As plantações de milho em Minas Gerais estão diferentes. Os produtores do estado, juntamente com seus colegas paranaenses e gaúchos, foram os que mais prontamente aderiram às variedades transgênicas do grão.
A liberação para plantio e cultivo da primeira cultivar de milho desse tipo só ocorreu no final da safra do ano passado, inibindo o cultivo. Na atual safra, já com nove variedades disponíveis, cerca de 60% dos agricultores mineiros plantaram alguma quantidade de sementes geneticamente modificadas, de acordo com a Céleres, empresa de consultoria em agronegócio. A adoção do milho transgênico foi particularmente intensa no Triângulo Mineiro.
“A região em torno de Uberlândia tem uma importante produção de milho, e o nível tecnológico dos agricultores é, de maneira geral, elevado”, afirma o sócio-diretor da Céleres, Anderson Galvão. Para o agricultor Delmiro Longhi, de Iraí de Minas, no Triângulo, os produtores locais ficavam “magoados” ao ver a tecnologia se disseminando em países como Argentina e Estados Unidos sem poder adotá-la. Em agosto, ele plantou milho transgênico em 90% de sua fazenda. Os 10% restantes são chamados de área de refúgio, necessária para evitar o desenvolvimento de pragas resistentes aos inseticidas utilizados em plantos transgênicos.
A desvalorização do milho na safra passada foi um dos fatores que impulsionaram a expansão da tecnologia na região. “Eu tinha chegado à conclusão de que era inviável plantar milho no Triângulo Mineiro”, diz Longhi, que afirma ter sofrido prejuízos na temporada em razão de altos custos de produção. Fernando Sekita, do grupo que leva o sobrenome da família, de São Gotardo, MG, perdeu 30 sacas por hectare (o equilavente a 15% da produção) na safra 2008/2009. Agora, as plantações do grupo são formadas apenas por variedades transgênicas, com exceção da área de refúgio. Outro problema enfrentado pelos produtores é que praticamente não há suspensão do cultivo de milho na região ao longo do ano, o que dificulta o controle de pragas.
Com milho o ano todo no campo, as lagartas e fungos têm alimento sempre à disposição, e se multiplicam em progressão geométrica. “A transgenia vai viabilizar o plantio de milho no Triângulo Mineiro”, diz Jorge Verde, um dos precursores no uso de variedades transgênicas na região. Na safra passada, ele tinha metade de sua fazenda ocupada por milho geneticamente modificada. Jorge só não plantou mais porque as empresas fornecedoras de sementes não tinham quantidade suficiente para vender. Ele conta que, ao longo do ciclo produtivo, identificou uma quantidade 80% menor de plantas danificadas por pragas. Em agosto, o agricultor comprou o máximo que pôde de sementes desse tipo, que foram suficientes para cobrir 90% de sua área. Jorge acredita que terá apenas 20% dos gastos que costumava ter com inseticidas, que serão em grande parte destinados para a área de refúgio.
A aplicação de defensivos em um hectare de milho custa em média R$ 60 (valor do produto e do custo do uso de máquinas que o espalham pela plantação). Algumas cultivos convencionais precisam de até seis aplicações de inseticida e fungicida, o que torna o transgênico sai mais barato para ser cultivado. “Mesmo que a colheita de milho transgênico e convencional sejam em quantidades iguais, as despesas para ter o transgênico são menores, então já vale a pena”, assegura Delmiro Longhi.
Noventa por cento do milho produzido no Brasil é usado para a alimentação animal, abastecendo cadeias produtivas como a de frango e de suínos. As empresas do setor, de acordo com Jorge Verde, não estavam preparadas para receber o grãos transgênico na primeira safra, o que teria trazido alguma dificuldade para o agricultor na comercialização. “Neste ano não teremos o mesmo problema, pois a indústria já está mais preparada”.