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Demanda aquecida por genética suína

Recuperação de preços dos animais depois da crise de 2002 e 2003 estimula a venda de matrizes.

Redação SI 16/12/2004 – Após uma crise que durou cerca de 18 meses (entre 2002 e o primeiro semestre de 2003) e levou à liquidação de cerca de 300 mil matrizes de suínos, o setor ensaia uma retomada. Os preços em alta no mercado de suínos animaram os produtores a repor seus plantéis de matrizes – ainda que com cautela – e as empresas do segmento de genética suína já começam a sentir os efeitos dessa demanda.

A DB-DanBred, joint venture entre a mineira DB e a dinamarquesa DanBred, confirma que as encomendas estão mais aceleradas. De acordo com o gerente-geral Mário Pires, hoje toda a sua oferta de material genético disponível para 2005 já foi contratada. O aumento da demanda em relação ao fim de 2003 – para atender as compras de 2004 – é de 50%, segundo Pires. A empresa comercializa bisavós, avós, matrizes, reprodutores e tem central de inseminação. Matriz é a mãe do animal destinado a abate.

A Genetiporc, companhia com capital canadense e brasileiro, também já tem contratos para toda sua oferta de material genético a ser entregue no primeiro semestre de 2005. Há dois anos, nesta mesma época, quando o setor estava em crise, apenas 30% da oferta havia sido contratada para o primeiro semestre de 2003, diz Luciano Oliveira Ferreira, gerente de negócios da Genetiporc. “Na crise, o primeiro segmento afetado é o da genética. Nos bons momentos, todos querem repor os plantéis”.

Segundo Ferreira, parte das vendas da Genetiporc para o próximo semestre são para novos projetos de suinocultura e parte para reposição de matrizes descartadas.

O que levou à liquidação de parte do plantel de matrizes de suínos no país entre 2002 e 2003 foi a alta dos custos de produção por conta da quebra da safra de milho, explica Alexandre Rosa, gerente de mercados da Agroceres PIC, empresa que domina 46% do mercado de genética suína do país.

Pela estimativa de Rosa, 300 mil animais do plantel de 2,3 milhões nacional de matrizes foram descartados pelos suinocultores. No cenário de custos altos de então, os produtores preferiram vender matrizes para abate e assim reduzir os gastos com ração, principalmente.

Os suinocultores tiveram prejuízo durante boa parte de 2002 e 2003. Hoje, eles recebem R$ 2,50 pelo quilo de suíno vivo no Sul do país, com um custo de produção de R$ 1,85. Na mesma época, há dois anos, o custo era de R$ 2,25 e o preço, R$ 1,45, observa Rosa.

O gerente da Agroceres PIC aposta que as vendas para próximo ano serão melhores, mas não arrisca números. A empresa comercializa o equivalente a entre 180 mil e 200 mil matrizes/ano.

Segundo Rosa, ainda existe um “certo receio” por parte dos suinocultores. “Aumentou a demanda para recomposição do plantel, mas não para novos projetos”. O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos, José Adão Braun, reconhece que o suinocultor está cauteloso. E isso ocorre, diz, porque o setor está escaldado após as perdas recentes.

Ele explica que a liquidação de matrizes – 360 mil nos cálculos da associação – reduziu a oferta de animais para abate, o que proporcionou preços mais elevados este ano. Segundo Braun, esse foi o maior descarte de material genético já registrado no país.

Com a reposição, observa Braun, as empresas de genética até enfrentam dificuldades para atender a demanda. Pires, da DB-DanBred, afirma que se tivesse o triplo de matrizes para comercializar, venderia. Já Rosa, da Agroceres PIC, diz que a oferta disponível é suficiente.

O certo até agora é que a reposição de matrizes deve ampliar a oferta de animais disponíveis para abate nos próximos dois anos, já que uma matriz leva pelo menos 10 meses para produzir. Segundo Braun, a estimativa é de uma produção de 2,661 milhões de toneladas de carne suína este ano. Para 2005, o número deve subir para 2,760 milhões e em 2006, para 2,88 milhões de toneladas.

O número previsto para 2006 é próximo do de 2002, quando o setor produziu 2,872 milhões de toneladas e a crise começou. Jurandi Machado, do Instituto Cepa, diz que “o impacto do repovoamento será sentido em 2006, mas ainda não se tem idéia clara de quanto ele pode afetar a produção e a comercialização”.