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Selecta em MG

<p>Estreia da processadora de soja é considerada ponto-chave no plano de recuperação judicial da companhia.</p>

A fábrica de processamento de soja da Sementes Selecta em Araguari (MG), que estava em construção quando a empresa se complicou financeiramente no ano passado, finalmente começou a operar. Esse é considerado um ponto-chave do plano de recuperação judicial da companhia. O fluxo de caixa gerado pela venda da produção será a principal fonte de recursos para saldar a dívida renegociada com credores bancários.

O primeiro embarque para exportação de concentrado de proteína de soja (SPC) acontece agora em junho. O produto, ingrediente que pode substituir a proteína animal na fabricação de ração animal, foi comprado por duas das maiores produtoras mundiais de peixe, dos dos países nórdicos. A primeira venda será de 7 a 8 mil toneladas e representará um faturamento de US$ 5 milhões.

Desde fevereiro a fábrica, que custou US$ 120 milhões, já produz óleo e farelo de soja para clientes do mercado doméstico (1,5 mil toneladas por dia). Mas a grande aposta da empresa é mesmo o concentrado de proteína do grão, pelo seu maior valor agregado. Os maiores clientes, que estão na mira da Selecta, estão na Ásia e no Chile, além dos países nórdicos.

Maurício Mendes, presidente da empresa, diz que a fábrica está operando ainda com um terço da sua capacidade total, que é de 25 mil toneladas por mês. Ele acredita que de junho em diante a Selecta conseguirá manter no mínimo o mesmo volume de exportação de junho e crescer.

A Selecta está em recuperação judicial há pouco mais de um ano e no fim de 2008 fechou acordo para vender seu negócio de originação de soja e outros grãos, por US$ 30 milhões, à Los Grobo Agro Brasil, uma empresa que pertence ao maior produtor de soja argentino e ao fundo Pactual Capital Partners (PCP). A Los Grobo também ficou com uma opção com prazo de três anos para comprar 90% da fábrica e a marca Selecta, pagando outros US$ 25 milhões.

“O grande desafio agora é conseguir garantir um fluxo de produção e exportação para a fábrica”, diz André Sá, vice-presidente financeiro da Los Grobo Agro Brasil. Segundo ele, é difícil fazer previsões comerciais de mais longo prazo, mas as perspectivas de curto parecem boas. A primeira parcela da dívida reestruturada da Selecta, de R$ 15 milhões, terá que ser paga no fim deste ano.

Sá explica que uma das razões pelas quais a Los Grobo não ficou também com a fábrica é que a planta ainda não era operacional. Ou seja, ainda tinha que se provar. “A fábrica tinha o desafio de funcionar, nós não tínhamos experiência na área industrial e nem balanço para absorver toda a dívida da Selecta.”

A dívida com os bancos era de US$ 400 milhões e, depois de renegociada, caiu para US$ 250 milhões – ainda bastante alta. A empresa conseguiu obter um cronograma mais tranquilo de pagamentos, em até dez anos, e alguns dos bancos injetaram capital de giro no negócio.

A empresa, com sede em Goiás, quebrou depois de perder US$ 160 milhões em operações na Bolsa de Chicago, que haviam sido feitas para protegê-la das oscilações de preços do grão. A empresa também havia se endividado pesadamente para construir a fábrica e a combinação das duas coisas levou-a à insolvência. Até agora, a Selecta tem se mostrado um caso bem-sucedido de recuperação judicial. A empresa não precisou fazer demissões. A nova fábrica emprega 300 funcionários diretos e no auge da fase de construção, chegou a empregar mil trabalhadores.

Maurício Mendes sabe que ainda é cedo para discutir se a Los Grobo exercerá ou não sua opção de comprar o controle da fábrica, mas ele não esconde ser esse o seu desejo. “Trabalhar em conjunto com o PCP é saudável, é importante ter musculatura financeira, porque os grandes grupos lá fora, como Bunge e Cargill, têm essa força.”