Depois de perder em 2013 o posto de maior fornecedor de trigo ao Brasil para os Estados Unidos, a Argentina deverá voltar ao topo da lista em fevereiro. Em meados de janeiro, o país vizinho começou a liberar embarques do cereal e tende a encerrar o mês, hoje, com uma participação superior a 60% no volume importado pelo Brasil.
O cereal americano, contudo, não deverá sair de cena, mesmo com o ônus de 10% da Tarifa Externa Comum (TEC) cobrada para a importação feita de fora do Mercosul. Devido a mais um ano de safra magra na Argentina, a tendência é que o trigo dos EUA mantenha forte presença no mercado brasileiro.
Segundo dados da agência marítima Williams, do total de 367 mil toneladas de trigo programadas para entrar no país entre os dias 1º e 28 deste mês, pelo menos 235 mil toneladas, ou 64%, devem vir da Argentina. Outras 108,6 mil toneladas ainda serão do cereal americano – contratado antes de a Argentina anunciar a autorização para embarques, em meados de janeiro – e 64 mil toneladas de trigo do Uruguai.
O país vizinho, tradicional fornecedor de trigo ao Brasil, só autorizou o embarque da sua nova safra em meados de janeiro deste ano, com quase um mês de atraso em relação à expectativa inicial do mercado. Diante da insegurança estabelecida por esse atraso, os moinhos no Brasil continuaram fechando contratos de compra de trigo americano, mesmo com a volta da cobrança da TEC, explica Lawrence Pih, presidente do brasileiro Moinho Pacífico, um dos maiores da América Latina.
Ainda assim, o volume liberado para exportação pela Argentina este ano foi, até agora, de apenas 1,5 milhão de toneladas, sendo 1 milhão para embarque imediato – 500 mil toneladas foram liberadas em meados de janeiro, e ontem o país autorizou o embarque de mais 500 mil. No ciclo passado, a Argentina liberou exportações de 5 milhões de toneladas do cereal – volume considerado excessivo pelo governo, pois meses depois faltou trigo no país.
O setor moageiro no Brasil acredita que outras 1 milhão de toneladas ainda serão autorizadas para embarque ao longo de 2014 pela Argentina. Ainda que isso aconteça, é evidente que a oferta no país vizinho não será suficiente para atender à demanda do Brasil, o que abrirá um grande espaço ao trigo americano.
O presidente do Moinho Pacífico estima que, do total de 7 milhões de toneladas que o Brasil deverá importar da commodity em 2014, pelo menos 3 milhões de toneladas ainda serão dos Estados Unidos, mesmo com o pagamento da TEC, que torna o trigo americano mais caro.
Neste momento, segundo Pih, a tonelada do cereal dos Estados Unidos vale US$ 310 e chega ao porto de Santos (SP) a US$ 395, após custos com frete, TEC e taxa de para renovação da marinha mercante (40% sobre o valor do frete). O cereal argentino, que custa US$ 340 e sobre o qual não incidem esses encargos, chega ao porto paulista a US$ 365 por tonelada.
Em 2013, o Brasil, que é um dos maiores importadores de trigo do mundo, trouxe dos Estados Unidos 47% (ou 3,4 milhões de toneladas) do total de 7,2 milhões de toneladas que importou do cereal. Para não pressionar a inflação, o governo isentou de TEC a importação de fora do Mercosul até novembro de 2013.