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Argentina atingirá 100 milhões de toneladas de grãos em 2008

<p>Os analistas mais otimistas previam, no ano passado, que a Argentina colheria 90 milhões de toneladas de grãos em 2010. Erraram feio. O País já atinge 94 milhões de toneladas neste ano e pode bater os 100 milhões já em 2008.</p>

Redação (26/06/07) –  O crescimento foi rápido, já que na safra 2004/5 a produção total do país era de 76 milhões de toneladas. A conta é simples. O boom energético acelera a produção de milho e a previsão é que o país tenha mais 700 mil hectares de plantações destinados ao grão no próximo ano. A alta produtividade do milho no país elevaria a safra total para um patamar próximo de 100 milhões de toneladas.

Como ocorre no Brasil, esse avanço dos grãos causa rearranjo nos campos argentinos. O valor das terras disparou e chega a US$ 10 mil por hectare, enquanto o arrendamento está em US$ 320 por hectare por 12 meses. Assim, só fica no campo quem for muito eficiente. Com isso, a pecuária está sendo empurrada cada vez mais para o Norte do país, região menos apropriada para a atividade.

Esse cenário faz com que algumas previsões indiquem que o tradicional poder de fogo do vizinho nos setores de carne e de leite deva entrar em declínio rapidamente. O avanço argentino no setor de grãos tem várias origens, segundo Mário Bragachini, do Inta (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária), a Embrapa argentina. Um dos pontos principais, destaca o engenheiro agrônomo, é o uso de tecnologia, que torna a produção mais eficiente e com custos menores. Outro ponto é a inserção na globalização, que, se socialmente não é boa, economicamente é.

Essa globalização provoca a necessidade de utilização das tecnologias mais avançadas do mundo para que o produtor se mantenha em ambiente competitivo, diz Bragachini. O produtor é obrigado a utilizar agricultura de precisão, com o uso de monitor de rendimento (controle de produção por área) e biotecnologia.

A terceirização na agricultura é outro ponto favorável para a obtenção de lucros. Pelo menos 50% da produção de grãos na Argentina está nas mãos de gente que não é do campo, criando a necessidade de terceirização em todas as atividades. Eles chamam os prestadores de serviço de ””contratistas””.

Ao contrário do que ocorre no Brasil, a participação do produtor argentino é restrita no campo: a terceirização está presente em 70% da colheita, 60% da pulverização das lavouras e 40% do plantio. ””Essa é a raiz da eficiência, porque o custo de produção é muito baixo, chegando a 8% do valor do produto, já incluída a entrega [na unidade receptora]””, afirma Bragachini. A terceirização traz outra vantagem ao produtor, já que o uso contínuo das máquinas obriga o ””contratista”” a trocá-las constantemente e a absorver as tecnologias mais recentes.

Outro fator de renda para os agricultores argentinos são os baixos custos, devido às terras férteis, ao plantio direto, a combustíveis com preços controlados no momento e ao uso de sementes transgênicas. Tem ainda, é claro, o câmbio bastante favorável em relação ao Brasil.

Nos cálculos do Inta, o custo de produção de soja dos argentinos é de 2.600 quilos por hectare na região denominada ””Pampa Úmida””, com terras mais férteis; 6.000 para a produção de milho e 2.000 quilos para a de trigo. A produtividade média do país nesta safra 2006/7, incluindo as áreas menos férteis, está sendo de 3.000 quilos por hectare para a soja; 8.000 quilos para o milho e 2.600 quilos para o trigo. Mas a globalização da produção, o avanço da tecnologia e o encarecimento das terras já fizeram suas vítimas. Nos últimos 15 anos, desapareceram 100 mil produtores na Argentina. Os principais problemas ocorreram no setor de leite, cujos produtores perderam competitividade, diz Bragachini.

E a vida do produtor na Argentina também não é fácil. Enquanto no Brasil há financiamento para o produtor, no país vizinho o crédito é dado para o prestador de serviços (o ””contratista””) comprar máquinas e equipamentos. Lá, como aqui, os impostos são pesados, com o agravante de que o governo argentino estipula uma cota de retenção de produtos que chega a 27%. Há uma grande diferença também nos juros, que são de 14% ao ano para os produtores argentinos.