A indústria de aves do Brasil discute com o governo a realização de leilões específicos para viabilizar o transporte do milho barato de Mato Grosso até a região Sul do país, onde estão grandes consumidores do cereal usado na produção de frangos, disse nesta segunda-feira o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
Representantes do setor discutirão o assunto na terça-feira (hoje) com o Ministério da Agricultura, dando continuidade a negociações iniciadas na semana anterior.
“Há milho suficiente (no país), o que está havendo é uma falta de leilões para o Sul, porque aqui escoamos a maior parte pelo porto do Rio Grande (RS), e necessariamente haverá necessidade de ‘importar’ de Mato Grosso”, disse à Reuters Francisco Turra.
O governo, por meio de leilões de prêmio de escoamento (Pepro), tem subsidiado o transporte de milho, especialmente de Mato Grosso, mas quem tem se benefiado por ora é o setor exportador. Com o sistema, é garantido um preço mínimo ao agricultor, desde que o transporte seja feito para as regiões indicadas no edital.
O governo precisa criar uma política para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os maiores produtores de carne de frango do país, disse Turra, que esteve na última sexta-feira com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, para relatar o impasse vivido pelo setor na região.
Segundo ele, os dois Estados juntos precisariam de cerca de 700 mil toneladas para atender à avicultura local no curto prazo, visando atender a demanda antes da chegada de cereal da safra nova, no começo do próximo ano.
“É urgente que se promovam leilões aqui”, disse Turra.
O programa do governo visa dar sustentação aos preços do produto, em benefício do agricultor, após uma safra recorde do cereal do Brasil, mas a indústria reclama que seus negócios estão sendo afetados, diante de preços mais altos da matéria-prima, em algumas regiões, como o Sul.
“O preço do milho está subindo aqui (RS), e como o preço do farelo de soja está subindo bastante… tem uma preocupação do setor, não é apenas com o milho. Precisa de uma política de regulação para o setor”, disse.
Ele observou que o preço do milho em Mato Grosso está em 12 reais por saca, bem abaixo dos 27 reais a 28 reais registrados em média no Rio Grande do Sul, disse Turra, citando levantamento da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
Na terça-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fará um leilão de Pepro para apoiar o transporte de 700 mil toneladas, mas o certame exclui a entrega do cereal para os Estados do Sul.
“Este leilão não nos atende, e é por isso que nós reclamamos… ciente deste leilão, da exclusão do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, é que o setor reclamou (para o governo)”, disse Turra.
O diretor-executivo da Asgav, Eduardo Santos, considera que este volume de 700 mil toneladas seria suficiente para suprir o mercado local até a entrada da próxima safra.
Segundo ele, os representantes terão reunião na terça-feira com o secretário de Política Agrícola, na qual vai pedir a realização urgente de um leilão para a próxima semana.
“Estamos em fase avançada… Isso daria uma acalmada nos ânimos. É inconcebível ter milho lá em Mato Grosso com produtor precisando vender, e nós aqui dependendo de uma política agrícola”, comentou.
Exportação
Do lado da exportação, o setor de carne de frango está atento aos desdobramentos no mercado chinês. Turra observou que há a expectativa de habilitação de mais cinco plantas com permissão para exportar à China.
“Há tempos nós esperamos a confirmação… Mas agora com a mexida que foi dada lá pela CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária) e pelo vice-presidente da República (Michel Temer), a promessa foi de que teremos a habilitação destas cinco unidades”, disse Turra.
Com a medida o número de plantas habilitadas poderia chegar a 29 plantas, elevando o potencial de exportação brasileira de carne de frango a 230 mil-240 mil toneladas/ano.