ser feito em apenas um lugar, em função de economia. Nossa fábrica brasileira está especializada em aves e suínos e vários farmacêuticos estão incluídos.

Milton Paes: Hoje, com o dólar baixo, alguns medicamentos têm custo mais baixo se importados do que se produzidos aqui?

Diptendu Mohan Sen: Sim, são mais baratos. Mas o mercado brasileiro é tão competitivo que eu acho que não é tão fácil mudar. O Ministério da Agricultura tem regras bastante fortes. Só porque o dólar baixou, você vai importar? Não é tão fácil assim, pois você tem de registrar o produto, precisa fazer pílula piloto, aprovar a fábrica. Tem uma gama de coisas que você tem de fazer. Também é um mercado de oportunidade.

Roberto Müller: Você atribui esse crescimento ao esforço que o Brasil teve de fazer para vencer as barreiras sanitárias que existem nos outros países aos quais nós exportamos? O seu crescimento depende do esforço dos produtores e das exigências do mercado externo?

Diptendu Mohan Sen: É uma boa pergunta. Eu não saberia dizer quanto. Eu acho que o nível de exportações de aves já era grande porque Sadia, Perdigão e Aurora, e outras, são mais eficientes do que companhias lá fora. Eles produzem frango mais barato aqui do que qualquer outro produtor faz lá fora. Então, eles têm uma vantagem: eles são bastante tecnicizados e conceituados. Agora, eu não sei o que vai acontecer. Acho que mesmo com essas exigências dos governos, o nosso mercado vai crescer, sim.

Milton Paes: E em relação aos animais de pequeno porte, está crescendo esse mercado para vocês?

Diptendu Mohan Sen: Sim, está. Neste momento, a nossa fatia é de 15% em pequenos animais. Nos Estados Unidos nossa fatia é de 40% a 50%. Quando eu cheguei aqui, nosso mercado no Brasil era de 6% em vendas para pequenos animais. Eu não acredito que aqui irá chegar a 50%, porque bovinocultura, aves e suínos sempre vão ser muito fortes. Mas, eu acredito que vá chegar a 30%.

Milton Paes: O crescimento para pequenos animais também provém de exigências maiores por parte do governo?

Diptendu Mohan Sen: Animal de pequeno porte é um movimento social. Quando a população fica mais rica, os hábitos mudam e o animal de pequeno porte fica mais importante para as pessoas, e é isso que está acontecendo no momento. O processo que o Brasil está seguindo é muito similar ao que os Estados Unidos e a Europa seguiram. É mais ou menos a mesma coisa. A família fica menor e você tem cachorro e gato para companhia – e com traços afetivos, não só de guarda. Eu acredito que vá continuar assim.

Roberto Müller: Nessas áreas onde há risco de epidemia, os senhores produzem medicações também?

Diptendu Mohan Sen: Sim. Em algumas dessas áreas nós produzimos. Nessa questão de zoonoses, como, por exemplo, a gripe aviária, nós produzimos vacinas para aves contra essa doença. Essas vacinas estão registradas em alguns países. Aqui no Brasil o nosso dossiê está com o governo, então, se houver algum problema, o governo irá liberar rapidamente para poder tratar da questão.

Roberto Müller: Ela só é produzida no exterior? Nos Estados Unidos?

Diptendu Mohan Sen: Sim. Elas não são produzidas no Brasil.

Roberto Müller: Nós esperamos que isso não venha a ocorrer no Brasil, mas, se isso acontecer, se houver um foco, é rápido trazer essas vacinas?

Diptendu Mohan Sen: Depende da quantidade. Eu não posso dizer que é rápido, mas, se obviamente o governo for precisar, faremos o máximo para trazer rapidamente ao País.

Ana Paula Quintela: Os órgãos de saúde veterinária do governo brasileiro estão mais exigentes no sentido de cobrar testes e melhorar a qualidade dos produtos que são vendidos aqui no País?

Diptendu Mohan Sen: Esse movimento é bastante forte. O ministério está atuando em várias fontes, de registro do produto a manejo do gado, acompanhando toda a rastreabilidade, e está fazendo um bonito trabalho. Agora, as barreiras de exportação são não-tarifárias e nós temos de acompanhar para não ter produto brasileiro barrado por razões sanitárias.

Roberto Müller: Nem sempre as barreiras ocorrem por haver problemas sanitários.

Diptendu Mohan Sen: Nem sempre. Hoje, a maior parte dos problemas são comerciais e políticos.

Ana Paula Quintela: Em termos de produção do próprio medicamento, o governo está mais exigente? Isso faz uma, digamos, seleção natural, entre as empresas que não estão se adaptando aos novos padrões do mercado?

