O fato de as perspectivas de longo prazo serem em geral positivas para o agronegócio brasileiro está longe de significar que não haverá turbulências. Problemas climáticos, além de influências especulativas, políticas ou de outros mercados estão no DNA do setor e têm o poder de transformar um passeio no parque em corrida de obstáculos. E, se nas próximas décadas serão grandes os desafios para manter o avanço em velocidade de cruzeiro, é melhor redobrar agora a cautela, porque há nuvens novas no horizonte.
Em que pese a melhora praticamente contínua dos indicadores setoriais consolidados desde o início da década passada, crises localizadas tumultuaram segmentos importantes como o citrícola, o cafeeiro e o sucroalcooleiro. Fortes oscilações de preços também tiveram impacto nos mercados de milho e algodão, enquanto problemas sanitários atrapalharam, em alguns períodos, as exportações de carnes. Num momento em que produtores de laranja e usinas de etanol continuam sob pressão, as atenções começam a se voltar também para a soja, a locomotiva que tem puxado o campo brasileiro nesses últimos anos.
Conforme Luiz Carlos Corrêa de Carvalho, presidente da Associação Brasileiro do Agronegócio (Abag), a atual tendência de queda das cotações internacionais dos grãos deve complicar a vida dos produtores de soja e milho do país nas próximas duas safras. Não que o mundo vá acabar, até porque a maior parte desses produtores está capitalizada após sucessivos ciclos lucrativos, mas as margens deverão ser mais apertadas e velhos gargalos estruturais do país poderão colaborar para estreitá-las ainda mais. Nesse contexto, será preciso planejamento. Ao setor, afirma, profissionalismo e governança serão fundamentais; do governo, a expectativa é por mais “estadismo, e não estatismo”.
Não é segredo para ninguém que as lideranças do agronegócio em geral estão descontentes com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) – sobretudo por conta de políticas ambientais e de demarcação de terras – e têm mantido conversas com os dois principais candidatos da oposição à presidência da República, Aécio Neves (PSDB), e Eduardo Campos (PSB). Mas se engana quem acredita que esses caciques realmente esperam de quaisquer partidos ou postulantes ao Planalto a definição de estratégias que priorizem o setor. Se as políticas oficiais não atrapalharem e houver aportes em infraestrutura, comentam, já será ótimo.
Caio, como é conhecido Corrêa de Carvalho, diz que a Abag está particularmente preocupada com inflação, juros, déficit fiscal, desindustrialização, crise na área de bens de capital focada em usinas de açúcar e etanol, vendas de máquinas em queda e logística. “O ambiente é depressivo. O agronegócio segura grande parte da economia e é responsável por superávit na balança comercial, mas, mesmo assim, seu peso não norteia as políticas do governo”. Talvez a situação mude com um melhor entendimento do campo pela sociedade urbana, afirma o dirigente.