Redação (30/01/07) – Cerca de 60% da produção de soja de Goiás já é transgênica, ou seja, geneticamente modificada. Estima-se que em 2008 o índice chegue próximo dos 100%, de acordo com a Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg). Atualmente, estão plantados 1,6 milhão de hectares do produto modificado. Em 2004, a Superintendência Federal do Ministério da Agricultura em Goiás registrou o cultivo de 2 mil 870 hectares de transgênicos (antes da regulamentação, em março de 2005).
Após a autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia na safra 2005/2006 foram 50 mil 689 hectares plantados de soja transgênica. Para os especialistas, redução do custo de produção e fácil manejo estão entre os benefícios da produção geneticamente modificada .O argumento é contestado por ativistas ambientais.
Um levantamento mostra que a área plantada no Brasil com sementes transgênicas deve triplicar até 2015 e superar a marca de 36 milhões de hectares. As estimativas são do Serviço Internacional de Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (Isaaa, na sigla em inglês), que divulgou seu relatório anual sobre a situação do cultivo de transgênicos no mundo. O mesmo documento revela que o País deve ocupar o segundo lugar, posto que hoje pertence à Argentina. Na primeira posição estão os Estados Unidos.
No Brasil, o único transgênico autorizado para comercialização é a soja. Milho e algodão estão em fase de análise da CTNBio e são liberados apenas para pesquisa. Mas em Goiás já foram encontradas plantações ilegais de algodão modificado. Em 2006, 20 mil 617 hectares passaram pela fiscalização do Ministério da Agricultura. Destes, 915 eram de cultura irregular.
O Estado já deu um salto de produtividade desde que o cultivo de transgênicos foi autorizado, em março de 2005. É o segundo maior produtor de soja do Centro-Oeste, perdendo apenas para Mato Grosso, onde são cultivados 4,3 milhões de hectares de soja (convencional e transgênica). As informações são do supervisor de vendas da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) Gaspar José Zawaedzki.
Facilidades O Centro-Oeste responde por cerca de 30% da produção transgênica nacional. Para o presidente da comissão de grãos da Faeg, Alécio Maróstica, a proliferação de produtos geneticamente modificados se deve às facilidades que os mesmos proporcionam ao homem do campo: diminuição de aplicação de herbicidas, facilitação do manejo e redução do custo de produção.
Maróstica não vê desvantagem na alteração genética do produto. Por mais que seja uma tecnologia nova não vejo prejuízo. Pelo contrário, se mostrou segura e não afeta a saúde, além de ser mais barata. Ainda estamos engatinhando e atrasados sete anos em relação à Argentina, mas é importante ao trabalhador rural, diz o representante da Faeg. A mesma opinião tem o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antônio Chavaglia.
Na propriedade rural de Chavaglia, cerca de 30% da produção de soja é transgênica. Ele revela que outros produtores já chegaram a plantar até mais de 50%. O agricultor prefere não comentar valores precisos da produção, mas diz que colhe 55 sacas por hectare, tanto da soja transgênica quanto da convencional.
O atrativo apontado por ele é o manejo, além da diferença de custo de 2% a 3%, se comparada com o grão original. Chavaglia destaca a importância da tecnologia para o homem do campo. É fundamental. Foi muito importante, principalmente com a crise que o produtor enfrenta há quatro anos. Estamos aguardando a liberação do milho e do algodão, comenta.
Desvantagens As desvantagens apontadas pelo presidente da Comigo são a falta de outras culturas transgências e o elevado custo da semente, mais cara que a convencional. A cada 5% de ganho do produtor, 2% são destinados ao pagamento de royalties (valor pago ao detentor da patente pelo direito de sua exploração comercial).
Chavaglia diz que a cada saca de soja transgênica comercializada a R$ 28 (em média) tem de destinar R$ 0,56 para a empresa detentora do gene, como é o caso da soja Roundup Ready (nome comercial) da Monsanto, fabricado pela própria Monsato e conhecida também como glifosato. Por isso que não expandiu mais, ressalta.
No entanto, o empresário está otimista quanto à aprovação de outras culturas modificadas para facilitar mais a vida do produtor. Precisamos evoluir e avançar mais, para que o agricultor cultive mais com menos herbicidas e também contribua com o meio ambiente, já que é uma tecnologia segura, avalia.
Parte da soja utilizada hoje recebeu gene para que se tornasse resistente ao herbicida Roundup nocivo à planta convencional. O agricultor tem condições de pulverizar a plantação de soja o menos possível com o máximo de aproveitamento do produto.
Segundo o pesquisador e coordenador do programa de pesquisa da soja da Agência Rural, Pedro Monteiro, além de facilitar o manejo, o glifosato é mais benéfico porque não agride o meio ambiente quando aplicado na cultura da soja, controlando apenas as ervas daninhas.
O pesquisador diz ainda que, ao entrar em contato com o solo, o glifosato sofre uma reação química e fica inerte, ou seja, o solo não vai absorvê-lo, não provocando danos ambientais. É biodegradável. Não tem efeito residual e é menos tóxico.
Em Senador Canedo (a 16 km de Goiânia), a Agência Rural reserva 150 hectares à pesquisa da soja. O especialista mostra que não há diferença no aspecto entre a planta convencional e a geneticamente modificada. No local, são feitos os retrocruzamentos entre as mudas para obter através da introgressão gênica o cultivo da soja geneticamente modificada, resistente ao gene Roundup Ready, de propriedade da Monsanto.