O milho transgênico foi adotado pelos agricultores brasileiros a uma velocidade de corrida de Fórmula 1. Mais da metade da próxima safra do grão no Brasil (2009/10), que começa a ser plantada em setembro, será de sementes geneticamente modificadas. Na safra anterior 2008/09, a primeira com cultivo dessas sementes no país, essa proporção era de apenas 9%. Uma pílula desse avanço pôde ser constatada na safrinha (plantio de milho da entressafra), em algumas regiões. No ano passado, quando a semente começou a ser vendida, a previsão era de que o milho modificado ocuparia 19% da área plantada. Hoje, com a safrinha no campo, verifica-se que 30% da lavoura foi ocupada pelo novo grão, segundo o Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).
A rapidez pegou de surpresa até mesmo especialistas em agronegócio e só não foi maior porque em 2008 não havia semente para todos. Este ano, muitos agricultores estão reservando de 80% a 90% do seu cultivo de milho às sementes transgênicas. É o caso de Orlando Machado, que plantava apenas milho convencional em Montes Claros, no Norte de Minas. “Minha lavoura na próxima safra será 90% transgênica e 10% tradicional”, avisa. “Estou de olho no custo da produção.” Na opinião de Pierre Santos Vilella, assessor-técnico da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), quem plantou e viu o resultado no campo não tem dúvidas sobre a decisão a tomar. “Hoje, o maior freio para o uso do milho transgênico é a disponibilidade da semente”, avisa.
Alda Lerayer, diretora-executiva do CIB, explica que a adoção do milho transgênico foi muito diferente do que ocorre com outras tecnologias. “Geralmente isso acontece aos poucos. Os produtores começam com 10% da produção e vão ampliando gradativamente”, explica. Não foi o caso do milho geneticamente modificado, resistente a lagartas e insetos. “No plantio do milho comum, os inseticidas chegam a ser aplicados nove vezes”, diz. Entre os agricultores do Paraná que plantaram a nova modalidade na safra passada, de acordo com Alda, 85% não fizeram nenhuma aplicação e 15% apenas uma.
Cláudio Nasser de Carvalho, vice-presidente do Sindicato Rural de Patos de Minas, é produtor de sementes de milho na cidade do Alto Paranaíba. Em 2008, 30% das sementes que produziu eram transgênicas, mas este ano serão 100%. Um grupo de 12 agricultores do município, que cultiva 30 mil hectares de milho e de soja, fundou uma associação para pesquisar os resultados do milho transgênico, uma vez que a cultura da soja modificada na região já atinge entre 60% e 70% da lavoura e está consolidada. Na semana passada, eles se reuniram e concluíram que a redução de custos e o aumento da produtividade do transgênico representam 10 sacas de milho a mais por hectare. O ganho final é de 7,5% por hectare.
O uso de alimentos transgênicos é um tema polêmico no Brasil. Entidades de defesa do consumidor e ambientalistas reclamam que o milho convencional está sendo colhido e misturado com o transgênico nos silos de armazenagem e que a contaminação das lavouras convencionais e orgânicas é impossível de ser evitada. Por outro lado, não existem estudos que garantam a segurança – ou prejuízo – dos alimentos geneticamente modificados para a saúde humana.