Já faz algum tempo que os clones caminham incógnitos pelos rebanhos bovinos brasileiros. Cerca de 70 animais foram clonados comercialmente no País nos últimos anos, segundo fontes do setor, mas nenhum deles tinha registro genealógico – o equivalente a uma carteira de identidade ou CPF – até agora. Os primeiros registros só foram dados no ano passado, após um longo processo de negociação das associações de criadores com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Divisa Mata Velha TN 1, uma bezerra nelore nascida em Uberaba, Minas Gerais, é o primeiro clone zebuíno com “CPF” do mundo. O registro foi concedido em 1º de dezembro pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), a principal entidade da pecuária nacional – já que 80% do rebanho brasileiro é de raças zebuínas, principalmente a nelore. “É um marco para o setor, sem dúvida”, diz o superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian, que desde 2005 batalhava pela aprovação das normas.
“O ponto-chave disso tudo é que, com o registro genealógico, o clone passa a ter valor comercial. Antes, era como se os animais não existissem”, explica o pesquisador Rodolfo Rumpf, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, um dos pioneiros da clonagem no Brasil e corresponsável pelo projeto. “A perspectiva agora é que aumente muito a demanda por essa tecnologia”.
Na maioria dos casos, a clonagem é usada para preservar o DNA de um animal elite, de alto valor genético (e monetário). São animais “top de linha”, usados exclusivamente para fins reprodutivos, como doadores de genes para outras gerações – seus filhos, netos e bisnetos – que vão disseminar suas características pelo rebanho. O valor comercial, portanto, não está no animal em si, mas na sua “genética”, que pode ser comercializada por meio de sêmen (no caso dos machos), embriões (no caso das fêmeas, já que os óvulos não podem ser congelados) ou crias, obtidas de cruzamentos selecionados.