Assim como o uso diversificado na culinária de Norte a Sul do continente americano, a variedade genética do milho tem a mesma riqueza, ganhando agora uma importante atualização. Um estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP ampliou o conhecimento sobre a história evolutiva e a diversidade genética do milho, identificando distintos microcentros e regiões de diversidade genética em vários biomas das terras baixas da América do Sul (de altitudes inferiores a 1.500 metros), na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa.
“A espécie ainda se encontra em diversificação, sob o manejo dos agricultores familiares, tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e indígenas”, diz a autora da pesquisa, Flaviane Malaquias Costa, que teve orientação da professora Elizabeth Veasey, da Esalq. O estudo envolveu a participação de 261 agricultores familiares e tradicionais, sendo que 129 foram entrevistados a partir de uma rede de 29 instituições do Brasil e do Uruguai.
O trabalho mostrou que, em todas as áreas investigadas, o milho apresentou uma variedade com nomes locais exclusivos, o que indicou que em cada lugar existe uma diversidade própria, já que o nome da variedade é considerado um indicador e um importante marcador de caracterização dessa diversidade. Além disso, os usos e as preferências atribuídas às variedades locais de milho estão associados às características que os agricultores consideram importantes, especialmente para a alimentação, que influenciam a seleção das suas variedades locais.
Flaviane Costa conta que foram identificados 34 valores de usos culinários associados às variedades locais, representados por usos alimentares diretos, potencial culinário e atributos alimentares apreciados pelos agricultores. “Foram identificadas 29 raças de milho e três complexos raciais, dentre as quais 16 são novas raças, que nunca haviam sido catalogadas pela literatura.”
Como produtos do projeto, a classificação das raças com suas características morfológicas, distribuição geográfica e usos principais gerou a publicação de um livro e um catálogo, que consistem na terceira referência do estado da diversidade de raças do nosso território, não atualizada desde 1977.
Os resultados da pesquisa encontram-se também publicados no artigo A new methodological approach to detect microcenters and regions of maize genetic diversity in different areas of Lowland South America, no periódico científico Economic Botany. O trabalho compõe parte da tese, agraciada com o Prêmio de Tese Destaque da USP – 10ª edição, nas áreas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“Os dados gerados por este estudo atribuem respaldo científico às raças e variedades locais de milho e aos sistemas agrícolas tradicionais da região, bem como poderão subsidiar políticas públicas envolvendo estas áreas”, finaliza Flaviane Costa.
Além dela, Natalia de Almeida Silva, Rafael Vidal, Elizabeth A. Veasey e Charles R. Clement compõem a equipe do projeto Raças de Milho das Terras Baixas da América do Sul: ampliando o conhecimento sobre a diversidade de variedades crioulas do Brasil e do Uruguai, coordenado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade – InterABio. A pesquisadora frisa que as contribuições trazidas pelo levantamento abrangem temáticas propostas pelos distintos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Fonte: Jornal USP | Texto: Caio Albuquerque e Moisés Dorado