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A soja na maré brava

Na guerra do Iraque quem paga o pato são exportadores e agricultores brasileiros.

Da Redação 22/04/2003 – Em clima de guerra, investidores internacionais saem dos mercados de ações com medo da recessão e voltam-se para os títulos públicos. Na ponta da pirâmide o Brasil é o foco de atenções com títulos valendo 85% do valor de face, juros internacionais de 15% ao ano antecipados.

Nesse clima de medo e euforia, os dólares entram facilmente no País. No paralelo o Brasil colhe e vende a sua maior safra de grãos, 110 milhões de toneladas. Pelo volume de embarques a vedete é complexo soja com receitas previstas para março, abril e maio de US$ 3,5 bilhões.

Na maré mansa do País, a turbulência e a maré brava invadem a praia de exportadores e agricultores. Com a taxa de câmbio baixa, exportadores perdem a competitividade nos mercados internacionais e se a taxa de câmbio permanecer baixa por muito tempo podem perder o ponto de venda conquistado ao longo dos últimos anos.

Os agricultores, por sua vez, contam os dias e, coçando a cabeça pensam ou nem imaginam o que está por vir. É que, com a taxa de câmbio, os contratos atrelados em dólar, renderão bem menos reais em seus bolsos. Isto significa que se mantida taxa de câmbio atual uma saca de soja cotratada representará pouco mais de R$ 30,00, R$ 6,00 por saca a menos do que quando plantou. É um prejuízo de 15% mais ou menos. Serão R$ 1,5 bilhão de reais a menos injetado na economia e no comércio.

É como se o complexo soja estivesse perdendo uma safra de 2 milhões de toneladas.

Pelo segundo ano consecutivo a taxa de dólar sobe na hora de plantar e cai no momento da venda da safra, representando sérios prejuízos a todos os agricultores pois têm que comprar insumos a preços relativamente mais altos, mas na ocasião de vender a safra os preços são puxados para baixo por uma taxa de câmbio menor.

O governo comemora, achando que com a onda de confiança e a vinda de dólares com certa facilidade, deixa o país imune à comunidade internacional.

É com preocupação que analiso esta situação, pois estes recursos vêm em forma de empréstimo e não em investimentos, isto significa que estes comemorados dólares poderão ficar pouco tempo no país sem nada produzir.

E ao dizer da sonhada estabilidade poderia haver mais empenho dos governantes se pudessem não autorizar os aumentos freqüentes dos itens que compõem as tarifas públicas (água, luz, telefone, combustíveis, transportes, pedágio, IPVA, IPTU, ITR, taxas de esgoto, iluminação, etc.

Estabilidade haverá quando, no mínimo por um ano, houver pouca oscilação na taxa de câmbio, nas tarifas públicas e demais segmentos da economia.

José Donizeti Pitoli, economista ligado ao comércio de cereais em Santa Mariana (PR).