Pela segunda safra consecutiva, a produção de trigo deverá crescer no Brasil. Segundo analistas consultados pelo Valor, a expansão da área plantada na safra 2009/10 poderá alcançar entre 5% e 10% na comparação com o ciclo anterior, para até 2,4 milhões de hectares. Mas, ainda que o avanço seja confirmado, o país seguirá fortemente dependente de importações, que tendem a representar praticamente metade da demanda nacional.
A expansão da área reflete os bons preços do cereal no mercado internacional, segundo Élcio Bento, analista da consultoria Safras&Mercado, cuja projeção já leva em consideração os efeitos da estiagem no Sul do país. A colheita na safra 2008/09 ficou em 6 milhões de toneladas, 54% mais que em 2007/08. Para 2009/10, a produção deverá atingir até 6,2 milhões de toneladas, de acordo com estimativas ainda preliminares da Safras. Para isso, o plantio deverá ocupar 2,44 milhões de hectares.
“A oferta de trigo poderá ser maior ou menor, dependendo do rendimento das lavouras”, afirmou Bento. Em 2008, a produtividade no Paraná bateu recorde (2,820 mil quilos por hectare).
A Conab, entretanto, trabalha com números mais conservadores. A área prevista pelo governo é de 2,43 milhões de hectares, com um aumento de apenas 0,5%. Por causa do clima, indica a Conab, a produção deverá diminuir 9,2%, para 5,45 milhões de toneladas.
O Paraná, maior produtor do país, já começou o plantio, mas por causa da estiagem os trabalhos estão atrasados, como também notou o ministro da Agricultura, Reinhold Stepahanes. “A boa notícia é que os produtores do Estado têm mais 15 dias para esperar o tempo melhorar”, afirmou Bento. No Rio Grande do Sul o prazo é maior, de 30 dias, para que o plantio não seja afetado.
As cotações do trigo no Paraná estão entre R$ 530 e R$ 550 a tonelada, 30% menos sobre igual período do ano passado. No Rio Grande do Sul, a tonelada sai a R$ 450, também 30% inferior ao praticado no mesmo período de 2008. “As cotações estão abaixo do mesmo período de 2008 porque naquela época os preços ainda refletiam a quebra da safra mundial”, observou Bento.
Depois de um período crítico de preços estagnados, principalmente no último trimestre do ano passado, as cotações no mercado interno voltaram a subir, sobretudo a partir do primeiro trimestre deste ano, por conta da quebra da safra da Argentina, principal fornecedor de trigo para o Brasil.
A boa notícia para os produtores de trigo é que os custos de produção nesta próxima safra estarão cerca de 5% mais baixos em relação ao ciclo anterior. A maior oferta do produto deverá manter as importações do trigo nos mesmos patamares de 2008/09, quando foram adquiridos cerca de 5,8 milhões de toneladas.
Os EUA, maiores exportadores mundiais do cereal, vão responder, segundo o Departamento de Agricultura do país (USDA), por 21% do total das vendas mundiais do cereal no atual ano-safra (2008/09), que se encerra neste mês. Segundo a Bloomberg, é a menor participação do país no mercado internacional desde o início da série histórica do USDA, em 1960. O pico foi de 50%, em 1974. O departamento americano estima que a produção do país corresponderá a 9,9% da safra global em 2008/09, menor fatia desde 2004.
Com isso, produtores de Ucrânia e Rússia avançam. O governo brasileiro chegou a cogitar a importação do produto desses dois países, mas nenhum embarque ainda foi confirmado. As exportações dos EUA devem atingir 27 milhões de toneladas na safra 2008/09, recuo de 21,5% o ciclo anterior. Os embarques da Rússia estão estimados em 16,5 milhões de toneladas, 35% maior que o do ano anterior, e os da Ucrânia vão disparar para 11 milhões de toneladas, ante 1,24 milhão de toneladas do ano passado, segundo o USDA.