Da Redação 06/06/2005 – Na pequena Utica, no Estado americano de Illinois, ele produz milho e soja em uma fazenda de 130 hectares. Em Posse, na divisa de Goiás com a Bahia, acaba de colher sua primeira safra de arroz e vai semear, nos próximos meses, soja e feijão em 1.500 hectares.
A história do produtor americano Jay Fitzgerald seria apenas mais uma entre tantas de estrangeiros investindo em terras no Brasil, não fosse um detalhe. Fitzgerald não quer ser só mais um agricultor dos EUA por aqui. Por isso montou, no fim de 2000, uma filial de sua corretora, a Advance Trading, em Rio Verde (GO), para fazer gerenciamento de risco de preços de grãos com operações de hedging na bolsa de Chicago e na BM&F, e prestar consultoria em agribusiness.
Se em área para produção agrícola os negócios de Fitzgerald no Brasil parecem grandiosos em comparação com os que mantém nos Estados Unidos, no gerenciamento de risco, o empresário ainda busca o seu espaço por aqui.
Nos EUA, a Advance Trading trabalha com cerca de 500 “elevator companies” (cerealistas), três mil produtores e tem 42 filiais. No Brasil, o escritório de Rio Verde atende cerca de 100 produtores. “Começamos como um projeto-piloto e agora estamos prontos para ter novos produtores. Está acontecendo lentamente, é o tipo de negócio que demanda paciência”, reconheceu.
Para Fitzgerald, as operações de gerenciamento de risco de preços – como opções e prêmios – atraem um número ainda restrito de produtores porque são ferramentas pouco conhecidas no Brasil. “É necessário experiência, aprendizado. Nos EUA, esse é um mercado mais maduro, vem se desenvolvendo há mais tempo, mas no Brasil ainda está no estágio de desenvolvimento”. A constatação, contudo, não tira o ânimo do executivo, que planeja abrir escritórios em outros Estados brasileiros, como Mato Grosso, Bahia e Minas Gerais – onde a produção de grãos é crescente.
E, ainda que o número atual de produtores que aposta em operações como as da Advance seja modesto, Jay Fitzgerald acredita que o potencial de crescimento é grande e que as operações locais poderão, no futuro, até mesmo superar as dos EUA. “Lá, os produtores têm crédito disponível e subsídios para ajudar a enfrentar preços baixos. No Brasil, os produtores são muito mais independentes e, na verdade, têm mais riscos do que os americanos”.
Produzir e operar em solo brasileiro pareceu uma opção inevitável para Fitzgerald, que busca dessa forma se proteger dos riscos inerentes à atividade agrícola. “Eu sou um hedger. Estou na produção e no ”business”. Estou no Brasil e nos EUA. Fico triste com os subsídios nos EUA quando estou no Brasil, mas quando estou lá pego meu cheque com o pagamento dos subsídios e fico muito feliz”, admite. “Não gosto de riscos. O Brasil é um hedge para mim”, acrescenta.
O empresário decidiu investir em terras brasileiras depois de várias viagens ao país – na época, ele também negociava a abertura da subsidiária da corretora. A primeira visita foi em 1999, quando trouxe clientes para conhecer as oportunidades da agricultura brasileira. Os tours de produtores, aliás, são outra atividade da Advance Trading, que já trouxe cerca de 500 potenciais investidores para conhecer o setor agrícola do país.
Indagado se esses potenciais investidores têm medo do avanço do Brasil na agricultura, Fitzgerald reconhece que sim. Mas diz que este não é o seu caso. “Eu acredito que há dois tipos de pessoas vindo: os que querem ver seu concorrente e os que querem ver oportunidades. Eu faço parte desse último grupo”, garante ele, que já investiu US$ 2 milhões na fazenda de Posse, na qual tem outros três sócios americanos.
O produtor afirma que a atual fase da agricultura brasileira o faz lembrar o que ocorreu nos Estados Unidos nas décadas de 60 e 70, quando a atividade vivia um “boom” e indicava um “futuro brilhante”. O avanço da demanda mundial por soja também estimulou o investimento no Brasil, de acordo com Fitzgerald – que acredita que a produção brasileira tem potencial para aumentar acompanhando o avanço do consumo do grão.