Da Redação 30/07/2004 – 06h19 – Não é difícil fazer Michael Pragnell rir. À vontade, este inglês de 57 anos, CEO da Syngenta, disse nesta quinta-feira ao jornal “Valor Econômico”, na Basiléia (Suíça), que já esteve várias vezes no Brasil e que o país tende a ganhar importância para a multinacional no futuro próximo, em uma estratégia que também deverá privilegiar Argentina e Leste Europeu. Paralelamente ao desenho deste novo “mapa” dos negócios, a empresa também desperta para novos mercados, como enzimas para ração animal e biocombustíveis.
Simpático, o inglês disse que só sorriria para as fotografias se contassem uma piada. Mas nada tirava seu bom humor, nem mesmo o forte sol – atípico na Suíça mesmo para o verão. A alegria veio com os resultados globais da companhia no primeiro semestre, considerados extremamente positivos. A receita alcançou US$ 4,588 bilhões, 12% mais que em igual período de 2003, e o lucro líquido fechou em US$ 964 milhões, com um salto de 83%. O Ebtida também aumentou, 17%, e atingiu US$ 1,367 bilhão. A múlti também reduziu seu endividamento líquido, de US$ 1,063 bilhão para US$ 590 milhões.
O bom desempenho, destacou Pragnell, refletiu o crescimento das vendas nas duas divisões do grupo – defensivos agrícolas e sementes. As vendas de defensivos tiveram destaque especial nos países da América Latina, sobretudo Brasil e Argentina, e também nos países europeus, que tiveram um clima melhor que na safra anterior. Somente as vendas globais de fungicidas da empresa aumentou 19% no período, por conta, especialmente, da ferrugem da soja.
Do faturamento global da Syngenta no primeiro semestre, a divisão de defensivos respondeu por 81,5% das vendas, ou US$ 3,742 bilhões (incremento de 11% sobre o primeiro semestre de 2003). A área de sementes ficou com os 18,5% restantes, ou US$ 846 milhões (elevação de 15% sobre igual período do ano passado). No primeiro semestre de 2003, a participação dos defensivos nas vendas foi de 82,1%, e a de sementes, 17,9%. A expectativa é que a área de sementes avance um pouco mais, de acordo com o executivo. “Mas são dois mercados complementares”, justificou.
Pragnell volta a sorrir ao detalhar a nova geografia que começa a ser desenhada pela Syngenta, hoje ainda concentrada no Hemisfério Norte. O executivo garantiu que a companhia continuará brigando pelo competitivo mercado dos EUA – onde é líder em defensivos -, mas reitera que as atenções estão voltadas à América Latina e ao Leste Europeu, este com novos consumidores que deverão dar maior robustez às vendas européias, estagnadas nos últimos anos.
Por enquanto, as vendas na América Latina representam pouco do faturamento total do grupo. Neste primeiro semestre, a região respondeu por 3% das receitas totais com sementes e 9% do faturamento em defensivos agrícolas. Dos US$ 337 milhões de receita na América Latina para defensivos – 39% mais que no mesmo período do ano passado, o maior crescimento percentual entre as regiões em que a Syngenta atua -, o Brasil respondeu por 60%. Em sementes, o Brasil também abocanhou 60% dos US$ 27 milhões de faturamento latino da divisão. O executivo disse que essas regiões devem crescer mais que as demais, já dominadas pela Syngenta. No mercado brasileiro, a múlti suíça disputa a liderança com a alemã Bayer.
Para fortalecer a participação do Brasil em seus resultados, a Syngenta promete investir cerca de US$ 5 milhões no país neste ano, dos quais US$ 1 milhão serão destinados à ampliação de sua capacidade de produção de fungicidas, que atualmente fica entre 3 milhões e 5 milhões de litros, volume suficiente para atender toda a América Latina – exceto o México. Conforme explicou em entrevista telefônica Valdemar Fischer, presidente da área de defensivos para Brasil e América Latina, a empresa lançou neste ano um produto para combater a ferrugem, mas ele ainda é importado pela filial brasileira desde a Europa, onde o princípio ativo foi desenvolvido. Os outros US$ 4 milhões serão investidos em marketing e novos produtos.
“O Brasil poderá encerrar este ano com aumento de 50% nas receitas, como aconteceu no ano passado”, afirmou Fischer. O faturamento da Syngenta do Brasil em 2003 foi de US$ 552 milhões.
Dentro da filosofia de novos mercados que a Syngenta está buscando, o Brasil é o segundo, atrás do México, para a comercialização de enzimas em ração animal, cujo metabolismo acelera a digestão animal. Esse é um mercado que a Syngenta prospecta e aguarda a liberação dos governos dos EUA e da União Européia para comercializar essas enzimas, segundo Jeffrey Beard, diretor global da divisão de sementes da multinacional.
Também do Brasil foi tirado o modelo de biocombustível que a Syngenta começa a ser desenvolvido na Inglaterra. Pelo modelo, a empresa deverá extrair combustíveis de óleos vegetais. No caso inglês, a colza.
Também no foco dos suíços está a aprimoramento da biotecnologia, explicou John Atkin, diretor global de defensivos do grupo. A companhia não acredita que as vendas de sementes transgênicas na União Européia saltem com a maior flexibilização do bloco, mas acha que o segmento será forte no Brasil, mesmo com a lei de plantio do grão modificado ainda à espera de aprovação no Congresso.
A crescente área de biotecnologia demanda investimentos da empresa da ordem de US$ 150 milhões por ano. Outros US$ 450 milhões são para pesquisas em defensivos e US$ 120 milhões para sementes, detalhou Pragnell. Para os próximos três anos, a empresa também quer avançar nos mercados de sementes de flores – sobretudo na Ásia e na África -, em alimentos frescos e vegetais.