Depois da explosão nos preços internacionais dos grãos, que acumularam altas de dois dígitos no último mês, o mercado parece ter feito uma pausa para recuperar o fôlego na primeira quinzena de agosto. Com base nas variações da bolsa de Chicago, referência mundial para a formação dos preços de soja, milho e trigo, houve um recuo generalizado nas cotações desde o fim de julho.
Se, há um mês, o calor e a falta de chuvas no Meio-Oeste dos EUA foram cruciais para a alta da soja, a volta das precipitações e a queda nas temperaturas nos últimos dias naturalmente provocaram o contrário. Assim, a oleaginosa, que rompeu o patamar histórico de US$ 17 por bushel em julho, contabiliza uma queda de 0,66% até 17 de agosto – embora sustente ganhos de 36,27% em 2012 e de 20,41% nos últimos 12 meses, segundo o Valor Data.
As chuvas têm um forte efeito psicológico, mas há dúvidas sobre os benefícios reais às lavouras. “A chuva ajuda a encher os grãos, mas não deve contribuir para formar novas vagens”, explica Vinícius Ito, analista do Jefferies Bache, em Nova York.
O milho, por sua vez, sofreu o impacto de um novo choque de realidade, com o início da colheita. “Muitos analistas que rodam as lavouras dizem que as taxas de produtividade estão realmente muito ruins. E o milho já não se beneficia com as chuvas recentes”, afirma o analista da Jefferies Bache. A tensão com a oferta motivou um ligeiro avanço de 0,25% nesta primeira metade de agosto. Os ganhos somam 23,29% em 2012 e 11,27% em um ano. Os elevados preços, contudo, já contêm a demanda. “O milho tem apresentado sinais de racionamento com preços acima de US$ 8 por bushel”, conclui Ito.
O trigo “descolou” do milho e acumula baixa de 0,89% em agosto. Porém, o cereal registra alta de 33,26% em 2012 e 18,01% em 12 meses. Na avaliação de Renan Gomes, analista da Safras & Mercado, há um movimento de ajuste do cereal, já que os preços subiram muito rapidamente. “Com o recente recuo, grandes importadores, como o Egito, aproveitaram para voltar às compras, o que indica que os preços podem ter elevação ainda maior”, diz.
O trigo também pode se sustentar na quebra da safra na Rússia, devastada pela seca. Há o temor de que o país suspenda as exportações, embora o governo negue que isso esteja nos planos.