Cientistas de um consórcio internacional de pesquisa, do qual o Brasil faz parte, divulgaram recentemente um primeiro rascunho do sequenciamento do genoma da soja. Ainda faltam algumas lacunas no DNA a serem desvendadas, mas a sequência dos 20 cromossomos que formam o genoma, ou seja, a ordem das bases nitrogenadas GCTA em cada cromossomo, está pronta.
“O genoma da soja é muito complexo. O trabalho bruto foi feito pelos americanos no Joint Genome Institute. O próximo passo é entender o que cada gene faz e como interage com outros genes”, diz o pesquisador Alexandre Lima Nepomuceno, da Embrapa Soja.
O sequenciamento do genoma da soja é um passo essencial da pesquisa sobre a leguminosa, principal commodity da agricultura brasileira. Pesquisadores da área apostam que a descoberta vai abrir novos caminhos e tornar mais ágil o desenvolvimento de variedades resistentes, por exemplo, a seca, a altas temperaturas e ao alagamento, e também de espécies ricas em determinadas proteínas, voltadas para a indústria alimentícia e fármacos.
Incertezas
De acordo com os pesquisadores, é difícil prever em quanto tempo a tecnologia vai chegar a campo. Para se ter ideia, para desenvolver um cultivar geneticamente melhorado é preciso pelo menos dez anos de pesquisa. Mas já se pode sonhar com um futuro em que o produtor de soja escolherá que soja plantar – da commodity até grãos com qualidade específica para fármacos. “Entender o genoma permite trabalharmos ao nível de engenharia genética em laboratório, alterando os genes, e levar a planta para esta ou aquela direção”, diz Nepomuceno.
As novidades da biotecnologia na pesquisa da soja estão entre os principais assuntos do 5º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2009, promovido pela Embrapa, que será realizado na próxima semana, de 19 a 22, em Goiânia (GO). Para falar sobre o tema, os organizadores trarão para o Brasil o pesquisador Scott Jackson, da Universidade de Perdue, na Indiana (EUA). O painel Biotecnologia na Agricultura está marcado para o dia 20 e contará ainda com palestras dos pesquisadores Elibio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e Kazuko Yamaguchi Shinozaki, do Centro de Pesquisa Internacional para Ciências da Agricultura do Japão (Jircas).
DNA
O primeiro anúncio do sequenciamento do genoma da soja foi feito em dezembro passado. O trabalho é fruto de um consórcio internacional liderado pelos Estados Unidos, com participação do Brasil, China, Coreia do Sul e Japão.
Nepomuceno diz que já há inúmeros trabalhos de melhoramento genético com soja. A maioria feita por meio de melhoramento genético clássico (cruzamento de variedades). Também há variedades transgênicas, desenvolvidas com base no conhecimento fragmentado que havia do DNA da soja até hoje. “Tínhamos respostas relacionadas apenas a estresses bióticos (ataque de doenças, ferrugem, bactérias e outras)”, diz o pesquisador. “Agora, o sequenciamento do genoma vai facilitar muito o trabalho dos melhoristas.”
Variedades resistentes
A principal linha de pesquisa adotada pelo Brasil, a partir do sequenciamento, será o desenvolvimento de variedades de soja resistentes a estresses abióticos. Nepomuceno explica: “A participação do Brasil no consórcio está focada na identificação de genes resistentes a seca, ferrugem asiática e nematoides”, diz. “O importante agora é entender qual o mecanismo de defesa que a planta usa para tolerar estes estresses. A partir do momento que conhecermos esse mecanismo, usaremos essas informações a nosso favor.”
No caso da ferrugem, por exemplo, há no mercado algumas variedades resistentes à doença, mas que foram desenvolvidas pelo melhoramento clássico. O problema é que o fungo da ferrugem é muito mutável e consegue quebrar a resistência rapidamente. “Ao sequenciar o genoma e conhecer como funciona o mecanismo de defesa da planta, poderemos desenhar novas estratégicas para controlar o fungo. Poderemos até trazer genes de outras espécies para aprimorar o mecanismo de defesa.”