Redação (16/12/2008)- Os investidores que atuam na Bolsa de Chicago andam ignorando os fundamentos que costumavam direcionar as cotações de commodities como milho e soja. Bom exemplo disso foi o relatório de oferta e demanda que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgou na manhã da quinta-feira passada.
O USDA fez um corte profundo na estimativa de uso de milho para etanol, reduziu as exportações e, com isso, aumentou os estoques norte-americanos de 28,5 milhões para 37,4 milhões de toneladas, um avanço de 31% em um único mês. O cereal tinha tudo para desabar. Mas, influenciado por outros mercados e por compras técnicas, subiu até 11,25 pontos. Para a soja, o órgão reduziu a previsão de esmagamento dos EUA na temporada 2008/09. Mas, como houve um pequeno incremento na estimativa de exportações, que compensou a queda no esmagamento, o consumo total e os estoques finais acabaram ficando inalterados. No quadro mundial, a única alteração digna de nota foi a redução da safra do Brasil, que passou de 60 para 59 milhões de toneladas. Resultado: influência zero sobre o mercado da soja.
No entanto, a oleaginosa também subiu no pregão daquela quinta-feira. O que deu fôlego às cotações da soja e do milho foi o desempenho excepcional do petróleo, que subiu 10,3% e voltou para US$ 47,98, e a perda de fôlego do dólar, que recuou 2,1%. Por trás disso tudo, movimentos de correção técnica, a expectativa de um corte profundo na produção dos países da OPEP, que se reúne nesta semana, e a melhora de humor com a aprovação, pela Câmara dos Deputados dos EUA, da ajuda bilionária às montadoras.
Ocorre que, na noite da mesma quinta-feira, o Senado vetou o socorro às gigantes da indústria automobilística. Por isso, voltando à soja, é importante lembrar que as altas da semana passada foram, em boa medida, reação à nova mínima do ano na primeira semana de dezembro, de US$ 7,7625 no contrato jan/09. O movimento já era esperado e vinha sendo reforçado pela influência positiva de outros mercados. E é aí que mora o problema, já que o comportamento dos investidores em tempos de crise é absolutamente bipolar, indo da euforia à depressão em minutos, independentemente dos fundamentos.