Redação (11/08/06)- O valor de mercado da Perdigão ontem voltou a R$ 3,08 bilhões, o mesmo apurado no dia 14 de julho passado, a sexta-feira anterior à oferta feita pela Sadia para compra do controle da empresa. Na segunda-feira em que a oferta foi oficializada, as ações subiram 17%, e o valor de mercado da companhia bateu R$ 3,62 bilhões, conforme o Valor Data.
A possibilidade de a Sadia adquirir a Perdigão, criando uma gigante de carnes no país e consolidando o setor, foi o motor para a alta das ações até o fim de julho passado. Mas com a dupla recusa da Perdigão às ofertas da Sadia, os papéis recuaram para patamares anteriores.
“Elas voltaram aos níveis anteriores aos da oferta porque o cenário se manteve o mesmo”, diz Rafael Weber, da Geração Futuro. Isto é, expectativa de resultados operacionais ruins no balanço do segundo trimestre da Perdigão por causa da queda das exportações de carnes de frango e suína. Além disso, perspectiva de um segundo semestre “apenas razoável”, ainda efeito das incertezas em relação ao desempenho das exportações.
As incertezas perduram já que a Rússia mantém embargo parcial à carne brasileira por causa da febre aftosa e suspensas as compras de Santa Catarina, o principal Estado produtor de carne suína do Brasil. Há ainda a gripe aviária, que reapareceu em países asiáticos, depois de derrubar a demanda por carne de frango.
Na visão de Gustavo Hungria, do Pactual, houve uma correção no valor das ações depois que a Sadia desistiu da oferta de aquisição após a segunda tentativa.
O atual valor de mercado da Perdigão, de R$ 3,08 bilhões, é R$ 800 milhões, ou 20,6% inferior ao montante que a Sadia se dispunha a pagar em sua segunda proposta de compra da empresa. No dia 17 de julho, a Sadia propôs R$ 27,88 por ação, ou R$ 3,723 bilhões. Diante da recusa da Perdigão, a empresa elevou a oferta para 29,00 ou R$ 3,88 bilhões e recebeu outro não.
Um especialista no setor acredita que, “dificilmente” o valor das ações e, portanto, o valor de mercado da Perdigão, atingirá, no curto prazo, os níveis ofertados pela concorrente em sua segunda proposta, de R$ 29,00 por ação. Além disso, avalia, havia espaço para a Sadia elevar sua proposta de preço. O cenário ainda incerto no segundo semestre, principalmente em relação ao desempenho das exportações e a perspectiva de que o dólar continue baixo explicam o pessimismo desse especialista.
Weber, da Geração Futuro, também concorda que há espaço para as ações das empresas do setor de aves e suínos caírem diante do quadro desfavorável do mercado.
A decisão da Perdigão de emitir 20 milhões de novas ações no mercado brasileiro e no exterior para captar cerca de R$ 500 milhões em recursos também explica a queda recente dos papéis por sinalizar que não há negociação entre a empresa e a Sadia e que a Perdigão tenta se defender de outras ofertas hostis.
A empresa justificou no pedido para emissão de ações que os recursos serão destinados à expansão de suas atividades e eventuais aquisições. E rumores sobre possíveis negócios já surgiram ontem, o que teria levado as ações da Perdigão a registrarem alta no decorrer do dia, para fechar com valorização de 0,08%.
Havia informações no mercado de que a empresa teria interesse na aquisição do laticínio Vigor, cujas ações subiram 10,38% ontem e acumulam ganho de 32,81% no mês. Ambas as empresas negaram qualquer tipo de negociação. “Não está acontecendo nada”, afirmou o vice-presidente da Vigor, Vinicius Ramos.