O consumo mundial de carne bovina teve um crescimento aproximado de 13% nos últimos dez anos e estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que, só neste ano, a demanda global pela proteína ficará ao redor de 56 milhões de toneladas.
Diante desse cenário de aumento de demanda por carne, o mercado de genética bovina no Brasil – em especial a inseminação artificial – passou por um processo de mudança na última década. A técnica, utilizada até o início do ano 2000 prioritariamente para gerar reprodutores e matrizes bovinas de elite, mudou de sentido e virou uma ferramenta importante para as pecuárias de corte e de leite.
Hoje entre 80% e 85% das vendas de sêmen para pecuária bovina no Brasil têm por objetivo a produção de animais para corte e fornecimento de carne. Não é à toa, já que o País é responsável por 26% do comércio mundial do produto. Os 15% a 20% restantes das vendas de sêmen se destinam ao mercado de animais de elite, que participam de exposições pelo País.
Há dez anos, o quadro era o oposto: as vendas de sêmen para a produção de carne atingiam no máximo 20%. Os 80% restantes ficavam para o mercado de animais de elite. Um dos casos mais conhecidos dessa época foi o touro nelore “Fajardo”. O animal produziu 460 mil doses de sêmen durante os 16 anos em que ficou em coleta. Hoje, a demanda é maior para o material genético de animais como o touro “Backup”, que em seis anos em produção já vendeu 400 mil doses, sendo 150 mil só em 2009.
O foco para produção de carne mudou ao longo dos anos, na medida em que a própria inseminação artificial aumentou sua participação, especialmente com o advento de uma técnica conhecida como IATF (Inseminação Artificial por Tempo Fixo). Ela consiste na sincronização do cio das fêmeas, com objetivo de inseminar o maior número de vacas com foco na produção de bezerros para abate. Em 2002 foram realizadas 100 mil IATFs – no ano passado, esse número saltou para 3,2 milhões de procedimentos.
Dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) apontam para um crescimento de 42% nas vendas de sêmen no País nos últimos dez anos. Os dados de 2009 ainda não foram consolidados, mas em 2008 as vendas ultrapassaram pela primeira vez a marca de 8 milhões de doses. Estimativas do mercado apontam para um crescimento entre 7% e 10% na comercialização do ano passado.
“A partir de 2008 a inseminação artificial no Brasil mudou de patamar. A tendência para este mercado é que ele cresça em um ritmo mais rápido do que o próprio rebanho brasileiro”, afirma Heverardo Rezende Carvalho, diretor-geral para o Brasil da canadense Alta Genetics.
A Alta está entre as maiores empresas de inseminação artificial atuando no Brasil. Carvalho não revela o número preciso de vendas de 2009, mas informa que a empresa teve um crescimento de 15% sobre as 2 milhões de doses comercializadas em 2008.
Disputando a liderança do mercado com a Alta, a belgo-holandesa CRV Lagoa também não disponibiliza o volume comercializado no ano passado. Ela informa apenas que superou as duas milhões de doses registradas em 2008. “Percebemos que o mercado está aquecido e também sentimos que existe uma demanda maior por material genético de touros para produção comercial de carne”, afirma Antonino Bosco, gerente comercial da CRV.
Para ele, a necessidade de atender padrões internacionais de carne, a profissionalização do setor e a busca pela rentabilidade de na pecuária são os três principais fatores que explicam a mudança no perfil da inseminação e o crescimento da própria tecnologia. “Ainda assim temos um grande potencial pela frente”, afirma Bosco.
De fato, o potencial para a inseminação no País é grande. Hoje, apenas 7% das vacas em idade de produção são inseminadas no Brasil. “O Brasil está evoluindo muito neste ano. Trabalhamos com a estimativa de elevar para 12% o percentual do rebanho de fêmeas que serão inseminadas até 2013”, afirma Lino Rodrigues Filho, presidente da Asbia.
Incluindo inseminação convencional, a IATF e a sexagem de sêmen – tecnologia que permite escolher o sexo do animal que nascerá – o mercado movimenta anualmente US$ 250 milhões, segundo a Asbia. Apesar do crescimento da inseminação, a produção de carne no Brasil ainda está sustentada no modo convencional, ou seja, na monta natural. É por esse motivo que o mercado de venda de touros ainda tem grande relevância no País.