Com prejuízos estimados em US$ 80 bilhões na última década devido à falta de chuvas, pesquisadores da Embrapa Soja, em Londrina (PR), têm apostado na edição gênica como solução para tornar a cultura da soja mais tolerante à seca. Durante o Congresso Brasileiro de Sementes (CBSementes), realizado em setembro em Foz do Iguaçu (PR), a pesquisadora Liliane Mertz Henning apresentou avanços no uso da tecnologia CRISPR, destacando sua precisão e rapidez no desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições climáticas adversas.
A técnica permite identificar e editar genes no DNA da soja, aprimorando características como tolerância à falta de chuvas. “Já modificamos dois dos quatro genes que queremos alterar, e os testes de campo estão próximos. Se os resultados forem positivos, esperamos lançar comercialmente em cinco anos”, afirmou Henning.
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) já classificou as cultivares desenvolvidas como convencionais, permitindo que sejam tratadas como não transgênicas. Testes em diferentes regiões do país avaliarão a adaptação das plantas a cada área produtora, reforçando o impacto da tecnologia.
Impactos da seca no Brasil
Entre as safras 2014/15 e 2023/24, os cinco maiores estados produtores — Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná — perderam 160 milhões de toneladas de soja devido à seca, o equivalente a mais de uma safra nacional. O Rio Grande do Sul lidera as perdas, seguido pelo Paraná. A técnica de sequeiro, utilizada em 95% das áreas de plantio, aumenta a dependência de chuvas regulares, agravando o impacto da estiagem.
Para produtores como Marcelo Teles, de Palotina (PR), a seca tem sido devastadora. Na safra 2021/22, ele colheu apenas 2,6 sacas por hectare, em vez das 66,1 previstas. “Foi a pior safra da minha vida”, lamentou, destacando que precisou redirecionar recursos de outras atividades para cobrir os custos da soja.
Soluções para o futuro
Além da edição gênica, a Embrapa Soja desenvolve ações por meio do programa Tecnologias para o Enfrentamento da Seca na Soja (Tess), que busca mitigar os efeitos climáticos adversos. Contudo, líderes do setor, como Edmilson Zabott, presidente do Sindicato Rural de Palotina, destacam a necessidade de programas de renegociação de dívidas e estímulo a investimentos.
Com avanços tecnológicos e políticas públicas eficazes, o setor caminha para superar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, garantindo a competitividade da soja brasileira no mercado global.