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Pesquisando o milho

<p>Importância antropológica e econômica do milho é contada em banco de germoplasma.</p>

Redação (13/11/2007)- O diálogo entre a antropologia e a ciência aplicada se manifesta na coleção de germoplasma de milho, sorgo e milheto da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG). Berço dos programas de melhoramento genético das três culturas e de preservação de espécies milenares originárias do México que deram origem ao milho, o BAG (Banco Ativo de Germoplasma) reúne em uma câmara com temperatura inferior a 10ºC mais de 3700 diferentes cultivares embaladas em sacos de algodão de Zea mays, nome científico de um dos cereais mais cultivados em todo o mundo.

O surgimento de cultivares mais produtivas, resistentes a pragas e doenças e adaptadas a diferentes condições de solo e clima tem origem na variabilidade genética dos bancos de germoplasma, que propiciam diversidade e variabilidade genética à cultura. Desde tempos remotos, civilizações antigas reverenciam o milho em manifestações culturais, apelo que motivou a reintrodução em 2005, com o apoio da Funai (Fundação Nacional do Índio), de variedades de milho indígena em diversas etnias. Krahôs, xavantes, bororos, karajás xambrionás e maxacalis foram beneficiados com a preservação desse material, perdidos ao longo dos anos pelo avanço da fronteira agrícola e pela substituição do seu cultivo por outros cereais ou por outras atividades.

O banco de germoplasma, basicamente, possui três funções: conservar as cultivares, possibilitar seu conhecimento e promover o uso dessa coleção. Cada acesso registrado possui uma base genética que permite introduzi-lo novamente em uma comunidade tradicional, utilizá-lo em programas de melhoramento participativo – como é o caso das variedades específicas para artesanato de palha – ou aproveitar características promissoras e potencialmente transferíveis para cultivares de elite, com alto valor de cultivo. “A interação entre nós, agrônomos, e cientistas sociais é fundamental para identificarmos para onde vamos”, explica Flavia França Teixeira, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo.

Especialista na área de recursos genéticos e melhoramento de plantas, ela lembra a importância do trabalho precursor do banco, iniciado em 1952 por pesquisadores da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba-SP. Na época, expedições para preservar a variabilidade genética do milho no país foram responsáveis pela coleta e pelo armazenamento em condições satisfatórias de mais de 3.000 amostras de variedades de milho, acervo transferido na década de 1970 para a Embrapa Milho e Sorgo e para a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF). Outra parte da coleção foi repatriada do Cymmit, o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo localizado no México.

Para serem reintroduzidas nas comunidades ou serem utilizadas em programas de melhoramento, as sementes que ficaram armazenadas durante anos no banco – a vida útil, nas condições ideais de temperatura e umidade, é de aproximadamente 30 anos – precisam ser multiplicadas em condições semelhantes com as de clima e solo de onde vieram. Um trabalho criterioso de pesquisa aliado ao significado antropológico que o cereal possui. Na próxima edição do Grão em Grão, saiba mais sobre os bancos ativos de germoplasma do sorgo e do milheto.