Erlete Vuaden durante debate |
Redação SI 03/07/2003 –
O aumento da preocupação com o bem-estar animal aliado a busca por uma carne sem resíduos tem se tornado tema recorrente em discussões pelo mundo, principalmente na Europa. No Brasil, alternativas ao sistema atual de produção como a do suíno orgânico ou o uso de medicamentos homeopáticos em lugar dos alopáticos na própria produção industrial, estão ganhando espaço nas discussões entre os produtores.Estas alternativas e seus resultados foram apresentadas em evento da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS) e do Fundo de Desenvolvimento da Suinocultura no Estado de São Paulo, em conjunto com a Câmara Setorial da Carne Suína do Estado de São Paulo, no dia 30 de junho em Campinas (SP).
A experiência de se produzir o suíno orgânico foi apresentada por Milton de Azevedo Gonçalves. Suinocultor há quase 20 anos, ele passou a desenvolver a criação orgânica, de forma auto-didática, há 8 anos em sua propriedade localizada em Santo Hipolito (MG). Os animais são criados soltos em piquetes que podem ter até 6 hectares, dependendo da fase de vida.
Embora seja servida uma ração com produção própria e formulação específica, toda a base alimentar dos suínos é composta por frutas da época, verduras e legumes. Elas também são responsáveis por suprir as necessidades vitamínicas dos animais. Um exemplo é vitamina B2. A sua falta provoca crescimento lento dos leitões e pode ocasionar falhas reprodutivas. Para atender a necessidade específica desta vitamina são oferecidos plantas ricas com B2 como feijão guandú, taioba ou leucena.
O produtor de suínos orgânicos Milton Gonçalves |
Como uma das principais fontes de energia, o produtor utiliza a cana-de-açúcar, que é servida a vontade, de forma inteira e com as folhas. “A cana é um grande energético e corresponde a 50% da alimentação do meu suíno”, afirmou Gonçalves. Ele controla toda a cadeia, produzindo boa parte do que é servido aos animais, cujo abate é realizado num frigorífico próprio e comercializado sob a marca Casa Branca em casas de carnes e outros estabelecimentos especializados de Belo Horizonte (MG).
Seus produtos são cortes congelados e dois tipos de linguiça. De acordo com Gonçalves, o preço obtido por eles é 20% maior se comparado com o convencional comercializados em Boutiques de Carnes.
Em sua produção, Gonçalves também só se utiliza de homeopatia e a fitoterapia. “O antibiótico não combina com alimento”, destaca. (Veja todos os detalhes deste sistema produtivo na edição número 6 da revista Suinocultura Industrial).
Homeopatia – A médica veterinária da M.Cassab e mestranda em homeopatia animal, Erlete Vuaden, fez a segunda palestra do dia apresentando os principais conceitos da terapia homeopática. Ela enfatizou que não há nada de místico na homeopatia e sim ciência. Desenvolvida no século XVIII pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann, a homeopatia trabalha com a força vital que mantém o organismo em harmonia e define saúde como um estado de equilíbrio. “Não há doença física sem um distúrbio emocional anterior e o mesmo ocorre com os suínos”, relatou a veterinária.
Erlete acredita que com a tendência de se proibir os antibióticos na produção animal, a homeopatia surge como principal substituta. Ela explica que os medicamentos não deixam resíduos na carne, possui baixo custo, não deixa gosto na ração e pode agregar valor a carne. “Os suínos também ficam mais calmos e até reduz o seu cheiro”.
A retirada dos antibióticos nas granjas, de acordo com Erlete, faz com que apareçam doenças subclínicas. Elas ficam camufladas pelo uso contínuo do antibiótico e geram prejuízos ao produtor, que não consegue identificar a origem. Com a retirada destes tipos de medicamentos, elas aparecem de forma clara e fica mais fácil estabelecer um tratamento. “Não sou contra o uso de antibióticos em alguns casos, mas não entendo porque usa-lo se o animal não está doente”, ressalta a veterinária.
Erlete também apresentou os principais resultados obtidos na Granja Querência, localizado em Salto, interior de São Paulo, onde desde 2001 foram substituídos todos os antibióticos por medicamentos homeopáticos. Ela coordena os trabalho desde o início e, entre vários índices apresentados, está o de ganho de peso, que aumentou. Com a alopatia ele era de cerca de 602 gramas e com a homeopatia atingiu 627 gramas.
A Querência resolveu adotar a homeopatia porque não vinha obtendo resultados zootécnicos satisfatórios e também havia o alto custo dos antibióticos. A vacinação segue os padrões normais de sanidade. “A vacina é um bioterápico e não há o porquê retirá-la”.