Diptendu Mohan Sen: O governo publicou vários regulamentos que ditam como você vai produzir e ele faz um acompanhamento do processo com auditorias. Nossa planta, por exemplo, foi auditada três vezes. Eles fazem exigências para você arrumar isto, arrumar aquilo, para assegurar que o produto que está sendo feito ali siga o padrão que o governo brasileiro quer. Nós gastamos bastante dinheiro para nos adaptarmos a essas novas necessidades do mercado. Isso que está acontecendo é muito bom. Afinal, é bom para nós também, pois não deixa produto ruim entrar no mercado.

Milton Paes: Há alguma regulamentação no setor?

Diptendu Mohan Sen: Sim, existe. Há uma série de regulamentos. A indústria de saúde animal é regulamentada como uma indústria farmacêutica. O objetivo do governo é ter um padrão bem próximo do padrão farmacêutico. Estamos transitando para esse nível.

Ana Paula Quintela: Vocês fazem algum trabalho de orientação do produtor ou do dono de pequenos animais, como uma estratégia de marketing?

Diptendu Mohan Sen: Aos donos de pequenos animais, infelizmente, não chegamos, pois são muitos proprietários e é difícil chegar. Mas para o produtor, sim. Esta é realmente a nossa responsabilidade. Esta é, na realidade, a única maneira de vender. Produto você vende ou por meio de preços ou por meio de benefícios que esse produto traz. Você vende programas de sanidade e para isso nós temos força de vendas que vai para a fazenda e fala com o fazendeiro, vê que tipo de problemas ele tem e, depois, montamos programas para ele. Levamos também consultores de bem-estar e manejo do animal, por exemplo. Levamos todos os tipos de programa para eficiência.

Milton Paes: Vocês fazem esse mesmo tipo de trabalho junto a faculdades de Medicina Veterinária?

Diptendu Mohan Sen: O trabalho que fazemos dentro de universidades é de dois tipos: um deles é um programa de estagiários muito forte. Nós trazemos pessoas para dentro da empresa, onde eles ficam por quatro meses. Esse programa é muito bom para nós. Um dos nossos diretores saiu de um programa desses. Realmente nos beneficiamos muito. O segundo tipo de programa que temos visa a conversar com alunos do quarto ano de Veterinária sobre nossos produtos, sobre tipos de doenças, etc. Também estamos tentando fazer alguma coisa em relação a pesquisa. Mas nesse aspecto, fora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), as universidades não estão muito orientadas para pesquisas que resultam em produtos. Eu acho que isso pode ser algo deve ser trabalhado.

Roberto Müller: Eu vi que, quando o senhor falou de pesquisa, disse que queria crescer nessa área no Brasil. Como este é um terreno fértil para o desenvolvimento de pesquisas e de produtos num país com as dimensões do Brasil e que tem essa multiplicidade de raças de animais, as universidades começam a ficar mais parceiras das empresas, e isso vem crescendo no Brasil, com instituições como a Fapesp, que tem articulação com o setor privado. Eu pergunto se o senhor pretende, ou tem esperança, de passar a ser também um pesquisador e um produtor de medicamentos feitos no Brasil?

Diptendu Mohan Sen: Gostaríamos muito. No momento estamos com duas ou três parcerias desse tipo com professores nas universidades. Estamos cooperando em algumas áreas, como, por exemplo, a de vacina contra carrapato e a de nanotecnologia. Mas é muito devagar, muito burocrático e difícil. Nós, como empresa privada, não podemos ir diretamente ao professor. Temos de ir por meio de uma fundação. Temos de ter aprovação não só da nossa matriz nos Estados Unidos, mas aprovação aqui também. É devagar.

Roberto Müller: Qual a impressão que o senhor tem, com a experiência que a sua empresa tem, que é internacional, do nível de conhecimento dos profissionais da área de saúde animal do Brasil? Já estamos bons? Temos boas universidades, ou ainda falta muito a fazer?

Diptendu Mohan Sen: Estamos muito bons. Obviamente, da mesma forma que existem os bons, existem aqueles que não são tão bons assim. Há muitas universidades. Esse é um assunto que os médicos veterinários têm que tratar, porque há muita gente saindo para o mercado. Uma coisa da qual nós temos muito orgulho é que nós somos uma escola de talentos para fora do País. Há brasileiros que trabalham aqui, no Brasil, que vão para fora do País a fim de colaborar quando há algum problema. O nível dos brasileiros é muito bom. Nada ficam a dever a ninguém.