A seca que atinge a Bahia desde o início do ano deve provocar perdas de 10% a 15% na produção de soja e algodão, concentrada no oeste do Estado, importante região produtora de grãos do país. A estimativa é da Associação de Agricultores e Irrigantes na Bahia (Aiba). Já no noroeste, na região de Irecê, quase tudo que foi cultivado de milho, feijão, sorgo e mamona no fim de 2011 se perdeu.
Walter Horita, presidente da Aiba, disse que agricultores perderam até 50% da produção em algumas localidades, embora essas áreas sejam pouco representativas em relação ao total cultivado no oeste baiano.
A área plantada com soja na região somou 1,15 milhão de hectares na safra atual (2011/12), um aumento de 9,5% ante os 1,05 milhão da temporada anterior. Mas a produtividade deve cair para 47 sacas por hectare, um recuo de 16% sobre as 56 sacas do período 2010/11. Com isso, a produção da oleaginosa no oeste baiano, que foi de 3,5 milhões de toneladas no ano passado, deve recuar 7,1% e somar 3,25 milhões de toneladas. A colheita está sendo finalizada.
Mas Horita pondera que a queda estimada tem como base de comparação um volume recorde. A produtividade registrada em 2010/11, de 56 sacas por hectare, foi superior à média da região, de 52 sacas. A Bahia é o 6º maior produtor de soja do país.
A situação não é tão alarmante, na avaliação dele, porque os produtores estão recebendo um preço melhor pelo grão – em torno de R$ 50 por saca, na região de Luís Eduardo Magalhães, contra R$ 40 a R$ 42 no mesmo período do ano passado.
As cotações, balizadas pela bolsa de Chicago, subiram em função da seca no Sul do Brasil e em outros países da América do Sul. “Boa parte dos produtores que não comercializou toda a safra pode conseguir esses valores”, afirma Horita, que diz ser difícil saber a parcela exata das vendas antecipadas.
No caso do algodão, que está em fase final de desenvolvimento e cuja colheita começa no início de junho, há sinais de perdas médias entre 10% e 15%, segundo a Aiba. A média de produtividade na temporada passada foi de 270 arrobas por hectare. Agora, a entidade prevê entre 230 arrobas (recuo de 14,8% sobre a safra 2010/2011) e 245 arrobas (queda de 9,2%). Na safra 2011/12, a área ficou estável em cerca de 385 mil hectares, que devem produzir de 500 mil a 540 mil toneladas de algodão em pluma, contra 620 mil toneladas do período anterior. O Estado é o 2º maior produtor nacional da fibra.
O milho, outro produto importante do oeste baiano, não foi afetado. Segundo Horita, o plantio foi feito antes do período de seca. Já outras partes do Estado registram prejuízos maiores.
Na região do Planalto, de maior representatividade na cultura do café da Bahia, o 4º maior produtor nacional do grão, a situação se agravou no último mês. A Associação de Produtores de Café do Estado, que em março estimava perdas médias de 30% e aguardava a chegada das chuvas, agora contabiliza 50% de quebra em algumas áreas. A estimativa inicial era colher na região 1,3 milhões de sacas.
João Martins, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia, pontua que os pequenos produtores são os mais afetados, especialmente os do centro do Estado. Sem citar números, ele estima que a pecuária bovina de corte e de leite será fortemente afetada. Na sua avaliação, a queda de produção só será recuperada em dois anos e há problema de desabastecimento de leite e de carne nas cidades do interior. “Nós ficamos mais preocupados porque não vemos nenhuma política pública para orientar o pequeno produtor”.
Martins também relata que algumas regiões de fruticultura foram prejudicadas, pois faltou água para irrigação.
José Carlos Oliveira de Carvalho, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Irecê, no noroeste baiano, diz que a região está há mais de 90 dias sem chuva. Segundo ele, o que foi cultivado entre novembro e dezembro do ano passado – feijão, milho, sorgo e mamona – teve perda total. A Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) prevê quebra entre 90% e 95% e observa que o plantio foi bem menor no fim do ano passado já em função de pouca umidade. Foram cultivados com milho, um dos principais produtos do local, 79,25 mil hectares, quando normalmente são plantados mais de 100 mil hectares na única safra do cereal por ano. A região, que já foi uma das maiores produtoras de feijão do país, com mais de cem mil hectares, perdeu espaço nos últimos dez anos e cultivou pouco mais de 23 mil hectares do produto no fim de 2011.
Marco Antônio dos Santos, meteorologista da Somar Meteorologia, acredita que esta é a pior seca nos últimos 30 anos na Bahia. De acordo com ele, todo o Estado vem sendo afetado desde o começo do ano e até agora ocorreram apenas chuvas pontuais, insuficientes para amenizar a situação. Santos alerta que não existe previsão de chuvas significativas para os próximos dias, reforçando um cenário desanimador. O Estado inicia tradicionalmente o período de estiagem, que deve durar até setembro. Chuvas de inverno só ocorrerão mesmo na região leste.