O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) surpreendeu analistas e traders e elevou de maneira expressiva sua estimativa para a área plantada de milho no país na temporada 2012/13, cujo plantio começará a ganhar ritmo neste mês. O órgão, que tem status de ministério, também contrariou a expectativa que dominou o mercado nas últimas semanas e não elevou sua projeção para a área de soja.
Conforme o USDA, os agricultores americanos vão semear 38,8 milhões de hectares com milho na nova safra, 4,3% mais que na anterior e 2% acima da projeção extraoficial que divulgou em fevereiro. Na ocasião, o órgão sinalizou incrementos para milho (2,1%) e trigo (3,5%) e manutenção para a soja. Agora, a área da oleaginosa foi revista para 29,9 milhões de hectares, 1,3% menos que em 2011/12, e a de trigo foi dimensionada em 22,6 milhões de hectares, 2,7% a mais do que ciclo anterior.
Em larga medida, a valorização da soja no mercado internacional no primeiro trimestre, motivada sobretudo pela quebra da produção na América do Sul e pela forte demanda da China, alimentou apostas de que o primeiro cenário traçado pelo USDA poderia ser revisto para admitir mais espaço para a oleaginosa. Essa expectativa provocou quedas de preços nos últimos dias na bolsa de Chicago.
Mas, diante dos novos números do USDA, os preços da soja dispararam na sexta-feira e alcançaram o maior patamar em seis meses. Os contratos futuros com vencimento em julho, que atualmente ocupam a segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez), encerraram a sessão negociados a US$ 14,0825 por bushel, ganho de 47 centavos de dólar (3,45%) em relação à véspera. Com isso, esses papéis passaram a acumular alta de 16,6% em 2012, segundo o Valor Data. Nos últimos 12 meses, a variação passou a ser positiva (1,84%).
Segundo Steve Cachia, analista de commodities da Cerealpar, a alta dos preços da soja ainda pode convencer produtores americanos a rever seus planos para a safra 2012/13. “Os números de plantio ainda vão mudar nos próximos meses”, garante. Isso desde que o milho não acompanhe a tendência, já que a disputa por área plantada é mais acirrada entre as duas culturas. Na dúvida, por uma questão de tradição e vocação, a maioria dos produtores americano costuma optar pelo cereal em detrimento da oleaginosa.
Diferentemente do que poderia esperar quem viu apenas os dados sobre área plantada, as cotações do milho também subiram forte em Chicago na sexta-feira. Mas impulsionadas por números de outro relatório do USDA, o de estoques de grãos do país em 1º de março. O levantamento não trouxe novidades no caso da soja – o volume foi mantido em 3,7 milhões de toneladas, 9,8% mais que um ano antes -, porém trouxe um número menor que o aguardado para o milho (15,3 milhões de toneladas, 7,8% menos que em de março de 2011).
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Assim, os futuros de segunda posição de entrega (julho) da commodity encerraram a semana passada a US$ 6,4325 por bushel, alta de 39,5 centavos de dólar (6,54%) sobre quinta-feira. Em 2012, a variação acumulada ainda é negativa (1,76%), e nos últimos 12 meses a retração é de 4,14%. Para Flávia Moura, analista da corretora Newedge USA, baseada em Nova York, o número de estoques do USDA deve dar sustentação aos preços do milho até a colheita da próxima safra, no terceiro trimestre. “Se nós pensarmos em 2013, a tendência neste momento é de baixa”, diz.
Vinicius Ito, analista do Jefferies Bache, em Nova York, chama a atenção para a ampliação do diferencial entre os preços do milho no curto e no longo prazo. Os contratos para entrega em julho fecharam a sexta-feira com um “ágil” de US$ 1,03 por bushel em relação aos contratos para entrega em dezembro, quando os Estados Unidos já terão milho da promissora safra nova. Segundo ele, trata-se de um dos spreads mais altos já registrados nesse mercado. “O mercado está, de maneira muito evidente, tentando racionar a demanda no curto prazo e ‘empurrá-la’ para a próxima temporada”, explica.
No mercado de trigo, a área plantada prevista pelo USDA para a produção da primavera ficou um pouco abaixo das expectativas, e os estoques não causaram muito espanto. Mas as disparadas de milho e soja deram impulso ao cereal, que subiu ainda mais. Os contratos com vencimento em julho fecharam a US$ 6,74 por bushel, ganho de 46,75 centavos de dólar (7,45%) em relação à véspera. Conforme o Valor Data, com o salto a variação acumulada em 2012 passou a ser positiva (0,41%), e a queda nos últimos 12 meses diminuiu para 11,69%.