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Grãos

Alta dos grãos em Chicago puxa preços no Sul, mas comercialização no Centro-Oeste segue travada

Diferenças na infraestrutura logística e na disponibilidade de grãos entre as duas regiões geram efeitos distintos no mercado nacional, inundado por uma super-safra nesta temporada

Alta dos grãos em Chicago puxa preços no Sul, mas comercialização no Centro-Oeste segue travada

Em Chicago, os ataques russos em escalada contra a Ucrânia estão impulsionando as cotações de soja, milho e trigo. No entanto, no Brasil, os preços praticados no mercado interno estão reagindo de forma desigual.

Enquanto o Sul do país está experimentando uma valorização, devido à menor oferta e melhor infraestrutura logística, o Centro-Oeste não tem apresentado uma reação significativa. É importante ressaltar que quase metade da produção nacional está concentrada na região do Centro-Oeste.

Especificamente no estado do Mato Grosso, onde se espera uma produção de 99,3 milhões de toneladas, sendo 49,8 milhões apenas de milho, os efeitos da guerra têm sido pouco perceptíveis nos preços.

A comercialização também foi afetada negativamente, apresentando um índice 10,1 pontos percentuais abaixo do registrado no ano anterior. Até o início deste mês, apenas 63,6% da safra havia sido vendida.

“Na verdade, na ponta não mudou muito os preços, ainda estamos falando em milho em torno de R$ 30 a R$ 32 reais a saca e acredito que o produtor, de maneira geral, vai continuar esperando. É a nossa estratégia: guardar dentro dos silos o que a gente consegue até dezembro, que é quando precisaria do espaço pra começar a colheita da soja”, observa o produtor de Lucas do Rio Verde, Tiago Cinpak.

Com capacidade para armazenar apenas metade da sua produção, Mato Grosso vive uma crise logística agravada este ano pelo atraso na comercialização. Com preços abaixo do custo de produção, a safra tem se acumulado não só armazéns, mas também em caminhões, silos-bag e até mesmo no chão, exposto a céu aberto.

“Como acontece historicamente, os preços do milho em Mato Grosso estão sofrendo uma forte pressão do mercado interno, devido ao aumento de milho disponível com a entrada da colheita no estado. Com isso, muitas vezes o preço interno acaba não acompanhando o movimento da bolsa de Chicago”, explica Vanessa Gasch, coordenadora de Desenvolvimento Regional do Imea.

Já no Paraná, o efeito do mercado internacional tem sido mais forte. Com 11% da safra de milho colhida, o Estado espera ampliar ainda mais as exportações frente aos impactos gerados pela saída da Rússia do acordo de grãos do Mar Negro.

“Vimos um grande aumento no comparativo relativo ao último semestre, quando o Estado quase dobrou o volume exportado. Agora, com o choque de oferta do Leste europeu, a tendência é um crescimento ainda maior das exportações”, avalia o economista Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar-PR.

Dados das exportações de milho do Paraná mostram que, de janeiro a junho deste ano, o setor movimentou US$ 458 milhões, contra US$ 255 milhões no mesmo período do ano passado. Com expectativa de safra recorde de 14 milhões de toneladas, o milho está sendo comercializado, em média, a R$ 51 a saca no Estado, frente à média de R$ 44 a saca da semana anterior.

Realidades distintas
 
Segundo Ana Luiza Lodi, especialista em inteligência de mercado de grãos da StoneX, as discrepâncias na exposição das duas regiões às oscilações do mercado internacional podem ser atribuídas a duas principais razões. Por um lado, a região do Mato Grosso apresenta uma oferta significativamente maior, com uma produção que é mais de três vezes superior à do Paraná. Por outro lado, a região Sul se beneficia de uma infraestrutura logística mais desenvolvida em comparação com o Centro-Oeste.

“O Paraná está ali numa região mais próxima do porto, que concentra grandes indústrias de carne, enquanto o Mato Grosso, embora venha avançando no consumo doméstico do milho, está numa região distante dos portos, mesmo do arco norte, que tem ganhado relevância, ainda é uma distância bastante significativa que acaba contribuindo para os impactos serem diferentes”, avalia Lodi.

Cinpak também menciona a logística como um entrave para a valorização da commodity no Estado. “Nosso custo de logística, tanto de armazenagem quanto a de transporte que é praticamente só rodoviário, com todos esses gargalos que o Brasil carrega, esse reflexo do preço internacional no fim não muda nada”, pontua o produtor.

Enquanto isso, no Paraná, até mesmo a soja (cuja colheita já foi finalizada) reage às tensões no leste europeu. Atualmente, o preço da soja no Paraná está em R$ 141 a saca, frente aos R$ 137 da semana anterior. Até final de junho, o preço da soja estava em baixa, com cotação abaixo de R$ 130. Gustavo Ribas Neto, produtor e presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa (PR), comemora a alta dos valores pagos pela soja. “Para as commodities foi bom, deu uma potencializada no preço”, comenta.