O impasse fiscal nos Estados Unidos e a consequente paralisação de parte do governo deixaram o maior mercado de commodities agrícolas do mundo praticamente no escuro.
Desde o começo do mês, tradings, processadoras, produtores rurais e fundos especulativos não têm mais qualquer informação oficial sobre a oferta e demanda de grãos e carnes no país.
Restrito às suas funções essenciais, o Departamento de Agricultura (USDA) suspendeu a divulgação de seus indicadores sobre a evolução semanal da colheita e das exportações de grãos.
O órgão também adiou a divulgação, programada para sexta-feira (11), de seu famoso relatório mensal de oferta e demanda – divulgado de maneira ininterrupta há exatos 40 anos -, com suas estimativas sobre produção, consumo, exportação e estoques globais de diversos produtos agropecuários.
A edição de outubro do relatório de oferta e demanda era amplamente aguardada pelo mercado após meses de forte especulação sobre o tamanho da nova safra americana.
“Estamos operando às cegas”, afirma Daniel D’Ávila, analista de commodities da corretora Newedge USA, em Nova York. “O volume de negócios caiu consideravelmente nos últimos dias, ninguém quer assumir riscos até que tenhamos alguma definição”.
O mercado também perdeu qualquer referência de como os fundos de investimento que especulam com futuros agropecuários estão se movimentando, já que a Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC) também suspendeu a divulgação de seu relatório semanal com a posição dos traders nas bolsas.
Uma consequência desse cenário é a estabilidade dos preços em um período sazonalmente volátil. Desde o início de outubro, a cotação da soja para entrega em janeiro acumula uma variação (negativa) de apenas 0,71%. Já o milho para entrega em março está rigorosamente estável na mesma comparação.
A exceção é o trigo, que acumula alta de 2,4% nos contratos para março – neste caso, devido às notícias vindas da Rússia e da Ucrânia, que enfrentam problemas climáticos e devem colher menos neste ano.
“O mercado se sente órfão sem essas informações”, afirma Steve Cachia, analista de commodities da Cerealpar, no Paraná. Segundo ele, os traders têm se apegado às análises gráficas de preço para operar grãos no mercado futuro.
Cachia pondera, entretanto, que o volume de negócios no Brasil foi relativamente pouco afetado, uma vez que o país está na entressafra. “Nos Estados Unidos, o impacto foi muito maior”.
No segmento de carnes, as consequências são ainda mais sérias. Desde o dia 1º, o USDA parou de apurar os preços médios diários dos suínos vivos no mercado físico americano. Sem sua principal referência, criadores e companhias como Tyson Foods e Cargill foram obrigados a apelar a fontes alternativas – e menos confiáveis – para balizar seus negócios.