Redação (31/07/06)- A maior parte dos transgênicos produzidos no mundo é destinada a ração animal, mas uma menor parte entra na cadeia alimentar e chega aos supermercados. Os índices variam de acordo com produtor e comprador, mas considerando que 60% da soja no mundo é transgênica, as chances são relativamente altas.
No Brasil, a soja é pouco consumida como grão, mas seus derivados (óleo, farinha, lecitina e proteínas texturizadas) entram como matéria-prima na formulação de uma série de produtos, de achocolatados a bolachas, salsichas e até barrinhas de cereais. “É tanta coisa que fica até difícil fazer uma lista”, diz o especialista João do Nascimento, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da USP.
Na maioria dos casos, as etapas de processamento são tantas que dificilmente esses insumos trazem algum vestígio do gene ou da proteína transgênica que estava na planta. “Mesmo que tenham, não há com o que se preocupar”, diz Nascimento. “DNA não faz mal, isso é fato. Não vai ser diferente do alface ou da bactéria que você comeu na coxinha da padaria”.
A lei brasileira exige, desde 2003, a rotulagem de produtos com mais de 1% de transgênicos. Até hoje, não há nenhum produto rotulado nas prateleiras.
É seguro para o ambiente?
A segurança ambiental dos transgênicos também é atestada pela FAO e por organizações científicas de vários países. A principal proposta da tecnologia é reduzir a aplicação de pesticidas no campo, o que, além de ser econômico para o agricultor, traz o benefício da redução de agrotóxicos liberados no ambiente.
Mais uma vez, porém, os relatos são contraditórios. Enquanto indústria, produtores e pesquisadores relatam reduções significativas no uso de agrotóxicos, críticos denunciam aumento. “Há uma redução nos primeiros dois ou três anos, mas depois surge resistência e é preciso aplicar cada vez mais pesticidas”, diz Fernandes, da ASPTA. “A redução do veneno tem uma durabilidade muito curta”.
Segundo defensores da tecnologia, a maioria das “denúncias” são baseadas em estudos sem validade. “É coisa tirada da internet; não são trabalhos científicos”, diz o biólogo molecular Alexandre Nepomuceno, pesquisador da Embrapa e membro da CTNBio. Os riscos ambientais associados aos transgênicos, segundo ele, não são diferentes dos riscos associados às culturas agrícolas convencionais, como fluxo gênico ou surgimento de plantas daninhas resistentes. “Isso não tem nada a ver com a transgenia, é um problema de manejo”, diz.
É seguro para comer? FAO garante que sim
Em uma década de consumo, não há nenhum registro de malefício à saúde humana ou animal. Segundo um relatório da Fundação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), publicado em 2004, “as plantas e os alimentos transgênicos derivados delas hoje disponíveis foram julgados seguros para comer e os métodos usados para testar sua segurança foram considerados apropriados”.
Desde o início, houve a preocupação de que os genes ou proteínas transgênicas poderiam causar reações no organismo, como alergias. Para os especialistas, a ausência de efeitos negativos comprova o que já era esperado a partir dos testes preliminares de segurança. Para organizações contrárias aos transgênicos, porém, não há como tirar conclusões, já que os transgênicos não são rotulados na maioria dos casos e não há um monitoramento direto do seu consumo.
“Não consigo imaginar como uma proteína que é digerida como qualquer outra das milhares de proteínas que consumimos diariamente possa trazer algum problema”, diz o agrônomo e geneticista Ernesto Paterniani, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). “Simplesmente não há base científica para isso. Quando comemos uma folha de alface estamos ingerindo um monte de DNA e proteínas vegetais, além de bactérias e até vírus inteiros. Mas não vi ninguém virar um homem-folha até agora”.