O anúncio de que Santa Catarina deverá colher, este ano, a maior safra de soja de sua história, registrando a produção de 1,2 milhão de toneladas, o que significa um aumento de 24% sobre o resultado obtido no ano passado, merece registro positivo. Mas também abre espaço para uma ponta de preocupação em relação a uma outra cultura, tradicional no Estado e de importância estratégica para a economia regional: a do milho. Embora o clima tenha sido favorável ao desenvolvimento das lavouras de soja, nas quais também houve investimentos em tecnologia, o fator mais importante para explicar a safra recordista que se anuncia foi o avanço sobre a área dedicada ao milho, principal cultura catarinense e matéria-prima para a fabricação de ração animal. O cereal é o principal insumo da avicultura e da suinocultura, base da agroindústria e atividades de proa da economia barriga-verde. Estima-se que, em relação ao ano anterior, o cultivo da soja tenha avançado sobre cerca de 30% da área plantada de milho no Oeste. Em todo o Estado, a área da soja aumentou 14%. Ainda assim, a perspectiva da próxima safra de milho situa-se em 3,37 milhões de toneladas. A boa cotação da oleaginosa no mercado, em contraste com o preço depreciado do milho, motivou produtores.
É procedente a preocupação expressa pelo vice-presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, que, apesar de a soja ser lucrativa este ano, seu avanço sobre a área do milho, logo à frente, poderá trazer problemas ao setor, eis que, em 2010, o déficit deste cereal no Estado deve superar 2 milhões de toneladas, atingindo com dureza as criações de aves, suínos e bovinos de leite, levando ao aumento das importações de rações e dos preços no mercado. Eis um tema que merece reflexão e decisões maduras dos produtores e suas lideranças.
Nesta equação há de pesar, também, a segurança alimentar da sociedade, cabendo lembrar que o Brasil é o nono país com o maior número de pessoas que passam fome no mundo.
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